domingo, 28 de fevereiro de 2010

Carta do Dia: 5 DE ESPADAS

Elemento Ar   (quente, úmido)
Astrologia Vênus em Aquário
Cabala Geburah (severidade) em Yetzirah (mente)
Numerologia 5:  disciplina, clareza, liberdade
I Ching  K’un    image , opressão
Título Esotérico O Senhor da Derrota
Dia da Semana Domingo,  regente Sol
Lua Cheia (1º dia)
Período Peixes,  regente Netuno
Ano 2010 (=3),  regente Vênus

 

    5-of-Swords      Se há uma expressão que sempre me intrigou foi a “sair à francesa”. Passei anos me perguntando o porque dos franceses não se despedirem uns dos outros ao sairem. Quando estávamos numa grande festa, meus pais faziam questão de agradecerem e despedirem-se dos anfitriões, mas justificavam o fato de não cumprimentarem os demais com essa tal de “sair à francesa”. Logo na França, que na minha imaginação de garoto era um lugar de pompa e circunstância, de perfumes e rendas, de mesuras e beija-mão!

     Quando comecei a estudar tarot, o 5 de Espadas me parecia uma carta muito difícil de ser compreendida. Eu não encontrava uma situação possível para ela, em termos da realidade que eu vivia, a não ser aquela dos livros: derrota, infâmia, humilhação, comportamento indigno, fracasso, decepção, ambição desmedida. Além disso, a carta era ambígua demais, pois sempre encontrava uma definição que trazia “vencer a batalha”, “batalha em que não há vencedores”, “aceitar limitações”, “vitória de Pirro”. Afinal de contas, o que é que eu digo para o meu consulente? Que ele é um fracassado ou um vitorioso? Que ele deveria, ou não, continuar na luta? Que ele tem possibilidades de ganhar ou de perder? E, se ganhar, porque ficar amargo com isso?

     Bom, com a idade e o natural aumento da experiência devido aos embates que a vida também me propôs, compreendi que muitas vezes uma “saída à francesa” é a melhor maneira de se agir. Saber a hora de ficar quieto e bater em retirada é tão boa estratégia quanto planejar avanços e ataques. Reconhecer quando não temos em mãos os recursos, ou não estamos devidamente habilitados, emocional ou intelectualmente, para determinadas situações é sinal de sabedoria, de autoconhecimento, de capacidade de aprender e de ser criterioso. Reconhecer a perda é o primeiro degrau para a escalada à vitória. A atitude contrária a essa “saída à francesa”,  é “dar murros em ponta de faca”, que nem precisa de explicação e quem assim se comporta sabe que, no mínimo, ficará inválido de uma das mãos. É evidente que quem insiste no erro, quem quer ter a razão a qualquer custo, quem fica “malhando em ferro frio” é o pior tipo de perdedor, porque insiste em não ver as evidências e nem aprende com as oportunidades.

     Entramos hoje na fase excessiva da Lua. Portanto, devemos nos cuidar dos exageros, de não estendermos discussões ou prolongarmos situações que não representam nada de concreto, apenas uma batalha de Egos. Não é uma boa estratégia, especialmente neste período, quando devemos nos respaldar na clareza, na objetividade, na assertividade, na ação correta, justa, mantendo sempre uma atitude elegante. Procure manter uma atitude pacífica e pacificadora, fazendo sempre prevalecer o bom senso. Se as coisas não estão saindo como você pretende, não se desespere, pois é temporário. Reserve energia para uma ocasião mais propícia. Tempos de opressão parecem ser o oposto do sucesso, mas, quando vividos por pessoas sábias, fortes, íntegras, confiantes e responsáveis, eles podem representar uma abertura para grandes realizações. Aquele que consegue manter-se otimista em meio a uma crise, sabendo dobrar-se ao sabor dos ventos do destino, reconhecendo seus erros e buscando novas soluções, sem desistir ou perder as esperanças, usando a razão, a sensibilidade, a lógica e a intuição, está marchando para a vitória.

      Agora, voltando ao tema que me levou a essa comparação com o 5 de Espadas: a origem da expressão “sair à francesa” pode estar relacionada com o fato dos soldados franceses abandonarem as frentes de batalha, sem comunicarem aos seus superiores, o que ajudou a provocar severas derrotas no Canadá, na Alemanha e na Índia, para a França. Os ingleses, com seu humor peculiar, cunharam a expressão no sentido de “alfinetarem” seus desafetos, os franceses.

     Interessante, não é mesmo, que uma carta que normalmente significa abandonar a luta, perder a batalha, sair derrotado e humilhado de uma situação, encontre numa expressão tão popular sua representação escrita. Quem “sai à francesa” sai disfarçando, fingindo que não está nem indo e nem vindo, abandonando um lugar deselegantemente. 

     E, se hoje for a um daqueles almoços domingueiros com toda a família reunida, seja bastante político, um verdadeiro diplomata. e ao sair, despeça-se de todos. Das tias, dos primos, dos avós, dos sobrinhos, dos amigos destes, dos cunhados, das irmãs, dos pais, dos donos da casa e também da cozinheira. Ao invés de fazer aquela tentadora “saída à francesa”, mostre que as suas atitudes são dignas de um lorde inglês! (Desculpem! Não pude resistir à essa “tirada” infame. Depois dessa, acho que já é hora de eu “sair de fininho”)

     Bom  domingo!

Imagem:  FIVE OF SWORDS, por Rob Ingram

sábado, 27 de fevereiro de 2010

TaroT Namur

    Conjunto TaroT Namur Mais de mil novos decks de tarots são produzidos anualmente, entre os artesanais, com baixíssima tiragem, normalmente feitos por encomenda;  aquele que são impressos e distribuídos por pequenas gráficas ou editoras e que, também, atingem um número restrito de consumidores, e os demais, produzidos e distribuídos mundialmente em larga escala, aos quais temos acesso de compra nas grandes livrarias, lojas especializadas e, até mesmo, pela internet.

       Basta-se uma rápida consulta na internet para vermos a enorme variedade de títulos à disposição, cujas imagens variam da mais simples garatuja, passando pelos anime japoneses, até obras originais de grandes artistas do porte de um Salvador Dalì. Há para todos os bolsos e gostos. A divisão mais notável entre eles está entre os que seguem o padrão Marseille, com a Justiça como a 8ª carta entre os Arcanos Maiores, e os que seguem Crowley, quando a Força troca de lugar com a Justiça, que passa a ser considerada na 11ª posição.

     Imperatriz Recentemente tive a oportunidade, através de uma grande amiga e mestra, a taróloga Rosa Silva, de ter em mãos os 22 Arcanos Maiores que compõem o TaroT Namur. Há muito eu esperava por uma oportunidade de ver esse que foi o primeiro deck de tarot impresso no Brasil cujas cartas tivessem sido originalmente criadas para ele e sob a orientação de um grande especialista no assunto. O Prof. Namur formou uma verdadeira geração de tarólogos, traduzindo a sua visão da tarologia no uso e aplicação cotidiana. Esse mestre sempre procurou apresentar o tarot como algo vivo, atemporal, imediato, cujas figuras falam através dos seus símbolos a todas as pessoas. Sem descuidar de suas origens ou de outros aspectos mais esotéricos, o Prof. Namur foi um dos pioneiros a trazerem essas arcanas cartas para o momento atual, ensinando os seus alunos a relacioná-las com atividades, pessoas, figuras sociais, condições sócio-político e econômicas contemporâneas.

     Estrela A taróloga Rosa Silva ganhou o dela, há anos, de um grupo de alunos, como presente de final de curso. Cuida das cartas com extremo carinho e conserva-as ainda em sua embalagem original de veludo negro com a inscrição “Tarot Namur” em dourado. O conjunto é composto de 22 cartas que seguem o padrão Marseille (Justiça-VIII / Força -XI). Marta Leyrós, na época uma das discípulas do Prof. Namur foi quem criou as magníficas 22 lâminas, utilizando-se de bico-de-pena, lápis de cor e canetas hidrográficas, num trabalho que consumiu 5 anos.

     O conjunto da obra é extremamente harmonioso, não havendo cartas mais ou menos elaboradas que as outras. Não se nota uma predileção, um favoritismo maior por qualquer dos arcanos, tendo todos recebido a mesma atenção e tratados com o mesmo cuidado e acuidade simbólica. As cores utilizadas pela artista são bastante intensas e há um notável uso de gradações de azul perpassando todas as lâminas. As figuras são bastante realistas, com a roupagem extremamente detalhada onde notáveis efeitos de superposição e de pequenos sinais gráficos podem ser notados especialmente nas cartas da Imperatriz e do Louco.

      Papa O Papa (Arcano V) destaca-se por ter um conjunto étnico de personagens bastante incomum: a figura do hierofante é de raça negra, enquanto que, baseando-me no açafrão das vestimentas e na substituição da tradicional tonsura por uma trança (uma clara e a outra escura), as duas figuras a seus pés parecem ser de origem oriental. As colunas Boaz e Joachin são bastante elaboradas, porém fugindo da tradicional ordem grega. A cruz tríplice e o pentagrama, além do piso com desenho de tabuleiro, fornecem uma ampla gama de possibilidades a serem desenvolvidas durante uma leitura ou, mesmo, na meditação com a carta.

   Enamorados   Vício e Virtude, bifurcações a serem escolhidas, opções a serem feitas, dualidades a serem observadas e assumidas estão perfeitamente representadas na lâmina dos Enamorados, onde o jovem parece englobado por uma iluminação própria, que tem aspectos terrenos e celestiais, ao mesmo tempo. Encontra-se num ponto do caminho onde ele se divide, tendo que optar entre a exuberante e luxuriosa jovialidade da mulher à esquerda, e a contenção clássica e formal da mulher loura à sua direita. Não um Cupido, mas o seu arco e seta, pairam sobre a cabeça do rapaz que é observado pela graciosa figura dos “putti”, que brindam a sua escolha (?) com flores.

    Louco Figura das mais conhecidas e avaliadas num conjunto de cartas, o Louco, em sua elaboradíssima roupa que nos remete aos personagens italianos da “commedia d’arte”, é o tradicional bufão equipado com seu bastão e sacola, tendo como companheiro uma figura animal que não é o cão que normalmente vemos nos tarots derivados das imagens Waite-Smith, mas um animal ancestral, com orelha e olhos planos, à maneira egípcia e um focinho transformado no bico de uma ave. Intencional ou não, essa figura é um sutil acréscimo dos autores à idéia de instinto, de voz interior, de intuição. É ancestral, remota e onírica em sua forma. À beira de um precipício, abandonando a aridez de uma vasta planície, prepara-se o Louco a dar o seu primeiro passo rumo à sua grande aventura, onde campos verdejantes e rios de águas cristalinas o esperam. Provavelmente voará, utilizando-se de sua touca de dois cornos como antenas a lhe servirem de guias na grande viagem que à sua frente se descortina.

     Enriquecido com símbolos astrológicos, letras hebraicas, pentagramas e demais símbolos mágicos, o Tarot Namur é de grande valia para quem dele se utiliza, pois favorece o desbloqueio dos canais intuitivos, permitindo que as imagens se comuniquem diretamente com o inconsciente, favorecendo a união do conhecimento técnico do tarólogo com a sua sensibilidade e percepção interior. Para o consulente, é também de fácil compreensão, apesar da grande quantidade de informações contidas em cada lâmina.

     Roda da Fortuna Como tarólogo e colecionador de decks de tarot, foi-me uma agradabilíssima surpresa poder constatar, com o tarot em mãos, a excelente qualidade do material. Bem sabemos o quanto a maioria das cartas fabricadas com essa finalidade, no país, ainda estão longe em termos de durabilidade, acabamento, facilidade de manuseio e nitidez de impressão, quando comparadas com suas similares estrangeiras. O TaroT Namur é uma honrosa exceção. Rosa Silva, que usa com certa frequência esse conjunto de cartas há anos, não tem o que reclamar e, nem mesmo as lâminas, apresentam sinais de desgaste pelo manuseio.

     Por isso, e muito mais que só mesmo com esses 22 Arcanos Maiores nas mão para experimentar, é que eu faço uma pausa entre as postagens deste Blog para comentar esse excelente trabalho que é um marco na história do tarot no Brasil e enaltece o trabalho dos nossos profissionais tarólogos e artistas plásticos que se provam capazes de produzir algo de nível internacional.

Diabo      Ao renomado Prof, Namur e à talentosíssima artista Marta Leyrós, os meus cumprimentos e a esperança de ver esse jogo de cartas novamente accessível ao grande público e aos profissionais que dele se utilizarão para cumprir o grande objetivo desse oráculo: a ajuda ao semelhante.

Ilustrações: Todas as lâminas mostradas nesta postagem fazem parte do TAROT NAMUR, ilustrado por Marta Leyrós.

Carta do Dia: 4 DE ESPADAS

Elemento Ar   image  (quente, úmido)
Temperamento Colérico  (bílis amarela)
Cabala Chesed (Misericórdia) em Yetzirah (Formação)
I Ching FU  image , ponto de mutação
Numerologia 4 (quatro), estabilidade e processo
Signo Júpiter (expansão) em Libra (equilíbrio)
Título Esotérico Senhor do Descanso após a Luta
Dia da Semana Sábado, regência Saturno
Lua Crescente
Período Peixes    image
Ano 2010 (=3),  regência Vênus
Era Aquário,  regência Urano

    4--of-Swords Finalmente, sábado!

     Pensei que não fosse chegar nunca. Não que eu nada faça aos sábados, mas, digamos, faço menos.

     A última semana foi bastante intensa em termos de trabalho, tanto daquele tipo que nos sustenta como do outro, que nos trás bastante satisfação. Gosto muito dos dois e me sinto um privilegiado em poder ganhar a vida trabalhando em algo que gosto. Mas, também fico cansado, pois o ritmos, às vezes, é muito intenso.

     O 4 de Espadas veio bem a calhar pois confirma a necessidade de “dar um tempo” para poder ter tempo. Deu pra entender? Pois é assim: no meio da batalha diária que é a vida de todo mundo (não se iluda! Não há quem não precise, de alguma forma, enfrentar problemas e situações mais ou menos difíceis), é necessário dar uma pausa, pedir trégua, parar no acostamento. Esses momentos são perfeitamente necessários para podermos nos harmonizar novamente, refletir com tranquilidade em como estamos nos conduzindo e executando nossos projetos. É um tempo que jamais será perdido, mas irá permitir que o seu organismo se restabeleça, a sua mente clareie, as suas emoções se reequilibrem e que você se reconecte com a sua divindade interior. Só assim é possível prosseguir.

     Não é atoa que esta carta está quase no meio da série de Espadas. É a quarta carta, sugerindo que é tempo de relaxar, descansar, distrair-se um pouco antes de continuar a batalha. Isso não significa abandonar nada ou perder o foco. Há implícito, na mensagem deste arcano, um subtexto que nos lembra que não é o fim, não é hora de parar, de desistir, de abandonar. As “espadas” estão lá, em riste, prontas para serem novamente usadas. Lá fora a vida continua a nos aguardar para que cumpramos com a nossa parte. É só um tempo de curar, de restabelecer, de reavaliar estratégias, de pensar o próximo passo. Isso se consegue descansando a nossa mente, permitindo-lhe que se livre de todo o “lixo” acumulado e volte a funcionar perfeitamente, sem ser tendenciosa, preconceituosa, livre de estruturas defasadas, de pensamentos mórbidos, de idéias inválidas. Uma verdadeira desintoxicação mental.

     Então, o que fazer hoje? Bom, vou aproveitar o próprio simbolismo da carta, que coloca o 4 (o sólido, o real) dentro do naipe de Espadas (Ar = idéias), aproveito que estamos vivendo as influências visionárias de Netuno (afinal estamos em Peixes) e vou fazer uma hora de meditação. Além disso,  conto com Júpiter, sempre generoso e permitindo alguns deliciosos excessos, aliado à idéia de reequilíbrio proposta por Libra, e a necessidade de me cuidar com carinho, como maternalmente ensina Vênus, terminada a meditação, lá vou eu fazer uma massagem (crâneo-sacral, o que vai acabar sendo muito bom para o fluir das energias que possam estar obstruídas).

     Mas, com certeza, aqueles que se lembraram de que sábado é regido por Saturno, deverão estar se perguntando onde entra esse grande “ceifador” nessa minha estória e como vai atuar nos meus planos. Oras, fazendo com que eu volte para casa feliz, satisfeito, sentindo-me reenergizado, pronto para a próxima semana, disposto a passar o resto do dia recolhido, quieto, comendo leve e saudável, lendo meu atual “livro de cabeceira”, ouvindo música, talvez volte a meditar antes de dormir,  tranquilo… tranquilotranquilo

     Tenham todos um ótimo, também tranquilo e recuperador final de semana!

Imagem: Four of Swords, por Robert Ingram

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Carta do Dia: 3 DE ESPADAS

 3 de espadas1    Querida Rosa,

     Encontrei essa carta de baralho por acaso, numa dessas minhas andanças revirando velhos sebos em busca de livros e revistas, cartões antigos. Fico feliz quando encontro aqueles com anotações à margem, dedicatórias escritas em letra trêmula de quem não quer rasurar o presente.

     Essa velha carta de baralho, com sua imagem colorida à mão e rasurada pelo manuseio e pelo próprio tempo, eu acabei juntando com aquela nossa conversa sobre estarmos envelhecendo que tivemos, semana passada, no aniversário do nosso amigo.

     Olhando as três “moçoilas” da carta não posso evitar imaginar a ocasião em que a foto foi tirada. Onde estavam? Quando foi isso? Porque estavam com essas roupas, meio caubói meio passeio na fazenda? Quem são? Irmãs? Primas? Amigas? Amigas sim, certamente. Pode-se ver o sorriso de felicidade e o carinho na proximidade com que posaram para o fotógrafo. Joviais, seguras de si, felizes por estarem juntas, naquele instante, compartilhando a sua alegria, afeto, companheirismo que, mal sabiam elas, viria muito tempo depois acabar em minhas mãos e me provocar essa melancolia.

     Estive pensando, nos últimos dias, olhando para essa carta, o quanto vamos deixando de nós pela vida, em papéis, velhos instantâneos, uma medalhinha, um cartão de natal, um telegrama de pêsames, tudo  mais ou menos retidos nos guardados e na memória de pessoas que um dia fizeram parte das nossas relações, com quem dividimos afetos, segredos, esperanças. Com quem rimos e choramos, brigamos e fizemos as pazes. Ou brigamos e… nunca mais fizemos as pazes.

     Quantos parentes, amigos, professores, colegas de escola, companheiros de trabalho e amantes levaram consigo algo nosso e, em troca, nos deixaram as recordações de uma música, um restaurante predileto, um autor que citavam sem parar, o cheiro de um perfume daqueles que nem são mais fabricados, ou um velho poema, de “própria lavra” como se usava dizer, que guardamos através de décadas, nem sabemos direito porque, junto com as velhas fotos. Quantas juras de amor, de amizade eterna, foram trocadas e registradas em kodachrome só para ficarem amareladas e desbotadas com o tempo.

     Também eu, Rosa, guardo essas imagens do meu passado em caixas de papel, em velhos álbuns de retrato (daqueles que ainda tinham a capa em madeira, lembra-se?) São rolos de velhos filmes que nunca mais assistirei, até mesmo porque mofaram dentro de suas latas; santinhos de primeira comunhão com um Jesus de papelão, encostado numa das paredes do estúdio, entregando a hóstia; envelopes com rebuscada caligrafia e enfeitados com selos vindos do Liechtenstein (ah, como eu achava que o Liechtenstein deveria ser o lugar mais fantástico da Terra. Afinal, com esse nome quase impronunciável…). Dentro do pequeno missal revestido em baquelita, imitando madrepérola, uns amores-perfeitos ainda mantém um resto de roxo e de amarelo. Lembro perfeitamente da tarde em que minha mãe os colheu no jardim da casa em que morávamos.

     Há também, nessas caixas já muito gastas, não tanto por serem velhas como eu, mas por terem sido abertas e fechadas milhares de vezes nestes anos, lembranças de pessoas com quem eu nunca mais quis encontrar. De gente que um dia foi tão importante para mim e que, quando tudo se acabou, entre meus cacos recolhi também o quase nada que deixaram para trás e que pudesse me fazer lembrá-las. Estranho , não é? Eu sei que você também deve estar pensando isso. Afinal, se o meu ressentimento, a minha decepção com elas foi assim tão grande, por que mante-las junto a outras recordações tão mais felizes?

     Não sei, minha amiga, não sei explicar. Pelo menos não coerentemente. Talvez eu as guarde como algumas pessoas guardam em vidrinhos de remédio pedras expelidas pelos rins, numa estranha maneira de perpetuar a memória do sofrimento passado. Talvez seja para “balancear” tantas outras lembranças bem mais felizes. Ou talvez eu espere, um dia, realmente perdoar o fato de terem me traído, me decepcionado, me feito chorar desesperadamente, destruindo ilusões, sonhos, fantasias. Muito provavelmente seja para que eu consiga um dia olhar para esses velhos tesouros e reconhece-los todos meus, parte do que eu sou, todos com a mesma importância e valor, ao invés de ficar repetindo, como estou fazendo nesta carta _ “Ah, se eu soubesse naquele tempo o que sei agora”. Coisa de gente rancorosa e que não se perdoa também, não é mesmo, amiga?

     Como é penoso perceber quantas mágoas carregamos pela vida. Velhas feridas que nem mesmo o tempo as faz cicatrizar porque lá estamos, todos os dias, a abrí-las novamente, numa espécie de êxtase masoquista: sofro, logo existo. Triste inversão. Por que não utilizei todos esses anos para refletir a respeito, compreender os pontos de vista, o momento em que vivíamos e aceitar a situação como uma técnica didática, dentre as muitas de que dispõe, que o destino usou para me ensinar algo que me fizesse crescer? Mas não. Foi mais fácil contentar-me com a situação de vítima a transcender a dor.

     Só espero, minha querida, que esses três sorrisos antigos estampados nessa velha carta tenham despertado em mim algo mais do que tristeza, melancolia e solidão. Olho para a alegria registrada em sal de prata nesse pedaço velho de cartolina e aguardo que algo se transforme dentro de mim, curando esse mal crônico através da compreensão e do perdão. Da minha própria absolvição. E, quando alguém, olhando uma dessas fotos que há muito guardo em caixas, me perguntar _ “Quem é?” _ eu consiga dizer, com o coração mais aliviado e sem que a dor de tristes memórias voltem a afligir este velho e safenado coração _ “Ah, essa é Fulana. Fomos grandes amigos, fizemos faculdade juntos. Frequentávamos a mesma turma e nos divertimos muito. Casou-se.  Sabe como é, perdi contato. Nunca mais ouvi falar dela”.

     Espero que você, Rosa, também goste dessa carta, desse 3 de Espadas tão antigo. Que ele lhe inspire lembranças menos lacrimosas que estas minhas.

     Beijos!

 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Carta do Dia: 2 DE ESPADAS

     2_of_Swords Noutro dia estávamos conversando, enquanto almoçávamos, sobre sabores e texturas dos alimentos e suas combinações. Falávamos de como a culinária oriental é especialista nesses arranjos, sempre se utilizando de pimentas e espécies picantes em conjunção com sabores adocicados, de suave textura. Querem um exemplo: Os populares “rolinhos primavera”, entrada que não pode faltar em qualquer restaurante sino-coreano. Ou o quente-frio dos fumegantes petit-gateaux amenizados pelos gellatos. Invenção francesa.  Ou mesmo o nosso tradicional “Romeu e Julieta”, quando uma generosa fatia de goiabada (de preferência, cascão) se faz acompanhar pela brancura salgada de um delicioso Queijo-de-Minas. Acabamos rindo muito sobre algumas manias, meio escondidas, de combinações esdrúxulas como a de uma amiga que a-do-ra misturar maionese com farofa, porque, segundo ela, as texturas (lisa e escorregadia da maionese com a aspereza granulosa da farofa) se complementam. Dizer o que?

     Lembrei-me desse divertido encontro ao sentar-me para escrever sobre o 2 de Espadas, a nossa Carta do Dia. Acho que foi o conceito embutido de Yang e Ying, masculino (salgado, quente) e feminino (doce, frio) que se bem analisado, fica evidente que a essência de um pré-existe no outro, ainda que sejam opostos complementares. O 2 de Espadas pode, também, ser interpretado como uma batalha mental ou uma luta. Também pode ser visto como os dois hemisférios do nosso cérebro, o direito e o esquerdo, unindo-se para funcionarem como um todo. Nas receitas que meus amigos e eu comentávamos, também não se pode separar o quente do frio, o salgado do doce, o picante do suave, a textura mole e lisa da sua complementar áspera e crocante. Você não obtém o mesmo resultado, a mesma satisfação. Assim também não é possível ter-se Yang sem Ying e vice e versa.

     Quando um 2 de Espadas aparece numa leitura de tarot, sempre dependendo da sua posição na jogada e das cartas que o acompanham, além da questão a ser esclarecida, ele pode estar simbolizando a existência de uma guerra mental sendo travada pelo consulente. Qual dos dois lados dele não está em harmonia. O número 2 é, geralmente, sobre dualidade, equilíbrio de forças, cooperação, acordos, diplomacia, política. Este 2, em particular, do naipe de Espadas que representa o elemento Ar, fala de capacidade mental, capacidade de solucionar problemas, de equilíbrio mental. Então, em que nós, ao tirarmos esse arcano, precisamos trabalhar para restaurar a nossa paz de espírito? Sim, porque às vezes temos que estar preparados mental e emocionalmente para tomarmos decisões rápidas que venham a solucionar problemas iminentes.

     Creio que todos conhecem uma das mais famosas estórias bíblicas, atribuída ao Rei Salomão, considerado o mais sábio dos homens de seu tempo.

     Como governante que era e, portanto, juiz e mediador, um dia chegaram-lhe ao palácio duas mulheres trazendo o corpo inerte de uma criancinha. Ambas contaram a mesma história e fizeram as mesmas acusações entre si. As duas reclamavam o corpo do bebê para si, pois se declaravam mãe do mesmo. O que havia acontecido, segundo elas, era que ambas haviam dado à luz de seus respectivos filhos em datas muito próximas e uma delas, por acidente, havia asfixiado o filho por acidente, causando-lhe a morte e, escondeu o fato trocando-o pelo filho da outra. Elas brigaram e trouxeram a questão ao Rei para saber com qual das duas a criança sobrevivente deveria ficar.

      Apresentado com uma situação tipicamente 2 de Espadas, Salomão pede que lhe tragam uma espada. Espantadas, elas perguntam por que? O que ele iria fazer? Ele, sabiamente explica que como a situação parece não ter solução, ele irá cortar a criança, que ambas diziam ser seu filho, ao meio e entregar uma metade a cada uma delas. Assim ambas ficariam satisfeitas e a Justiça seria feita.

    Judgement_of_Solomon Um grito se fez ouvir no amplo salão de audiências do palácio real, quando uma das mulheres, caindo aos pés do Rei, implorou-lhe que não fizesse tal coisa. Nesse momento, Salomão soube que aquela era a verdadeira mãe da criança sobrevivente, pois unicamente uma mãe abdicaria da sua própria felicidade em criar seu fruto pela vida do mesmo. A sua estratégia mental para obter o resultado pretendido havia surtido o efeito que ele, e todos, esperavam.

     Portanto, quando estivermos numa situação 2 de Espadas, de um conflito interior, devemos nos lembrar desse julgamento bíblico, dando-nos tempo para pensar, refletir, fazer a melhor escolha que será sempre aquela que não irá destruir nada e nem a felicidade de alguém, inclusive a nossa própria!

     Na próxima festa de Natal, quando servirem o salgadíssimo tender, laqueado com melados e especiarias e recoberto com cerejas ao marasquino e fios-de-ovos, ou mesmo naquela reunião dominical quando somos confrontados com um lombo assado e servido com grossas fatias de abacaxi, ou ainda, pela manhã, na padaria da esquina, ao pedir meu queijo quente com banana, vou lembrar quantas vezes vivo, mesmo sem me aperceber, uma situação do gênero 2 de Espadas, combinando elementos, associando idéias, somando partes distintas e combinando-as harmoniosamente.

     E como hoje é quinta-feira, cujo regente é o expansivo Júpiter, a Lua continua em sua fase Crescente, espalhando sua luz e aumentando sua força, e com esse assunto de comidas a me aguçarem o apetite, acho que vou (só por hoje, prometo!) abandonar o regime e dar um pulo até a vendedora de tapioca e pedir uma, bem recheada. De queijo-coalho com doce-de leite, oras pois!

 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Carta do Dia: ÁS DE ESPADAS

Elemento Ar    (Ar  do Ar)
Signo do Arcano Gêmeos
Temperamento Colérico (bílis amarela)
Cabala Kether (coroa) em Yetzirah (formação)
Tetragramaton Vau  (o Verbo, o intelecto)
Lua Crescente (expansivo)
Arcano Maior I , O Mago (arcano correspondente)
I Ching Sun:  o ar, o vento, dissolução
Elemento Alquímico Mercúrio, a matéria mental
Pedra Ametista (meditação)
Numerologia 1 (um),  energia criativa
Fase da Vida Juventude
Dia da Semana quarta-feira,  regência de Mercúrio
Ano 2010  (=3),  regência de Vênus
Período Peixes
Era Aquário,  regência de Urano

     michelangelo_criacao-de-adao-capela_sixtina Quem ainda não parou, extasiado com a beleza e a força dos afrescos no teto da Capela Sistina, feita por Michelangelo Buonarroti?  E, em especial, a que  representa a criação do homem? Acredito seja uma das obras de arte mais fotografada, divulgada e utilizada pela mídia. Mesmo assim, ela não perde o seu poder expressivo traduzindo, perfeitamente, o potencial criativo do intelecto, da vontade.

   criação de adão 2   A imagem sugere a Mente Divina ativando a Natureza, quando uma faísca emana do dedo de Deus para o de Adão. A pintura reflete a filosofia oculta de que a Natureza não é viva per se, mas recebe a vida pela mediação do Espírito, que não é uma inteligência abstrata, mas o doador de vida.

     O Ás de Espadas é representa um dom do elemento Ar, ou seja,  a mente como intelecto e força criativa. O Cristianismo chama a isso de Logos, a Palavra de Deus, o Verbo como Deus, criando o universo. Em termos psicológicos, o elemento Água simboliza a imaginação, com seu imenso potencial criativo. Sem inteligência (Ar), entretanto, essa possibilidade não toma forma, permanecendo vaga, difusa, onírica. Fogo e Água juntos criam vida. Água e Ar juntos criam a verdade, o real.

     O intelecto, sozinho, é inútil, até mesmo perigoso. Até que a Água ascenda ao ar como vapor, o Ar permanece árido, vazio. Portanto, se nós humanos nos guiarmos neste mundo somente pela lógica, desconsiderando o sentimento e a intuição, além de termos consciência de verdades sagradas, nós nos tornamos destrutivos, verdadeiras armas mortíferas. A mente necessita equilibrar-se com o espírito. Nossa inteligência, humana, não pode agir sozinha, mas deve deixar-se tocar pela centelha divina e só então agir para revelar a verdade, traduzir o real. Vários são os exemplos que a história e a mitologia nos oferecem desse momento de conexão entre o divino e o humano, entre o “que está encima e o que está embaixo”:  Moisés, ao receber as tábuas contendo os mandamentos, ou seja, as leis de conduta para os homens, porém sacramentadas pela inteligência e espírito de Deus. Na mitologia nórdica temos Odin, pendurado na Árvore Cósmica, Yggdrasill, para receber a iluminação através das runas, mantendo contato com a Mente Superior através de dois corvos, Hugin (pensamento) e Munin (memória).

     As Espadas dividem, cortam, seccionam. Elas separam o Céu (Espírito) da Terra (Matéria), o macho da fêmea, a luz da escuridão, a razão e o instinto. Essa divisão é necessária para o processo criativo pois se tudo permanecesse misturado somente haveria o caos. Sem o dia e a noite, sem as diferentes estações do ano, sem as leis e ciclos da Natureza, a vida não subsistiria. Essa divisão também nos auxilia a compreendermos o mundo. Entretanto, o que mais importa é estarmos integrados com ambas as polaridades, compreendendo-as como um todo, a fim de que experimentemos a vida e o universo de maneira única, interligada, ainda que lhe reconheçamos as partes, seus diversos componentes, os muitos elementos que nela atuam e de que maneira se manifestam.

     Numa leitura de tarot, dependendo sempre da sua posição no jogo, das cartas que a precedem ou seguem, e da questão explorada, o Ás de Espada pode significar inteligência. Pode representar um período de clareza mental, de capacidade de analisar ambos os lados de uma situação. O consulente está propenso a decodificar o problema, avaliar cada um dos seus aspectos e, finalmente, inteirar-se do todo que ele representa. Ou, talvez, a carta possa estar sugerindo que ele assim o faça, especialmente se for uma pessoa muito guiada pela emoção.  Mostra, também, uma personalidade poderosa, e isso é um grande dom pois habilita a pessoa a se relacionar com a vida de forma efetiva. Todavia, pode ser um lembrete de agressividade.

     Mais do que qualquer outro Ás, o de Espadas necessita equilibrar-se com outras qualidades. A lógica precisa estar ancorada na intuição, ou então corre o risco de ficar à deriva, à parte da realidade. O poder e a força necessitam da empatia dos outros, ou podem tornar-se arrogantes e destrutivos.  Como Espadas é um naipe tanto de emoções como de intelecto, o seu Ás pode representar sentimentos poderosos. O que é a raiva, o ódio além de sentimentos selvagens que se manifestam e elevam em ondas violentas? É necessário, então, deixar a maré baixar, as águas da emoção se acalmarem, para que a natural clareza e objetividade das Espadas nos removam dessa intensa emoção.

     ás-de-espadas O ato criativo é conflitante. Novas idéias conflitam com as antigas. Novos tempos, novas atitudes, novos comportamentos, novas leis, nova moral, novas tecnologias costumam enfrentar resistência e terem que lutar para se estabelecerem e se provarem eficazes. A própria simbologia contida na maioria das cartas que representam esse arcano assim traduzem essa dualidade Paz x Sofrimento (a lâmina dupla da espada, o ramo de palmeira (martírio) e o de louro (vitória). 

     Hoje, quarta-feira, e tendo o planeta Mercúrio como regente e elemento alquímico representado pelo naipe de Espadas, é dia de comunicar suas novas idéias, de saber por onde começar a dar forma e estrutura àquele novo projeto. Sua capacidade de aprender está muito ampliada, o que lhe ajuda a identificar problemas, falhas, peças a serem ajustadas, com bastante facilidade. Muitas oportunidades podem estar se abrindo à sua frente, surgindo através de mensagens, de notícias, de conversas, de avisos. Portanto, esteja alerta, procurando decodificar todos esses sinais. A Lua, em seu Quarto-Crescente, está em expansão, o que significa que as iniciativas feitas sob essa influência tendem a terem continuidade e perspectivas de bons resultados. Como o ano está sob a regência de Vênus (Afrodite), deusa do Amor e da Beleza, e em combinação com o valor numérico do arcano, 1 (um = Ás), é garantia de grande atividade no campo artístico, sendo um ótimo dia para estréias teatrais e cinematográficas, lançamento de livros, vernissages, ou mesmo para você começar aquelas aulas de desenho, pintura ou modelagem. A criatividade está em seu melhor aspecto, portanto confie em qualquer lampejo de inspiração que tiver.

     Em alquimia é sabido que Mercúrio tem um princípio feminino (Mercúrio Filosófico) e outro masculino (Sal), representado pelo próprio deus. O que o alquimista sabe, e nós precisamos nos valer disso, é que a união de ambos os princípios é o início da Grande Obra, da sucessão de transformações que nos transformam de Matéria Primordial em Pedra Filosofal. Portanto, aprendida a lição, lembre-se de conjugar sempre a lógica, a razão, a objetividade, a força mental, o intelecto, com a emoção, a intuição, os sentimentos e a espiritualidade. Thomas Szasz (1920), eminente psiquiatra norte-americano, defensor da idéia de que todos temos  direito exclusivo e adquirido do nosso corpo e saúde mental, autor de diversas obras muito conhecidas, entre elas “ O Mito e a Doença Mental”, diz o seguinte: “Algumas pessoas dizem que ainda não se encontraram. Mas o Eu não é alguma coisa que se encontre; é alguma coisa que se cria.”   É algo para se refletir, não é mesmo? Meditando na carta do Ás de Espadas, de preferência…

     Então, que tal aproveitar as energias de hoje e colocar em ação a construção de um Eu melhor, mais harmonioso, onde o amor e o prazer neutralizem a ansiedade, a raiva e a negatividade, permitindo, assim, que os nossos pensamentos, ao invés de serem usados como arma de destruição (inclusive a nossa própria), possam servir de veículo de ascensão?

     Tenham todos um ótimo e muito criativo dia!

“Não posso compreender por que as pessoas se assustam com as novas idéias. Eu me assusto com as velhas.”  John Cage, músico e escritor (1912-1992)

 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Carta do Dia: PAJEM DE ESPADAS

Elemento Ar    image, (Terra do Ar)
Signo do Arcano Libra
Temperamento Colérico (bílis amarela)
Cabala Malkuth (reino) em Assiah (ação)
Tetragramaton HE (final), energia materializada
Lua Crescente (expansivo)
I Ching Sun:  image , o ar, o vento, dissolução
Elemento Alquímico Mercúrio, image a matéria mental
Sentidos Audição e Olfato
Fase da Vida Humana Juventude
Dia da Semana terça-feira, regência de Marte
Ano 2010 (=3), regência de Vênus
Período Peixes
Era Aquário, regência de Urano

 swordspageoriginal       O arcano de hoje nos fala de novas idéias, e, aproveitando esse conselho, a minha postagem será diferente das demais, sendo um convite que faço a você, que a lê, a meditar nas energias que o Pajem de Espadas representa. Portanto, se estiver disposto a esse pequeno exercício de meditação, basta que se sente confortavelmente em qualquer lugar silencioso por 10 minutos e procure visualizar as imagens que sua mente criar para o texto abaixo. Boa viagem!

     Feche os olhos. Respire profunda, rítmica e pausadamente, sem esforço, inalando pelo nariz e liberando o ar pelos lábios entreabertos. Inspire contando até 4. Prenda o ar, contando até 4. Solte o ar, contando novamente até 4. Tranquilo. Silencioso. Prestando atenção unicamente à sua respiração. Faça isso umas 10 vezes, procurando a cada inspiração acalmar mais e mais a sua mente. Deixe os pensamentos fluirem, mas não se detenha em nenhum deles. Deixe-os passar, como se fosse um filme no qual você não prestasse nenhuma atenção. Nada mais importa, a não ser o silêncio e o seu respirar. Profundo, calmante, tranquilizador.

     Imagine-se agora numa estação de trens. Visualize a estação, os trens, os vagões, o barulho distante das locomotivas, dos passos das pessoas. Ouça os sons, sinta os cheiros, veja as cores. Perceba o tamanho, o espaço ao seu redor. Olhe para o alto e veja o grande relógio que marca a hora das partidas. Repare que ele não tem ponteiros. O tempo está parado e é todo seu. Você está calmo e tranquilo, simplesmente olhando a passagem lenta dos vagões que vão abandonando a estação. Num deles, uma pessoa jovem lhe sorri e estende a mão. Lentamente o vagão passa à sua frente e a voz lhe diz:

     “Suba! Meu trem irá viajar por lugares maravilhosos. Venha!”

     Essa jovem criatura é o Pajem de Espadas, um mensageiro, um entregador de novas oportunidades oferecidas a você pelo Destino. O convite pode ser pequeno (um comentário, um encontro casual, um notícia lida ao acaso) ou grande (uma virada do destino) mas, independente de como chegue a você, sempre exige que se faça uma escolha. Você vai ou fica? Aceita ou recusa?  Sempre lhe traz um novo questionamento, uma nova chance. O que devo aprender? O que preciso estudar mais? Tenho ouvido o que as pessoas falam? Tenho ouvido à minha voz interior? Estou prestando atenção em tudo à minha volta e selecionando ao que devo dedicar ainda mais a minha atenção?

     Enquanto isso, já dentro do vagão vazio, onde apenas a figura jovial, alegre, de olhar esperto do Pajem de Espadas está sentada aguardando para lhe fazer companhia. Sente-se ao seu lado. Olhe pela janela e veja a paisagem. O dia está amanhecendo e os trilhos cortam uma paisagem ainda recoberta pela neblina.  Ainda que você esteja confortavelmente instalado dentro do vagão, você começa a perceber os sons do alvorecer, com os pássaros cantando, o barulho que o vento provoca nas folhas, os sons do campo e da floresta. Você está calmo, tranquilo, perfeitamente consciente de quem é e de onde está. Cada vez mais, a cada respiração profunda, sua visão parece se amplificar, e você consegue enxergar mais e melhor através da névoa e da distância. Os sons ficam cada vez mais claros, mais nítidos. Preste cada vez mais atenção, tentando ouvir o que normalmente você não ouviria. Ouça o silêncio. Ouça o seu silêncio interior.             

     Você também é um jovem atento, alerta, disposto, observador como o Pajem de Espadas. Sua visão é clara porque a sua audição é aguda. Você consegue separar vibrações distantes e profundas dos sons do dia a dia. E, como um mensageiro atento, sempre curioso e perspicaz, você sabe que não é o burburinho diário que deve exigir a nossa atenção mas, ao invés, é o silêncio, onde os verdadeiros e expressivos sons existem.

     Olhe mais uma vez a paisagem sendo iluminada pelo sol. Deixe-se penetrar por essa nascente claridade da manhã e sinta-se renascido, recuperado, curado, calmo, consciente, disposto. Volte a prestar atenção à sua respiração, harmonizando-a com o ritmo de seu coração, com a paisagem brilhante que está em sua mente. Tome consciência do espaço que o rodeia neste momento, ouvindo os seus sons. Respire profundamente. Tranquilamente e vá lentamente abrindo os olhos. Lentamente. Sem pressa. Mantendo um estado de tranquilidade e disposição. Olhe à sua volta e saiba que você pode, sempre que quiser, conectar-se com esse arquétipo, através de uma breve meditação. Ele poderá sempre ajudá-lo a perceber que quando a sua mente se inquieta não é motivo para temores. Simplesmente novas idéias estão surgindo e procurando maneiras de se concretizarem. Que podemos criar maravilhas com o nosso pensamento. Vivenciar esse Pajem é ser curioso, investigador, astuto, interessado e criativo. Viva-o com bastante energia!

     Aproveite este dia para planejar novas estratégias para o seu desenvolvimento pessoal, para os seus negócios, prestando atenção às notícias veiculadas, às conversas ouvidas, às mensagens recebidas. Faça uma mudança ou algo novo. Escolha um novo caminho para ir ao supermercado, por exemplo. Seus sonhos são um importante canal de comunicação, portanto fique atento ao que eles lhe dizem. Marte pede que você seja mais agressivo nos seus empreendimentos, portanto vá à luta, mas sempre sem perder o sentido de amor e beleza (Vênus)! Ofereça seus serviços, apresente seu trabalho, divulgue-se! Escreva, comunique-se, não fique parado (Mercúrio).Voe com o vento!

     Tenha um excelente e produtivo dia!