Se há uma expressão que sempre me intrigou foi a “sair à francesa”. Passei anos me perguntando o porque dos franceses não se despedirem uns dos outros ao sairem. Quando estávamos numa grande festa, meus pais faziam questão de agradecerem e despedirem-se dos anfitriões, mas justificavam o fato de não cumprimentarem os demais com essa tal de “sair à francesa”. Logo na França, que na minha imaginação de garoto era um lugar de pompa e circunstância, de perfumes e rendas, de mesuras e beija-mão!
Quando comecei a estudar tarot, o 5 de Espadas me parecia uma carta muito difícil de ser compreendida. Eu não encontrava uma situação possível para ela, em termos da realidade que eu vivia, a não ser aquela dos livros: derrota, infâmia, humilhação, comportamento indigno, fracasso, decepção, ambição desmedida. Além disso, a carta era ambígua demais, pois sempre encontrava uma definição que trazia “vencer a batalha”, “batalha em que não há vencedores”, “aceitar limitações”, “vitória de Pirro”. Afinal de contas, o que é que eu digo para o meu consulente? Que ele é um fracassado ou um vitorioso? Que ele deveria, ou não, continuar na luta? Que ele tem possibilidades de ganhar ou de perder? E, se ganhar, porque ficar amargo com isso?
Bom, com a idade e o natural aumento da experiência devido aos embates que a vida também me propôs, compreendi que muitas vezes uma “saída à francesa” é a melhor maneira de se agir. Saber a hora de ficar quieto e bater em retirada é tão boa estratégia quanto planejar avanços e ataques. Reconhecer quando não temos em mãos os recursos, ou não estamos devidamente habilitados, emocional ou intelectualmente, para determinadas situações é sinal de sabedoria, de autoconhecimento, de capacidade de aprender e de ser criterioso. Reconhecer a perda é o primeiro degrau para a escalada à vitória. A atitude contrária a essa “saída à francesa”, é “dar murros em ponta de faca”, que nem precisa de explicação e quem assim se comporta sabe que, no mínimo, ficará inválido de uma das mãos. É evidente que quem insiste no erro, quem quer ter a razão a qualquer custo, quem fica “malhando em ferro frio” é o pior tipo de perdedor, porque insiste em não ver as evidências e nem aprende com as oportunidades.
Entramos hoje na fase excessiva da Lua. Portanto, devemos nos cuidar dos exageros, de não estendermos discussões ou prolongarmos situações que não representam nada de concreto, apenas uma batalha de Egos. Não é uma boa estratégia, especialmente neste período, quando devemos nos respaldar na clareza, na objetividade, na assertividade, na ação correta, justa, mantendo sempre uma atitude elegante. Procure manter uma atitude pacífica e pacificadora, fazendo sempre prevalecer o bom senso. Se as coisas não estão saindo como você pretende, não se desespere, pois é temporário. Reserve energia para uma ocasião mais propícia. Tempos de opressão parecem ser o oposto do sucesso, mas, quando vividos por pessoas sábias, fortes, íntegras, confiantes e responsáveis, eles podem representar uma abertura para grandes realizações. Aquele que consegue manter-se otimista em meio a uma crise, sabendo dobrar-se ao sabor dos ventos do destino, reconhecendo seus erros e buscando novas soluções, sem desistir ou perder as esperanças, usando a razão, a sensibilidade, a lógica e a intuição, está marchando para a vitória.
Agora, voltando ao tema que me levou a essa comparação com o 5 de Espadas: a origem da expressão “sair à francesa” pode estar relacionada com o fato dos soldados franceses abandonarem as frentes de batalha, sem comunicarem aos seus superiores, o que ajudou a provocar severas derrotas no Canadá, na Alemanha e na Índia, para a França. Os ingleses, com seu humor peculiar, cunharam a expressão no sentido de “alfinetarem” seus desafetos, os franceses.
Interessante, não é mesmo, que uma carta que normalmente significa abandonar a luta, perder a batalha, sair derrotado e humilhado de uma situação, encontre numa expressão tão popular sua representação escrita. Quem “sai à francesa” sai disfarçando, fingindo que não está nem indo e nem vindo, abandonando um lugar deselegantemente.
E, se hoje for a um daqueles almoços domingueiros com toda a família reunida, seja bastante político, um verdadeiro diplomata. e ao sair, despeça-se de todos. Das tias, dos primos, dos avós, dos sobrinhos, dos amigos destes, dos cunhados, das irmãs, dos pais, dos donos da casa e também da cozinheira. Ao invés de fazer aquela tentadora “saída à francesa”, mostre que as suas atitudes são dignas de um lorde inglês! (Desculpem! Não pude resistir à essa “tirada” infame. Depois dessa, acho que já é hora de eu “sair de fininho”)
Bom domingo!