sábado, 27 de fevereiro de 2010

TaroT Namur

    Conjunto TaroT Namur Mais de mil novos decks de tarots são produzidos anualmente, entre os artesanais, com baixíssima tiragem, normalmente feitos por encomenda;  aquele que são impressos e distribuídos por pequenas gráficas ou editoras e que, também, atingem um número restrito de consumidores, e os demais, produzidos e distribuídos mundialmente em larga escala, aos quais temos acesso de compra nas grandes livrarias, lojas especializadas e, até mesmo, pela internet.

       Basta-se uma rápida consulta na internet para vermos a enorme variedade de títulos à disposição, cujas imagens variam da mais simples garatuja, passando pelos anime japoneses, até obras originais de grandes artistas do porte de um Salvador Dalì. Há para todos os bolsos e gostos. A divisão mais notável entre eles está entre os que seguem o padrão Marseille, com a Justiça como a 8ª carta entre os Arcanos Maiores, e os que seguem Crowley, quando a Força troca de lugar com a Justiça, que passa a ser considerada na 11ª posição.

     Imperatriz Recentemente tive a oportunidade, através de uma grande amiga e mestra, a taróloga Rosa Silva, de ter em mãos os 22 Arcanos Maiores que compõem o TaroT Namur. Há muito eu esperava por uma oportunidade de ver esse que foi o primeiro deck de tarot impresso no Brasil cujas cartas tivessem sido originalmente criadas para ele e sob a orientação de um grande especialista no assunto. O Prof. Namur formou uma verdadeira geração de tarólogos, traduzindo a sua visão da tarologia no uso e aplicação cotidiana. Esse mestre sempre procurou apresentar o tarot como algo vivo, atemporal, imediato, cujas figuras falam através dos seus símbolos a todas as pessoas. Sem descuidar de suas origens ou de outros aspectos mais esotéricos, o Prof. Namur foi um dos pioneiros a trazerem essas arcanas cartas para o momento atual, ensinando os seus alunos a relacioná-las com atividades, pessoas, figuras sociais, condições sócio-político e econômicas contemporâneas.

     Estrela A taróloga Rosa Silva ganhou o dela, há anos, de um grupo de alunos, como presente de final de curso. Cuida das cartas com extremo carinho e conserva-as ainda em sua embalagem original de veludo negro com a inscrição “Tarot Namur” em dourado. O conjunto é composto de 22 cartas que seguem o padrão Marseille (Justiça-VIII / Força -XI). Marta Leyrós, na época uma das discípulas do Prof. Namur foi quem criou as magníficas 22 lâminas, utilizando-se de bico-de-pena, lápis de cor e canetas hidrográficas, num trabalho que consumiu 5 anos.

     O conjunto da obra é extremamente harmonioso, não havendo cartas mais ou menos elaboradas que as outras. Não se nota uma predileção, um favoritismo maior por qualquer dos arcanos, tendo todos recebido a mesma atenção e tratados com o mesmo cuidado e acuidade simbólica. As cores utilizadas pela artista são bastante intensas e há um notável uso de gradações de azul perpassando todas as lâminas. As figuras são bastante realistas, com a roupagem extremamente detalhada onde notáveis efeitos de superposição e de pequenos sinais gráficos podem ser notados especialmente nas cartas da Imperatriz e do Louco.

      Papa O Papa (Arcano V) destaca-se por ter um conjunto étnico de personagens bastante incomum: a figura do hierofante é de raça negra, enquanto que, baseando-me no açafrão das vestimentas e na substituição da tradicional tonsura por uma trança (uma clara e a outra escura), as duas figuras a seus pés parecem ser de origem oriental. As colunas Boaz e Joachin são bastante elaboradas, porém fugindo da tradicional ordem grega. A cruz tríplice e o pentagrama, além do piso com desenho de tabuleiro, fornecem uma ampla gama de possibilidades a serem desenvolvidas durante uma leitura ou, mesmo, na meditação com a carta.

   Enamorados   Vício e Virtude, bifurcações a serem escolhidas, opções a serem feitas, dualidades a serem observadas e assumidas estão perfeitamente representadas na lâmina dos Enamorados, onde o jovem parece englobado por uma iluminação própria, que tem aspectos terrenos e celestiais, ao mesmo tempo. Encontra-se num ponto do caminho onde ele se divide, tendo que optar entre a exuberante e luxuriosa jovialidade da mulher à esquerda, e a contenção clássica e formal da mulher loura à sua direita. Não um Cupido, mas o seu arco e seta, pairam sobre a cabeça do rapaz que é observado pela graciosa figura dos “putti”, que brindam a sua escolha (?) com flores.

    Louco Figura das mais conhecidas e avaliadas num conjunto de cartas, o Louco, em sua elaboradíssima roupa que nos remete aos personagens italianos da “commedia d’arte”, é o tradicional bufão equipado com seu bastão e sacola, tendo como companheiro uma figura animal que não é o cão que normalmente vemos nos tarots derivados das imagens Waite-Smith, mas um animal ancestral, com orelha e olhos planos, à maneira egípcia e um focinho transformado no bico de uma ave. Intencional ou não, essa figura é um sutil acréscimo dos autores à idéia de instinto, de voz interior, de intuição. É ancestral, remota e onírica em sua forma. À beira de um precipício, abandonando a aridez de uma vasta planície, prepara-se o Louco a dar o seu primeiro passo rumo à sua grande aventura, onde campos verdejantes e rios de águas cristalinas o esperam. Provavelmente voará, utilizando-se de sua touca de dois cornos como antenas a lhe servirem de guias na grande viagem que à sua frente se descortina.

     Enriquecido com símbolos astrológicos, letras hebraicas, pentagramas e demais símbolos mágicos, o Tarot Namur é de grande valia para quem dele se utiliza, pois favorece o desbloqueio dos canais intuitivos, permitindo que as imagens se comuniquem diretamente com o inconsciente, favorecendo a união do conhecimento técnico do tarólogo com a sua sensibilidade e percepção interior. Para o consulente, é também de fácil compreensão, apesar da grande quantidade de informações contidas em cada lâmina.

     Roda da Fortuna Como tarólogo e colecionador de decks de tarot, foi-me uma agradabilíssima surpresa poder constatar, com o tarot em mãos, a excelente qualidade do material. Bem sabemos o quanto a maioria das cartas fabricadas com essa finalidade, no país, ainda estão longe em termos de durabilidade, acabamento, facilidade de manuseio e nitidez de impressão, quando comparadas com suas similares estrangeiras. O TaroT Namur é uma honrosa exceção. Rosa Silva, que usa com certa frequência esse conjunto de cartas há anos, não tem o que reclamar e, nem mesmo as lâminas, apresentam sinais de desgaste pelo manuseio.

     Por isso, e muito mais que só mesmo com esses 22 Arcanos Maiores nas mão para experimentar, é que eu faço uma pausa entre as postagens deste Blog para comentar esse excelente trabalho que é um marco na história do tarot no Brasil e enaltece o trabalho dos nossos profissionais tarólogos e artistas plásticos que se provam capazes de produzir algo de nível internacional.

Diabo      Ao renomado Prof, Namur e à talentosíssima artista Marta Leyrós, os meus cumprimentos e a esperança de ver esse jogo de cartas novamente accessível ao grande público e aos profissionais que dele se utilizarão para cumprir o grande objetivo desse oráculo: a ajuda ao semelhante.

Ilustrações: Todas as lâminas mostradas nesta postagem fazem parte do TAROT NAMUR, ilustrado por Marta Leyrós.

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