segunda-feira, 31 de maio de 2010

Carta do Dia: 5 DE OUROS

     Minor-Discs-05Vaudeville As duas primas não conseguiam esconder a excitação e entraram no circular às gargalhadas. Tinha sido um dia bastante tenso, mas cheio de grandes recompensas. Quando ela poderia ter imaginado, ainda no interior do sertão, na casa do sítio onde sempre morara, que 24 horas após ter chegado a um outro estado, a uma outra cidade, sem nenhuma referência ou formação específica, iria estar trabalhando naquilo que mais amava e, ainda por cima, ganhando “uma fortuna”! Era muita sorte, muita mesmo. Queria poder ligar para a irmã mais velha, agora tão distante, e contar tudo o que estava lhe acontecendo.

     O ônibus ia desviando de carros e pedestres que, àquela hora, lotavam as ruas e todas as formas de veículo possíveis de trafegar por elas. Mas, nem o aperto, nem os esbarrões sofridos, nem o ter que fazer uma verdadeira ginástica para poder se acomodar no exíguo espaço, enquanto os outros passageiros se amontoavam sobre ela, a incomodaram. Com a prima fazia planos para o dia seguinte e pensava em levar algumas coisas, como uma especialíssima pimenta que havia trazido para a tia, para incrementar o sabor do prato que pretendia preparar. Somente quando desceram no ponto, próximo à casa da tia, é que a prima percebeu, espantada, que sua bolsa estava aberta.

     Apesar das palavras consoladoras da tia e das primas, chorou muito quando voltou, tarde da noite, da delegacia onde fora fazer o Boletim de Ocorrência sobre o furto que sofrera. Além de levarem todo o seu dinheiro ganho naquele dia e as economias que havia trazido de sua terra, levaram, na carteira, seus documentos. Na delegacia, a frieza profissional da pessoa que a atendeu deixou-a ainda mais frustrada. Ainda que situações como aquela pudessem acontecer às dúzias, todos os dias, era ela quem era a vítima, não uma estatística apenas, mas um ser humano que perdera tudo o que possuía, inclusive as provas legais de sua existência. Eram dela os documentos desaparecidos e, sabe lá Deus, nas mãos de quem pudessem estar nesse momento. Nem seu nervosismo, nem suas lágrimas pareciam abalar o ar cansado e distante do atendente. Ela não podia acreditar que as pessoas não se importassem com o sofrimento das outras. Como aquele atendente podia ser tão frio, tão distante, tão mecanicamente alheio ao seu problema? E, qual a solução que ela poderia esperar? Por que ninguém lhe dizia nada de esperançoso?

     Apesar do enorme cansaço físico e do esgotamento emocional, demorou muito a dormir. Pensava em tudo o que a irmã lhe dissera sobre a cidade grande, sobre os perigos, sobre os crimes, sobre a insegurança, sobre a distância entre as pessoas, todas com medo umas das outras. Lembrou-se de cenas de telejornais e de programas de TV que apresentavam e discutiam a criminalidade urbana dos grandes centros. Parece que ouvia, mais uma vez, os comentários do pessoal da vila falando de Fulano e de Beltrano que foram feridos, roubados, espancados ou desapareceram no turbilhão anônimo da metrópole. Teve pena de si mesma. As lágrimas escorriam-lhe, molhando o travesseiro, enquanto ela pensava no que fazer. Não tinha nada, nem uma moeda. Perdera todo o seu dinheiro. Não tinha nem como pagar o ônibus para, no dia seguinte, voltar ao trabalho. Pior, não tinha como ajudar a tia nas despesas. E os documentos? Precisaria de dinheiro para obter as segundas vias. Mas… que dinheiro?

     Sentiu-se, pela primeira vez, culpada por não ter dado ouvidos aos apelos da irmã. Repassou, pela milionésima vez, a viagem no ônibus municipal, de volta à casa da tia, tentando lembrar-se de algum movimento, de algum esbarrão diferente, de alguma coisa à qual ela deveria ter dado mais atenção e que fora exatamente o momento em que tivera a bolsa aberta e sua carteira roubada. Culpou-se do fato de não ficar mais alerta, mais “ligada”, de prestar mais atenção ao seu entorno e, em especial, às pessoas estranhas… Não se conformava com a atitude distante, de pouco interesse com a sua má-sorte, que o atendente que registrou sua queixa demonstrou. Sentiu-se envergonhada, perante a tia e as primas, da sua “inocência”, da sua falta de cuidado com os seus pertences, que certamente iriam atribuir isso ao fato dela ser uma caipira, que sempre vivera no interior, que não tinha o preparo e a malícia necessárias para sobreviver na metrópole. Uma otária, isso sim é o que ela era.

     A claridade da manhã começou a atravessar a cortina do quarto num prenúncio de mais um dia. Dentro dela, o frio da noite ainda se fazia sentir na alma. Ouviu os primeiros barulhos da rua e da casa. Levantou-se sem fazer nenhum barulho que pudesse acordar as primas.

     Quando o 5 de Ouros aparece numa leitura de tarot, dependendo sempre da sua localização entre as demais cartas e da questão proposta pelo Consultante, pode significar um estado de desolação, de perda de coisas materiais. Um período de dificuldades em obter ou lidar com o dinheiro. Pode, em determinadas situações, representar uma saúde que requer cuidados. Quase sempre é o reflexo da ansiedade e preocupação do Consultante a respeito da possibilidade de empobrecimento. Preocupações extremas. Um retrocesso. Emoções negativas bloqueando a evolução do Consultante. Medo do que está por vir. Problemas no trabalho, nos negócios e perda de status. Orgulho impedindo a aceitação de ajuda. Sentir-se desprotegido, abandonado, à mercê de um destino cruel. Não conseguir abrigo, proteção ou cuidados necessários. Perder o pouco que ainda restava.

     Quando o 5 de Ouros aparece bem posicionado numa jogada, a situação praticamente se inverte pois ele pode estar simbolizando que a situação começa a melhorar. Alguns progressos se fazem notar. Aquilo que foi semeado começa a brotar, a dar sinal de vida e de uma futura colheita. Algo que surge, como que por encanto, e que lhe dá possibilidades de melhorar a situação atual. O medo e o sofrimento a respeito das perdas sofridas começa a diminuir. A possibilidade de uma nova oportunidade surge no horizonte.

     Nesta segunda-feira, dia regido pela Lua que se encontra em sua fase Cheia transitando por Capricórnio, podemos dispor de uma energia que nos estabiliza emocionalmente, que ajuda a que nos reequilibremos, sempre procurando o “caminho do meio”. Devemos evitar desgastarmo-nos com preocupações fantasiosas sobre o futuro e, sim, dedicarmos nosso tempo, foco, e energias na solução dos problemas do dia a dia, à medida que vão se manifestando. A ansiedade é uma péssima conselheira e precisa ser entendida e controlada, pois só assim poderemos estar aptos para as recompensas futuras.

     Iniciem a semana seguros de si, vivendo o presente, no momento  presente, e tenham todos um ótimo dia!

Imagem: VAUDEVILLE TAROT, de F.J. Campos

domingo, 30 de maio de 2010

Carta do Dia: 4 DE OUROS

Minor-Discs-04vaudeville      O prolongado trimmmmmm do despertador a fez abandonar os sonhos e levantar-se de um salto, para o novo dia que se infiltrava pelas cortinas do quarto. As primas também já se alternavam no vestir-se, tomar o café da manhã e verificar se a tia havia passado bem à noite. Em minutos já estavam em seus respectivos coletivos a caminho do trabalho.

     No percurso, entre o subúrbio e o bairro mais chique, caro e fotografado da cidade, a prima ia contando sobre os patrões, sobre o funcionamento do apartamento, o tipo de comida que gostavam, quantas pessoas haviam para serem alimentadas, as manias de um, as dificuldades de outros, sobre as outras empregadas, motorista, as normas do condomínio, enfim, um verdadeiro breviário para que ela se inteirasse o mais rapidamente possível sobre o serviço. Ela ouvia atenta, ainda que algumas vezes seu olhar se desviava para fora da condução e admirava paisagens, reconhecia praças e monumentos que já havia visto em telejornais ou programas de TV. A grande cidade a encantava e, de alguma forma inexplicável, sabia que aquele era o seu verdadeiro lugar.

     Quando abriram a porta de serviço do apartamento, ela ainda estava boquiaberta com o tamanho e luxo do edifício. Os porteiros uniformizados, os seguranças vestidos como naqueles filmes que ela assistia lá no interior. A quantidade enorme de câmeras vigiando todos os movimentos das pessoas que lá moravam e dos visitantes. Havia deixado uma cópia de sua carteira de identidade na portaria principal, pois, ninguém estranho era admitido ao interior do prédio se não o fizesse. Mas, se o tamanho e a beleza do edifício a deixara boquiaberta, o efeito completou-se ao ver o tamanho da cozinha e a maneira que era equipada. Ela tinha a impressão de ter entrado no lugar errado, talvez no cenário de um famoso programa matutino da TV, onde a apresentadora faz doublé de culinarista. Tudo era branco demais, com um imenso fogão em aço escovado que combinava com as 2 geladeiras, o forno de micro-ondas, a bancada de trabalho, a máquina de lavar pratos, e mais uma parafernália que ela nem conseguia identificar.

     Rapidamente vestiu o uniforme que a prima lhe cedeu e em minutos era apresentada à dona da casa, uma senhora ainda bastante jovem, de olhar triste, que lhe fez diversas perguntas e contou-lhe alguma coisa básica sobre a rotina da casa. Em seguida, pediu a ela que fizesse um levantamento do que havia na grande dispensa, dentro das geladeiras e freezers e preparasse uma lista com o que seria necessário comprar. Mas antes, pediu que preparasse o café da manhã, pois os filhos já estavam saindo para a faculdade. Rapidamente ela preparou umas panquequinhas típicas do pessoal da fazenda, que serviu com mel e geléias, acompanhadas de um suco de laranja e, como ninguém havia comprado, ainda, o pão, fez torradas cobertas de queijo ralado derretido e, junto com o café e leite, serviu a mesa.

     A prima veio eufórica, minutos depois, dizer-lhe que o pessoal da casa “amou” o que ela havia preparado! Que bom, pensou, enquanto preparava a lista de compras. Foi então a vez dela conhecer melhor os demais funcionários da casa, enquanto tomavam o seu café da manhã e não pode deixar de ficar impressionada com um rapaz de terno e olhar risonho, como no sonho da noite anterior, que se apresentou como o motorista da família. Trocaram poucas palavras e ela sentiu-se enrubescer.

     Chegaram, então, os 4 seguranças que trabalhavam para os patrões e que acompanhariam, num outro carro, os filhos que estavam saindo para a faculdade. O tempo todo falavam em seus fones, trocando informações pertinentes ao trânsito, à melhor rota. Uma verdadeira operação de guerra. Quando saíram e sobrou um tempinho, a prima correu para contar-lhe que o rapaz,  filho do casal, havia, há alguns anos, sido sequestrado e que aquela experiência tinha sido completamente transformadora na vida da família. O rapaz sofria, até hoje, de um profundo trauma e, tanto os pais como os filhos, passaram a viver praticamente enclausurados, dentro de uma gaiola dourada. Não se locomoviam, de forma alguma, pela cidade, se não fossem acompanhados pelos seguranças. Ninguém trabalhava no apartamento que não fosse conhecido, tivesse uma ficha policial impecável e viesse com diversas recomendações de fontes que eles confiassem.

     Quando a patroa chamou-a para levar café puro ao escritório, ela teve oportunidade de conhecer uma parte do apartamento. Nunca, nem nas novelas de TV, nem nas revistas que tivera a oportunidade de folhear, vira nada tão bonito, tão bem arrumado, tão harmonioso, com uma aparência de bom gosto e riqueza. Ela podia ver as palavras luxo, poder, dinheiro, qualidade escritas em cada um dos móveis, quadro, enfeites, tapetes, lustres que decoravam aquele lugar. Tudo lindo demais, impecável demais. Então, enquanto servia o café para a senhora, foi respondendo às perguntas básicas sobre quem era, de onde viera, o real grau de parentesco com a tia, por que havia vindo morar num lugar tão longe de suas raízes, o que ela pretendia, se iria ficar ou se era apenas uma temporada, etc e tal. Terminado o questionário, que fora interrompido duas ou três vezes por telefonemas dados pela patroa para os celulares dos filhos e dos seguranças para saber se estava tudo bem, ela falou do salário, de horários e obrigações e de outras coisas básicas sobre o trabalho e avisou que teria 5 amigas para almoçar, mais tarde.

     De volta à cozinha ela aguardou o motorista chegar para ir ao supermercado fazer as compras, enquanto começava a preparar o que era possível com aquilo que tinha às mãos no momento. Sua criatividade a ajudou, num instante, a montar um cardápio saboroso e ao mesmo tempo com um misto de sofisticação e exotismo. Sabia que a primeira impressão é normalmente aquela que permanece e ela estava completamente empenhada em impressionar e cativar seus patrões.

     Compras feitas, voltou sentada ao lado do motorista, que também crivou-a de perguntas, querendo saber o que ela fazia quando morava no sítio, como era a vida por lá, como se divertia, se tinha namorado, quanto tempo iria ficar na cidade, se pretendia continuar morando com a tia, e tudo o mais que as pessoas fazem para puxarem assunto e saberem das outras rapidamente. O tempo todo, porém, estava atento se os vidros e as portas do carro (blindado, ele contara) estavam bem travados e, a cada parada numa luz vermelha, ele ficava tenso observando o trânsito e os transeuntes. Ela perguntou-lhe o porque dessa aparente preocupação e ele disse que na cidade grande era assim mesmo, que haviam assaltos o tempo todo e que as pessoas podiam serem mortas por uma bala perdida disparada por nada. Ela endireitou-se no banco, tensa.

     A dona da casa e suas amigas estavam impecavelmente vestidas e usavam lindas e vistosas jóias enquanto se serviam, com muitos elogios, da sobremesa que ela preparara. Não cansavam de elogiarem a comida servida e essa parecia ser a conversa que se alternava com os comentários sobre a violência nas ruas da cidade, da insegurança com que todos viviam, com as mudanças de hábitos que tiveram que fazer, com a falta de oportunidade de usarem e exibirem suas jóias com medo de assaltos ou sequestros. Não faltaram também, e ela ouvia enquanto servia os pratos, comentários sobre a desconfiança que pairava sobre os empregados e, inclusive, os seguranças que as serviam. Para ela, tudo aquilo parecia absurdo, pois aquelas mulheres eram evidentemente ricas, instruídas, viajadas, frequentavam a chamada “alta sociedade”, tinham dinheiro suficiente para comprarem o que quisessem e irem onde quer que sua vontade as levasse e no entanto… eram prisioneiras de sua própria condição. Acabavam tão limitadas, restritas a tantas normas de segurança, tão impedidas de irem e virem quanto qualquer outra pessoa de menores condições econômicas. Ela não conseguia entender direito essa paradoxal situação.

     No final do dia, quando já estavam prontas para voltarem para casa, a patroa pagou-a pela diária (afinal ela ainda não estava empregada como cozinheira, pois esse era o serviço da tia que estava de licença) e deu-lhe mais uma quantia em agradecimento pelo belíssimo almoço que ela preparara. Enquanto entregava-lhe o dinheiro, cuja quantia deixou-a espantada, a mulher fez-lhe os maiores elogios contando o quanto as amigas haviam gostado de seus pratos, que misturavam a comida caseira do sertão com um toque muito próprio de sofisticação na combinação e preparo dos alimentos, bem como na sua caprichadíssima apresentação. E a sobremesa! Maravilhoso aquele sorvete de cupuaçu servido com beijus e natas. “Comida dos deuses!”, ela repetia. Ficou combinado que voltaria no dia seguinte e até que a tia pudesse reassumir o cargo.

     Ela e a prima desceram pelo elevador rindo e se abraçando, contando as cédulas, muitas, que a patroa havia colocado em suas mãos. Ela sabia que era uma boa cozinheira, sabia que amava o que fazia, mas nunca pensara que aquele seu talento valesse tanto! Guardou o dinheiro na bolsa e despediram-se do motorista que conversava com os porteiros quando passaram pelo hall do edifício.

     Aguardaram poucos minutos até que apareceu o ônibus que as levaria para o subúrbio onde moravam. Elas passaram pela roleta rindo, e procuraram espaço entre todas aquelas pessoas que se comprimiam no corredor lotado. Mas a alegria das duas era tamanha que nem isso parecia incomodar. O ônibus, num sacolejo, deu partida e arrastou-se pela noite que caía sobre a grande cidade.

     Quando um 4 de Ouros aparece numa leitura de tarot, dependendo sempre da sua localização na jogada e das demais cartas que o acompanham, além da questão proposta pelo consulente, pode simbolizar um certo isolamento do Consultante que se mantém agarrado, como uma bóia salva-vidas, ao seu dinheiro, suas posses, seus bens. Pode representar que se o Consultante se esquece dos valores mais elevados daquilo que possui, ao invés de possuir o objeto é o objeto quem o possui. Pode estar representando um momento na vida do Consultante em que ele age de maneira muito rígida, com uma impressionante necessidade de estabilidade e segurança. Egoísmo, ganância e traição estão entre as possibilidades que essa carta pode significar, numa tiragem. Pode representar, também, de maneira bastante positiva, que se o Consultante passou recentemente por dificuldades financeira, por falências e concordatas, esse período já terminou. Se a pessoa ficou desempregada meses a fio, esse é um momento de virada, onde a situação certamente mudará. Se o Consulente teve algum problema de vício, e buscou ajuda e cumpriu um programa de tratamento, o 4 de Ouros pode anunciar o fato de que a pior parte dessa experiência está terminada e que agora basta disciplina e controle.

     A energia do 4 de Ouros é jupiteriana e provém do pilar direito da Árvore da Vida cabalista, da esfera (sephirah) Chesed. Tudo aqui é expansivo e, até mesmo, exagerado, devendo ser utilizado unicamente quando dela se necessita e na quantidade realmente necessária, senão o desiquilíbrio se agrava. A pessoa que pode ter um carro de luxo, mas que teme sair na cidade por medo que o roubem ou que o risquem, não possui realmente o carro. O carro é que é dono do seu dono. A mulher que tem um anel de brilhantes, sempre guardado numa caixa forte de um banco, na verdade não pode dele usufruir quando e como quer. A pessoa, cujos gastos ultrapassam seus ganhos, pode falir, mesmo que esses gastos sejam para pagar por uma 2ª  ou 3ª residência, pelo 4º carro de luxo, pela festa para 1.000 pessoas no casamento da filha. De que vale morar num verdadeiro palácio se passamos a considerar todas as demais pessoas como prováveis “ladrões” da nossa segurança ou estabilidade. Se não equilibrarmos os benefícios que recebemos de Chesed com alguns limites impostos por Geburah, corremos o sério risco de vivermos ricos, mas sem qualidade de vida, sem podermos ou sabermos apreciar o que temos.

     Neste domingo, sob a luminosa regência solar, é ocasião que propicia meditarmos o quanto os nossos ganhos materiais nos acorrentam à obrigações que não queremos assumir, ou a uma insegurança que nos acompanha por todo o tempo. Essa carta, usada como meditação, nos faz refletir o quanto estamos, ou não, presos ao egoísmo e à suspeita. O 4 de Ouros nos convida a observar que, para termos êxito na vida, não precisamos nos apossar de nada de ninguém, pois há, no universo que habitamos, riquezas mais do que suficientes para suprirem nossas necessidades e para que todos delas compartilhem com alegria.

     Tenham um ótimo e confiante domingo!

Imagem:  VAUDEVILLE TAROT, por F. J. Campos

sábado, 29 de maio de 2010

Carta do Dia: 3 DE OUROS

Minor-Discs-03Vaudeville      A tia a esperava na porta da casa. Foram, novamente, muitos beijos e lágrimas, entre parentes que eram praticamente estranhos pois ela era muito pequena quando a tia deixou a vila no sertão e veio “tentar a vida” no sul-maravilha. Mas era uma doce senhora, muito afetuosa e que lhe recordava, vagamente, a falecida mãe. Levou-a, mancando pois estava com uma perna engessada devido a um tombo no trabalho, para conhecer toda a casa, apresentou-a a uma das primas, pouco mais nova do que ela mesma, e conduziu-a ao quarto que iria repartir com uma outra filha dos 3 que a tia tivera. Enquanto ela entregava os presentes que os parentes enviaram e contava da morte do pai, da irmã que ficara sozinha no sítio, ia se acostumando ao quarto, à presença da tia e da prima que a olhavam com curiosidade e ternura.

     No início da noite chegou sua companheira de quarto, a prima da sua idade que trabalhava com a tia para uma família muito rica que morava no melhor bairro da cidade. A tia há muitos anos era a cozinheira da família e a filha começara a trabalhar como arrumadeira. Com o problema da queda e consequente fratura da perna da tia, as outras empregadas estavam “quebrando um galho”, cozinhando da maneira que sabiam e cumprindo suas outras tarefas. Foi então que ela ofereceu-se para substituir a tia, enquanto essa estivesse de licença, pois cozinhava muito bem e era uma exímia doceira, coisa que todos concordaram depois de comerem uma caixa de seus bombocados, queijadinhas, pingos-de-ovos, e outras guloseimas mais que havia trazido como presente.

     A tia ficou encantada com a generosidade da sobrinha e foi para a sala telefonar para a patroa falando dessa possibilidade de substituição, enquanto as moças ficaram no quarto trocando informações e confidências. Falaram, é claro, do que faziam, do trabalho, com o que sonhavam, de rapazes, de festas, de passeios e shopping centers. Ela a tudo ouvia curiosa e com o coração aos pulos. A tia voltou da sala toda sorridente dizendo que a patroa concordara dela ir, no dia seguinte, fazer uma experiência, pois estava desesperada, não aguentando mais as reclamações do marido e dos filhos em relação à comida que as outras empregadas estavam se esforçando em preparar. Todas ficaram felicíssimas e, minutos depois, enquanto assistiam a mais um capítulo da novela, ela só conseguia pensar em como estava feliz. As coisas estavam indo muito melhor do que ela mesma poderia supor. No mesmo dia em que chegara a possibilidade de um emprego caiu-lhe nas mãos. E, o que era o melhor: para fazer aquilo que mais gostava, cozinhar.

     Naquela noite as 3 primas demoraram a dormir, pois não conseguiam parar de trocarem informações, combinarem mil passeios juntas, ela querendo saber tudo sobre a grande cidade, e as primas, mais do que dispostas a lhe contarem e mostrarem tudo. Finalmente o cansaço da longa viagem se fez sentir e ela acomodou-se melhor na cama enquanto o silêncio se instalava no quarto e os sons vindos da rua calma de subúrbio iam ficando cada vez mais distantes. Fechou os olhos e pensou na irmã, naquele momento, sozinha no interior da velha casa do sítio. Sentiu saudades. Rememorou a chegada, o encontro com a tia e a família que tão bem a acolheram e sentiu-se feliz, protegida, querida. Sabia que tinha feito o que era certo, seguindo o que lhe mandava o coração. No dia seguinte iria para o seu primeiro emprego, em toda a vida e isso a deixava estranhamente ansiosa, da mesma maneira que ficava, quando era pequena, esperando pelo Natal ou pelo seu aniversário. Tinha novamente uma família onde todos se ajudavam e isso a deixava muito feliz.

     Sentiu o sono, como ondas cada vez maiores, avançando. O dia seguinte seria de muitas novidades. Dormiu. Sonhou com as primas rindo, a tia cozinhando, ela ainda criança no colo da mãe, com a irmã e ela em torno dos tachos de cobre, mexendo os doces de frutas. Sonhou com a estrada poeirenta e com a cidade grande que surgia banhada de sol, imenso, dourado. Sonhou com uma cozinha enorme, toda branca, ela vestida de branco na lide com panelas de metal cintilante. Sonhou com pessoas que nunca vira e que lhe sorriam. Sonhou com um rapaz de terno que lhe estendia a mão…

      Acordaram com o despertador anunciando que era hora delas se arrumarem e irem para o trabalho.

     Quando um 3 de Ouros aparece numa leitura de tarot, sempre dependendo da sua posição na jogada e com quais cartas se faz acompanhar, além da questão proposta pelo Consultante, ele pode simbolizar que ele está disposto a assumir alegre e confiantemente um serviço, um trabalho, um desafio, e que, também, está em harmonia com seu lado criativo, espiritual e prático. É uma carta que nos fala de esforço realizado em equipe, ou seja, compartilhado. Existe a possibilidade de que o trabalho venha a ser intenso e árduo, mas o Consulente está disposto a perseverar e a combinar seus esforços com outros. A equipe à qual o Consulente lidera ou participa como membro trabalha em uníssono e não há ciúme, inveja ou competição entre seus pares. A satisfação pelo dever cumprido e pelos frutos colhidos compensam toda a dedicação e empenho que o Consulente investiu para a realização da tarefa. É hora de aceitar as recompensas que o simples ato prazeroso de executar a tarefa propicia. Também simboliza o fato do Consulente conhecer bem o seu ofício e executá-lo com maestria. É sinal de um espírito determinado, que se sente motivado e que está muito satisfeito com sua carreira. O consulente é um verdadeiro dínamo na sua produção e acredita no que está fazendo.

     O aspecto negativo que podemos entrever quando o 3 de Ouros aparece mal posicionado ou dignificado é  o fato do trabalho não estar sendo realizado da maneira prevista ou necessária, com risco do Consulente ser despedido ou rebaixado de posto, e ele mesmo está insatisfeito e aborrecido com o seu desempenho. Pode significar falta de talento ou habilidade para o cumprimento da função ou da tarefa, ou não estar preocupado com a qualidade do produto final. Dificuldades de arranjar um emprego. O grupo de trabalho não se entende ou então existe muita rivalidade, competição, desavenças entre seus membros. O Consultante pode estar querendo realizar sozinho todo o trabalho e acabar falhando pela sobrecarga de esforços.

     Se há um conselho que essa carta pode nos dar creio que é o de buscarmos sempre um trabalho ou um serviço que requeira o melhor de nós. Não peçamos apenas aquilo que queremos, mas sim o que o Universo e as demais pessoas querem de nós. Só assim nossas vidas serão mais intensas, alegres e recompensadoras.

     Neste sábado, sob a regência de Saturno, que simboliza os limites que devemos impor a estrutura que desejamos construir para que não nos percamos num turbilhão de idéias disformes, e com a Lua Cheia na casa de Capricórnio, é um convite para que assumamos posturas sólidas e realistas. Não há porque ficar divagando e nada realizar. Aproveitemos, também, para comemorarmos com nossos companheiros de trabalho o  progresso, qualquer que seja, que tenhamos obtido juntos e é também uma boa ocasião para perdoarmos aqueles do grupo que não tiveram a capacidade de desempenharem suas funções com o mesmo entusiasmo que tivemos.

     Tenham todos um final de semana de muito companheirismo e celebração!

Imagem: VAUDEVILLE TAROT, F. J. Campos

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Carta do Dia: 2 DE OUROS

    Minor-Discs-02Vaudeville Desceu do ônibus cansada da longa viagem. Afinal, quase 30 horas sentada numa poltrona apertada e com as pernas apoiadas em algumas sacolas que trazia, com presentes e encomendas a serem entregues a parentes que nunca vira, não foram fáceis. Mas a claridade da manhã e o barulho da cidade grande a entusiasmava e fazia com que ficasse com o rosto colado na janela, sentindo o ar frio da manhã e a plataforma da rodoviária que se aproximava.

     Foi quase uma guerra encontrar sua bagagem entre tantas outras que atravessaram estados carregando os mesmos sonhos que os dela: conseguir um trabalho que lhe possibilitasse ter uma vida como a que via pelos programas e novelas da TV, no sítio onde morara a vida toda. Nada mais de puxar água do poço, cortar lenha para o fogão, matar frangos e galinhas, ajudar a dar ração para os animais, andar quilômetros para poder aprender alguma coisa na escolinha da vila. Chega. Isso já era passado. Agora, vida nova! E lá estava a cidade, imensa, a recebe-la com os braços abertos e um sol sorrindo em luz no azul impecável do céu.

     Seguiu ao pé da letra as instruções de que condução pegar para chegar até a casa da tia, de quem nem se lembrava mais, tal era o tempo que migrara para o sul, sacolejando num caminhão e só mandava notícias quando alguém retornava da capital. O trânsito da manhã na nova cidade era assustador e ao mesmo tempo dava-lhe a sensação de que algo deveria mudar em si. Talvez o ritmo. A cidade pulsava diferente da placidez do sítio onde nascera e crescera. Os outdoors, as buzinas, as cores, a quantidade de veículos, as pessoas dentro do circular, tudo, tudo lhe era novo e a fazia sorrir. Ela tinha, finalmente, dado o passo inicial para a realização de seus sonhos. Sim, sonhos, porque os tinha, e muitos!

     Não foi fácil convencer a irmã que, com a morte do pai, já não havia razão para ela continuar morando no sítio, longe de tudo que tanto ansiava ver, conhecer, experimentar, fazer. A mãe morrera quando ainda eram crianças e os outros irmãos casaram-se e foram viver suas vidas. Só ela e a irmã permaneceram na casa da família, cuidando do pai, até que no último verão também o sepultaram no velho cemitério da vila. A irmã recusou-se a vender a propriedade e vir com ela, tentar uma vida nova. Achava tudo muito arriscado. Encontrava em cada notícia dos telejornais que assistiam, uma justificativa para a sua aflição e sua recusa. Procurava chamá-la à razão, exaltando os crimes, as dificuldades, os problemas da cidade grande. Por que sair de onde viveram a vida toda? Para que se arriscar nessa empreitada em busca de um… sonho?!?

     Nada, porém, a demovera de seu intento. Nem as tragédias anunciadas em rede nacional pela voz teatralmente dramática dos apresentadores, nem os apelos sentimentalóides da irmã mais velha, nem os comentários desestimulantes do pessoal da vila, que sempre tinham uma, ou muitas, histórias de moças que “se perderam” no sul, de outras que voltaram carregando um filho e um coração arrasado, de famílias que perderam o pouco que tinham e levaram consigo, vítimas de engodos,  gente que… Ela ouvia tudo quieta, atenta, educadamente, agradecia e voltava para casa, para seus afazeres e para sua grande paixão: cozinhar. Não havia, pelas redondezas, quem não conhecesse seus talentos na feitura de geléias de frutas exóticas, de doces de leite, as cocadas com gemas e as marmeladas que faziam qualquer um esquecer do regime ou de uma coisa muito importante chamada diabetes. 

     Enfim chegara o dia de dizer adeus à irmã e aos vizinhos, pegar uma carona na carroça do namoradinho de adolescência até o ponto estrada onde o ônibus que a levaria até a rodoviária da grande e distante capital passaria. Lágrimas, recomendações, abraços misturaram-se às malas, pacotes, sacolas, num amálgama produzido pela poeira da estrada, e lá se foi ela, acenando pela pequena janela, um adeus às pessoas que sempre lhe foram queridas, à paisagem que tão bem conhecia, ao solo gretado pelo sol inclemente, aos animais magros que apareciam aqui e acolá, como que para também se despedirem. Ajeitou-se no banco e sonhou, uma vez mais com a cidade grande. Sentia, mais do que sabia, que havia feito a coisa certa. Havia chegado o momento de fazer uma escolha e ela a fez. Arriscada, um passo no escuro, sem garantias… Não! Ela tinha garantias, sim! Ela era a sua garantia! Ela sabia que tinha talento e essa “mão boa” para a cozinha haveria de abrir-lhe as portas e realizar seus sonhos.

     O ônibus sacolejou quando saiu da estrada vicinal, de terra, e entrou no asfalto, diminuindo a marcha enquanto passava pelas placas que sinalizavam direções e lugares, como se para se decidir para onde ir. Ela olhou para o cruzamento e sorriu, sozinha, ao ler o nome escrito na seta que indicava direção do seu mapa do tesouro. Respirou fundo e adormeceu.

     Quando o 2 de Ouros aparece numa leitura de tarot, dependendo sempre da sua localização no jogo e das demais cartas que o acompanham, além da questão proposta pelo Consultante, pode significar que a pessoa escolheu fazer as mudanças necessárias em sua pessoa e em sua vida a fim de aproveitar o máximo da situação. Uma mudança do velho para o novo e para melhor. Tudo parece se movimentar, evoluir, progredir de maneira suave, contínua, harmoniosa. Novas e mais elevadas perspectivas. Uma mudança proveitosa. Boas relações e satisfação no trabalho em grupo, que proporciona excelentes resultados. Novos fatos, valores e resultados aparecem em meio à atual situação vivida pelo Consultante e que irá mudar o rumo de seus objetivos ou fornecer-lhe novas perspectivas. Algo que sempre esteve presente como uma possibilidade torna-se, finalmente, claramente visível e torna-se especialmente significativo para o Consultante. Uma mudança no foco da vida, pois velhos princípios tornam-se questionáveis e antigos hábitos, que pareciam tão importantes, subitamente perdem significado fazendo com que se adicione novos propósitos a outros mais velhos. Pode representar uma oportunidade do Consultante libertar-se e deixar para traz o que antes pareciam ser coisas necessárias. O 2 de Ouros pode simbolizar um chamado para que se olhe a própria vida sem os limites de uma visão estreita, sem perspectivas, e que isso seja um instrumento liberador de uma realidade limitadora.

     Quando mal posicionada, ou dignificada, numa jogada, o 2 de Ouros pode representar a perda do equilíbrio, da harmonia. Pode indicar uma vontade do Consultante em unir-se a alguém, ou a algum grupo ou causa, e não conseguí-lo. O início de uma separação. Uma sensação de ser ou estar completo. Não conseguir motivar os outros, especialmente num grupo de trabalho. Brigas e discórdias. Uma sensação de “gelo” começa a invadir um relacionamento. Uma falha nos planos. Ser isolado pelo seu grupo social ou de trabalho. Sentir que algo não está certo ou que não será possível consertar.

     Nesta sexta-feira, sob os auspícios do regente do dia da semana, o planeta Vênus que enaltece a sociabilidade e a harmonia, valorizando a beleza das relações, e com a Lua Cheia no signo de Sagitário, a incentivar as atitudes mais liberais, a necessidade de sentir-se livre, autônomo, sem amarras emocionais, podemos rever as nossas prioridades, nossas decisões passadas e o quanto elas ainda valem ou são aplicáveis neste nosso estágio de vida. Não se deve brincar com o destino, mas também é desaconselhável brigar com ele. Somos encorajados a mudarmos em alguns, ou muitos, aspectos, mas também precisamos manter os pés no chão para não nos tornarmos vítimas de promessas vazias e expectativas frustradas.

     Tenham todos um dia repleto de novas idéias, grandes e pequenas soluções, e que nossa percepção mude para que possamos melhor exercitar nossos talentos e evoluir em nossa caminhada nesta existência.

Imagem: VAUDEVILLE TAROT, por F.J.Campos

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Carta do Dia: ÁS DE OUROS

    Minor-Discs-AceVaudeville A moeda, com representação material do valor que os humanos atribuem à coisas e à serviços, é um motivo bastante persistente nos ensinamentos filosóficos quando se trata de avaliar-se a pureza (índole) de alguém. O dinheiro é uma potente metáfora para os desafios que testam a nossa integridade espiritual, refinam as nossas emoções e a nossa natureza, e nos aproximam da nossa verdadeira essência e, portanto, de Deus (por favor, substitua pela palavra que melhor defina o seu próprio conceito de divindade).

     Ainda que a carta do Ás de Ouros sugira atividade, essa atividade não significa que ela seja uma geradora de idéias (que, em verdade, é o que se espera do Ás de Paus), mas é um sintoma de que é o momento de amadurecer, de dar um sentido concreto, real aos dons inatos ou talentos adquiridos e utilizarmo-nos deles para obter algo na vida. Podemos dizer que se temos algum projeto ao qual gostaríamos de nos devotar inteiramente e para o qual temos as necessárias habilidades, um talento especial, o Ás de Ouros é uma notícia bastante alvissareira de que ele dará bons resultados e que as circunstâncias estão favorecendo para iniciarmos o nosso trabalho em realizá-lo. Nas leituras, quase sempre simboliza as boas coisas da vida, tais como saúde, beleza, prosperidade, e até mesmo tempo bom, que “vai dar praia”, se esse for o motivo da leitura, evidentemente, tal é o seu vínculo com tudo o que nos é conhecido, visível, palpável. Podemos interpretar o Ás de Ouros como um presente que o Universo nos oferece, num determinado momento de nossas vidas, bastando que reconheçamos isso e o usemos da melhor maneira possível,  não o desperdiçando. Tradicionalmente essa carta é considerada “de boa sorte”, a mais promissora entre todas as 56 cartas que compõem os Arcanos Menores do tarot.

     Essa carta representa, também, a natureza dupla do ser humano, pois, como uma moeda, temos duas faces, dois lados que representam o nosso caráter. Num dos lados, estão nossas experiências e nossas expectativas. No outro, as situações futuras e seus resultados. Se um lado questiona: “De onde vim? Como foi que eu fui formado?”, o outro argumenta: “Para o que foi que eu vim? Ao que eu devo dar forma?”. Todos nós somos possuidores de alguns aspectos bastante extraordinários e de outros bem mais comuns. Cada ser humano é possuidor de habilidades e também de desvantagens. Aceitando aquilo que somos, de que somos feitos, que possuímos como nosso, que nos caracteriza e identifica, nós nos tornamos aptos para  descobrimos os nossos dons e os desenvolvermos. E quando falo em talentos ou habilidades não estou me referindo a nada excepcional (ainda que possa muito bem incluí-los), nada que nos faça entrar para o Livro do Guinness. Aceitando e integrando nossas características especiais, aquelas que nos são únicas e exclusivas, acabamos por determinar quais são os nossos talentos ou dons.

     O problema que o Ás de Ouros pode representar é o de ser um obstáculo ao desenvolvimento espiritual, algo bastante inerente ao naipe de Ouros (Pentáculos, Moedas, Pedras, Discos). Nós corremos os risco de não sabermos apreciar esse presente, esse benefício que nos é oferecido pelo Universo e nos tornamos gananciosos e egoístas, podendo nos deixar prender unicamente à superficialidade ou à forma das coisas, mas não ao seus valores mais intrínsecos. Basta pensarmos em quantos relacionamentos, por exemplo, terminam porque o que é amado é a moeda (a forma) e não o seu valor (o que o indivíduo, supostamente amado, significa ou tem a oferecer).

     Não nos é difícil reconhecer quantas pessoas, bem além da puberdade, continuam a escolher seus parceiros com o único propósito de usá-los para impressionar os outros. A pessoa de mais idade que quer ter uma beleza jovem como companhia apenas para que as outras pessoas a admirem e invejem. A pessoa mais jovem que escolhe alguém bem mais idoso, não por admirar sua sabedoria, inteligência ou bondade, mas pelo novo carro do ano e pelos presentes caros com que é agraciada. O parente, de quem os familiares sentem-se envergonhados, por ele ter uma desabilidade física ou mental qualquer, e que é deixado só. Será que a melhor oportunidade de emprego e sempre aquela que melhor paga? Será que o melhor companheiro de viagem é aquele que pode viajar dentro do mesmo estilo e padrão ao qual estamos acostumados? Essas questões todas também estão relacionadas ao plano material, ao nosso dia a dia, às nossas ações, relações, à maneira que vivemos, interagimos, nos comportamos e produzimos. Esse é o mundo retratado pelo naipe de Ouros e que é associado  ao elemento Terra. O mundo de Malkuth, a 10ª Sephirah (Esfera) da Árvore da Vida.

     Nesta quinta-feira, regida pelo otimista, generoso e opulento Júpiter, e com a Lua Cheia na casa de Sagitário, seria bastante interessante se encontrássemos um tempo para refletirmos sobre o nosso papel no mundo. Será que queremos passar por ele “em brancas nuvens” ou vamos optar por carregar todo o seu peso em nossos ombros? Aproveitemos a energia representada pelo Ás de Ouros, a nossa Carta do Dia, para nos proporcionarmos um novo renascimento, um novo começo, uma limpeza no espírito e partamos para a conquista de um mundo melhor, com criatividade e paixão.

Tenham todos um dia que propicie o encontro de novos valores no curso de nossas vidas!

Imagem: VAUDEVILLE TAROT, por F.J.Campos

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Carta do Dia: PAJEM DE OUROS

Título

Trono do Ás de Pentagramas

Elemento

Terra (Malkuth) da Terra(Ouros)

Tetragramaton

He (final)

Arcanjo

Sandalphon

Nome Divino 

Adonai Ha Aretz

Mundo Cabalístico

Assiah (mundo da Matéria)

Sephirah

Malkuth (Reino)

Virtude

Discriminação

Vício

Inércia

Obrigações em cada Sephirah

Integridade

Divindade na Árvore

Terra, Grão

Atividade Social

Catalisador das Mudanças

Arquétipo Social

Mensageiro, Enviado

Planeta 

Terra

Signo

Touro, Virgem, Capricórnio

Pedra

Cristal de Rocha

    Minor-Discs-PageVaudeville  O Pajem de Ouros é uma carta que nos desafia a redescobrirmos e reavaliarmos as nossas habilidades práticas, os nossos talentos e a nossa postura em relação ao mundo em que habitamos. Aquilo que muitas vezes parece comum, simples demais, frequentemente acaba-se revelando como o essencial, o indispensável, o que é singular, o que realmente importa. Não raro, temos que peneirar entre tudo o que nos parece familiar até descobrirmos algo que se destaque, que seja especial. E isso acontece conosco, com a nossa atitude a respeito dos nossos próprios talentos, capacidades, reais interesses, aptidões. Muitos de nós somos críticos demais, julgando-nos inaptos, sem nada que nos destaque ou que possa despertar o interesse alheio. Muitos de nós não conseguem sequer perceber qualquer dom. Isso acontece quando não nos levamos suficientemente a sério ou porque não sabemos exatamente o que é um dom, um jeito especial, uma capacidade, uma habilidade. Tendemos a acreditar que raríssimas pessoas os possuem, apenas aquelas que são “abençoadas” pelas musas, “bafejadas” pelos deuses. Nos fixamos nos exemplos de artistas, atores, profissionais de destaque, de desportistas famosos e acabamos nos sentindo como verdadeiras nulidades frente à contribuição que eles demonstram dar à humanidade, à história.

     O que nos esquecemos é que todos, inclusive nós e esses famosos personagens, todos sem exceção, temos algum tipo de aptidão que nos destaca, que é única, que é fruto das nossas experiências pessoais. Tudo o que temos a fazer é simplesmente aprender a compreender o valor e a singularidade das nossas habilidades e vivências. Olhar-nos com um olhar infantil, de quem descobre pela primeira vez que consegue pegar o brinquedo que está sobre a mesa, ou que pode, engatinhando, aproximar-se da sua mãe, ou que consegue, usando ambas as mãos, levar um copo de líquido à boca. O Pajem de Ouros é uma criança (não necessariamente no sentido etário) e, portanto, ele precisa ser estimulado a descobrir o mundo, conhecer o ambiente onde atua, reconhecer signos, códigos, sons, cores, sinais, marcas, sem idéias pré-concebidas, mas deixando-se encantar e seduzir a cada novidade.

     O motivo pelo qual frequentemente as pessoas bloqueiam esse estado de espírito que os induzem a serem novamente crianças, é o medo de se reencontrarem com os fantasmas do passado, que estão mal sepultados, e que irão, novamente, exigir uma confrontação. O que não devemos é nos atemorizar por isso, e sim manter a nossa procura, e a nossa avaliação das próprias experiências e dos seus resultados. Na maioria das vezes, encontramos as respostas certas para as nossas questões apenas examinando o nosso sistema de valores. O que foi que, com o tempo, perdeu a sua importância? O que é que agora ocupa um lugar de destaque nos nossos desejos, ambições, metas, planejamentos? O que foi que aprendemos e que podemos utilizar em nosso benefício e para a satisfação das pessoas que nos são queridas? O que é que sabemos fazer que nos dá imenso prazer e cujo resultado beneficia aos outros e a nós, da mesma maneira? Tudo pode ser valioso e especial em nós mesmos e em  nossa vida, desde que nós consigamos identificar o que realmente nos distingue dos demais.

     Quando, numa leitura de tarot, o Pajem de Ouros surge entre as demais cartas, sempre dependendo da sua localização na jogada, da sua relação simbólica com as outras, e da questão do Consultante, ele pode significar gravidez ou nascimento; novos projetos e novas oportunidades de ganhos materiais. Significa também a chegada ou anúncio de novidades, especialmente a respeito de assuntos financeiros ou de negócios. Uma nova oferta de trabalho ou uma nova posição dentro do trabalho atual são assuntos a serem considerados quando nos deparamos com essa carta. Ela, também, significa um treinamento, uma adaptação a um novo emprego, um novo aprender de regras ou ofício. Seguir novas instruções. Tudo isso porque o Pajem de Ouros é o arquétipo do aprendiz, da criança, da criança interior, do aluno, do estudante, do empregado, do mensageiro, do enviado, do correspondente.

     Negativamente, qual mal posicionada, a carta do Pajem de Ouros pode evidenciar dificuldades na aprendizagem, falta de interesse, insegurança, abandonar uma situação, indolência, cansaço, sobrecarga, exaustão. Acontece em situações em que as pessoas sentem-se e agem de forma rebelde, pródiga, esbanjadora, sem perspectivas,  presos a detalhes tolos ou inúteis, ou agindo de forma altamente crítica consigo próprio. Um dos aspectos mais negativos dessa carta pode ser encontrado nas pessoas que prejudicam a Natureza, desrespeitando-a, abusando de seus recursos, devastando florestas, secando e sujando rios, dizimando espécies animais e, até mesmo, deixando cair “disfarçadamente” aquele inocente papel de bala, seja nas cidades ou nos campos. Lembram-se da figura criada pelo governo na intenção de educar a população nos cuidados da higiene pessoal e na preservação do meio-ambiente, o “Sujismundo” ? Pois é: ele é o protótipo da pessoa que também pode ser identificada com as péssimas más qualidades do Pajem de Ouros, quando sai numa posição de obstáculo numa jogada.

     Nesta quarta-feira, dia regido pelo célere mensageiro dos deuses, Mercúrio, e com a Lua vivendo os seus últimos momentos do Quarto-Crescente, ainda na casa de Escorpião, seria ideal que encontrássemos um tempo para darmos um passeio pela nossa cidade, ou pelo campo, e encarar isso como uma agradável aventura, cheia de pequenas e grandes descobertas maravilhosas. Da mesma forma que nos permitimos olhar para as ruas, jardins, animais, edifícios, campos, nuvens, mar, monumentos, repitamos o processo com a forma que conduzimos as nossas relações, com os nossos deveres, tarefas e obrigações. Tudo isso com o mesmo espírito de redescoberta. Tudo isso com o mesmo olhar atento e encantado de uma criança olhando e percebendo o mundo.

     Que todos possam, hoje e sempre, cuidar do seu mundo, do seu “jardim pessoal” com todo o carinho e desvelo que ele merece, que nós merecemos. Nós e as futuras gerações agradecemos.

Imagem: VAUDEVILLE TAROT, por F. J. Campos