quarta-feira, 31 de março de 2010

Carta do Dia: O PENDURADO

    Enforcado Estive recentemente hospitalizado para uma intervenção necessária e que há algum tempo, confesso que por medo, estava protelando. Foram dias de angústia os que antecederam a minha internação, onde as mais escabrosas fantasias me atormentavam nos breves momentos de sonho nas muitas noites mal dormidas. Quando fui ao meu médico para dizer-lhe que me responsabilizaria completamente pelas minhas decisões e que assumiria as consequências conscientemente, mas que não iria fazer a referida intervenção cirúrgica, ele nem me deixou continuar na argumentação e exigiu de imediato a minha internação.

     Fui para o hospital feito um zumbi, num estado de alienação, sem ouvir direito o que falavam comigo, olhando as ruas pela janela do carro mas sem reconhecê-las, rezando para acordar daquele pesadelo. A frieza e magnitude da sala de espera, o impessoal tratamento dispensado na admissão e verificação do plano de saúde e da documentação necessária, as sequenciais luzes frias dos corredores até o quarto, o desvestir-me para deitar numa cama que não era minha e que mais parecia, pela altura e desconforto, uma pedra ara, um alar sacrifical, tudo me fazia sentir pequeno, sozinho, destituído, aterrorizado, já incapaz de reagir. Um joguete nas mãos daqueles estranhos que me tratavam com uma forçada simpatia profissional e um profundo desprezo pelos horrores que este que vos escreve estava passando.

     Se eu tenho um problema no coração, com certeza ele se agravou muito mais naquelas longas horas entre o consultório e a sala de cirurgia. E se esse problema fosse realmente grave, eu teria morrido ainda no carro, tal era o meu pânico e a minha ansiedade. Pelo menos era isso que eu pensava, esperando para, a qualquer momento, sentir a dor, o impacto final, o tal do filme de uma vida toda que é projetado em forma de lembranças no cérebro que vai se apagando. Enfim, tudo o que aprendi nas salas escuras dos cinemas entre estórias de terror e dramalhões produzidos no interesse sádico dos produtores em arrancar-nos o dinheiro, os gritos, o suor e as lágrimas.

     Horas depois, já no quarto, que me parecia bem menos estranho ou agressivo, prestando atenção a cada som dos aparelhos ligados ao meu corpo, tentando encontrar algo de diferente na minha respiração ou no ritmo do meu batimento cardíaco, sentia-me renascido, um verdadeiro Lázaro trazido à vida pela ciência, por um milagre divino e pela minha bravura, coragem e resignação. Sim, isso é para ser ridículo mesmo, mas, respeitem um convalescente: não riam muito alto!

     Passei alguns dias hospitalizado, para avaliação dos resultados e devido a uma pequena complicação que possivelmente implicaria  na necessidade de uma nova cirurgia. Não foi um tempo agradável, sem dúvidas.

     Procuro ser uma pessoa muito organizada, até mesmo porque como moro sozinho, tenho que prever momentos como esse em que, por alguma impossibilidade, não possa ir ao banco, pagar uma conta, comprar material de limpeza para que a faxineira possa trabalhar, ter uma agenda sempre completa e atualizada para não deixar de avisar quando tiver que faltar a um compromisso, considerar a possibilidade do computador quebrar ou do sistema de internet estar paralisado e não poder receber e enviar e-mails ou postar neste Blog, bem como ter alguns já escritos e de reserva, para qualquer eventualidade. Mas a maneira com que as coisas se conduziram pegaram-me quase de surpresa. Clientes com leituras agendadas não foram avisados, não dei um telefonema a um parente que pudesse lhe dar esperanças de vir a herdar, em breve, alguns tarots e algumas estantes abarrotadas de livros. Nem mesmo ao síndico ou porteiros do edifício em que moro, eu avisei em caso de… bem, vocês sabem o que.

     Foram longos dias sozinho no hospital, recebendo apenas a visita de um sobrinho, “nerd” de carteirinha, desses que entendem tudo sobre computadores e que se encarregou das postagens que vocês leram e que já estavam prontas (não disse que sou organizado e precavido?) bastando apenas algumas complementações. Todos os dias antes de ir para a faculdade ele passava pelo hospital e confirmávamos o texto a ser enviado, posteriormente para este Blog. Devo a ele não ter falhado, ao menos nisso, com o meu compromisso.

     Estar parado, sem alternativas a não ser aguardar ansiosamente a visita do médico com a sentença salvadora, o nosso salvo-conduto para a vida, para a liberdade _ “Você está liberado. Vai para casa hoje” _ é, além de muito aborrecido, um momento forçado de estar-se só consigo mesmo, numa bolha de tempo onde as horas levam um tempo diferente daquele dos nossos relógios de trabalho, de diversão, de descanso, de férias, de lazer. Acho que é o mais próximo da idéia de limbo que eu já experimentei. Aliás, para um ex-aluno de tradicional colégio religioso, o limbo me parecia algo inútil pois, afinal, ou se é mau e vai-se queimar nas chamas do inferno, ou as alegrias e êxtases celestiais estão garantidos no paraíso. Que lugar é esse, cinzento, frio, desconfortável, atemporal, onde se ouvem algum choro e ranger de dentes? Naqueles velhos tempos eu não sabia e nem tinha como compreender. Agora sei que se chama quarto de hospital e quando a gente, em desespero, chama pelos cuidados da mãe, ela se nos apresenta na figura dessas afilhadas de Ana Néri, que nos banham, alimentam, ouvem e, sorrindo pacientemente, nos fazem entender que ali estão, por nós. O Pendurado é o Arcano XII do tarot e, se desmembrarmos o número, 12= 1+2=3, temos o número da Imperatriz, a grande mãe, a que cuida, nutre e protege. Interessante, não?

     E o que se faz nesse limbo? Espera-se. Pensa-se. Medita-se. Aguarda-se que algo aconteça e que nos remova de lá. Aprende-se a aceitar que não temos total domínio sobre tudo e que ficamos muitas vezes à mercê de acontecimentos que não são desejados, mas dos quais não conseguimos nos esquivar. Não estamos ativos, trabalhando, convivendo com nossos familiares ou amigos da maneira que queremos, mas também não estamos dormindo, nem mortos, nem idiotizados. Ficamos conscientes, aguardando o desenrolar dos acontecimentos sobre os quais não temos total domínio. É como se estivéssemos vivendo o nosso próprio papel num filme sobre nós mesmos e o diretor, numa crise de “bloqueio criativo”, fizesse uma longa pausa para ver como vai consertar o script.

     Como as horas eram longas e brancas, aproveitei para fazer mais um balanço de vida, reavaliando projetos e resultados, repensando atitudes, analisando meus comportamentos. Resolvi que deveria afundar-me mais nesse temor que senti face à inevitabilidade da cirurgia e dos meus sentimentos em relação à morte. O quanto minhas convicções filosóficas e religiosas estão realmente sedimentadas em mim? O quanto eu compreendo e aceito os ciclos que ocorrem em minha própria vida e o quanto deles eu me aproveito como experiências a serem utilizadas no futuro, em situações parecidas? Como é que eu tenho tratado o meu corpo físico e se tenho lhe dedicado o necessário equilíbrio de atenção e cuidados com que trato a minha parte espiritual e emocional? O que devo mudar em mim para assimilar melhor os hábitos e as práticas que possam permitir que eu viva de maneira mais saudável, evitando os percalços que podem ser evitados? Em ignorando estes cuidados ao meu corpo físico, do que estou tentando escapar? O que devo mudar, na minha forma de conduzir minha vida, para obter dela novas e melhores respostas? Por que acabo sendo irresponsável, querendo ignorar ou fugir a situações, alegando medos infantis, como foi o caso ao recusar-me à cirurgia? Será que eu quero me fazer de coitadinho, de angariar a piedade e, sobretudo, o reconhecimento dos outros fazendo-me de vítima folhetinesca daquelas que só se reconhecem vivas através do trabalho, nunca merecedoras de outros gozos senão aqueles proporcionados pela vaidade de um serviço supostamente bem feito?

     Nesses dias de verdadeiro retiro espiritual, creio ter feito uma nova imersão nas águas purificadoras da alma, imergindo e sepultando um velho Alex para emergir para uma nova chance. Uma ressureição para uma nova consciência, disposto a aproveitar mais esta oportunidade, cheio de novas resoluções e disposto a rever conceitos há muito estabelecidos e que devem, certamente, estarem com seus prazos de validade vencidos. Vivi horas de profunda angústia, grande medo e muita dúvida, porém submeti-me à razão e às evidências, aceitando enfrentar o que me era proposto pelos médicos. O resultado dessa cirurgia foi muito além de cortes, sangramento e dores físicas, mas provocou uma alteração mental que eu poderia chamar de uma iluminação, uma epifania, ao realizar o quanto esse novo batismo, essa nova prova iniciática permitiu que eu ressurgisse com novas e amplas expectativas. Sem querer desrespeitar ou ofender os sentimentos religiosos de ninguém, é interessante também pensar que isso tudo me aconteceu praticamente ao final da Quaresma, um período reservado à introspecção e reflexão (os 40 dias que Cristo passa no deserto, privando-se e sendo tentado) e nos prepara para celebrarmos a auto-imolação do Salvador (e em todas as religiões temos Salvadores que se sacrificaram) pelo resgate da humanidade e o seu consequente renascimento, como um espírito totalmente elevado. Cada um está em um nível de desenvolvimento e tem uma missão a cumprir.

     O Pendurado quando bem aspectado, numa leitura de tarot, dependendo das cartas que o acompanham e da questão proposta pelo consulente, pode simbolizar um tempo de espera, de renúncia, de meditação, de suspensão das atividades e do convívio social. Significa, também, um novo olhar sobre uma determinada situação, uma alteração de comportamento, o abandono de hábitos e vícios; recuar para poder avançar; abandonar a tirania do controle das situações. Traz consigo também a idéia de sacrifício, de desprendimento, de resignação, de apostolado, de abertura espiritual. É indicativo de um tempo de estagnação, de paciência, de aguardar resultados, de transição.

     Em seu aspecto “sombra”, quando ocupa uma posição considerada negativa, ou de obstáculo, numa jogada, pode esta falando de dependência de drogas e outros tipos de vícios, de irresponsabilidade, de aprisionamento, de abandono, de revezes, amor não correspondido. Pode também, neste caso, simbolizar greve, traição, martírio; inversão de valores ou de papéis, inclusive os sexuais; vingança, rancor e inveja.

     O patrono das quartas-feiras, Mercúrio, além de nos favorecer as comunicações, possibilita que extraiamos das experiências vividas os ensinamentos necessários que, analisados à luz da razão, passam a integrar o nosso repertório de “bóias salva-vidas” para todas as ocasiões que deles necessitarmos. A Lua entra hoje no signo de Escorpião, e como ela está em sua fase Cheia, intensifica as energias desse signo. Portanto é bom nos controlarmos, evitando sermos muito críticos ou impacientes. Não julgarmos para não sermos julgados. Pode nos deixar muito sensíveis a qualquer forma de crítica ou comentário e podemos querer resolver questões pendentes há muito, pois Escorpião vem para expurgar e eliminar. Bom senso, um passo atrás antes de reagir, dar-se um tempo para refletir e esperar que as altas ondas de incontrolável emoção voltem se acalmar é o conselho do Pendurado para dias como hoje. Mas, aproveitando que Escorpião significa, também, mudanças e podas de excessos, aproveite para abandonar hábitos nocivos, vícios que aprisionam, desintoxicar o corpo e a mente.

     Feliz por estar de volta, tenhamos todos um ótimo dia, abandonando o que chegou ao fim, o que ficou para trás e… recomeçando!

Imagem: TAROT NAMUR, por Prof. Namur Gopalla e Marta Leyrós (Academia de Cultura Arcanum)

terça-feira, 30 de março de 2010

Carta do Dia: A FORÇA

"Não ser selvagem! Que sou eu senão um selvagem, ligeiramente polido, com uma tênue camada de verniz por fora? Quatrocentos anos de civilização, outras raças, outros costumes. É eu disse que não sabia o que se passava na alma de um caeté! Provavelmente o que se passa na minha com algumas diferenças."

“Caetés”, Graciliano Ramos 

     Força Um engenheiro desempregado decide, enquanto aguarda melhores oportunidades de trabalho, aceitar dar aulas numa escola pública num bairro operário de baixíssima renda. O que essa refinada e tranquila pessoa está preparada é para o grupo de mal-educados e agressivos delinquentes que ele terá que enfrentar em seu primeiro dia de aula. O que esses jovens estão acostumados é com a violência urbana que enfrentam, a falta de apoio que a sociedade lhes dá e a convivência com famílias desagregadas. O engenheiro, duble de professor é apenas mais uma das vítimas dos seus violentos instintos incontidos.

     O que eles não sabem é que estão lidando com um homem extremamente seguro de si, que também enfrentou inúmeras humilhações na sua caminhada profissional, principalmente por questões raciais e de origem social, e que está preparado para mais essa batalha, ao exigir cortesia e respeito comum de seus alunos. O respeito, a atenção e o amor que ele dedica a esse grupo de jovens marginalizados acaba produzindo seus efeitos positivos e uma verdadeira mudança é feita, não só no ambiente escolar, mas como os ex-rebeldes passam a se integrar com a sociedade, resgatando a sua auto-estima e finalmente conseguindo ver-se merecedores da mesma dignidade conferida e esperada a todos os  cidadãos .

      Estou certo que muitos de vocês já se recordaram de onde o exemplo de hoje foi extraído. “Ao Mestre com Carinho” foi um dos filmes que marcou a minha geração por dar uma mostra do poder regenerador do amor. Não aquele amor novelesco e muitas vezes egoisticamente impotente no sentido transformacional, mas do amor que é sólido, incondicional, desenvolvido através de um longo processo interno e que se exterioriza de forma redentora.“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobre-carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30).  É o saber dominar as situações, avaliando-as e compreendendo-as em suas raízes, em suas motivações,  aceitando-as com são mas procurando faze-las evoluírem para um patamar mais elevado.

     O professor negro, de origem humilde, criado na periferia da grande cidade, convivendo com um sem-número de situações adversas no meio familiar e no ambiente onde se desenvolveu além de ter sentido o reflexo disso tudo na maneira vexatória e preconceituosa em que foi tratado ao longo de sua carreira profissional, tinha tudo para dar errado. Grandes eram as chances dele ter-se submetido às condições que seu meio lhe impunha, adotado os precários valores morais e éticos de seus companheiros e se tornado mais um excluído social. Entretanto, tendo plena consciência de suas dificuldades e de quanto isso seria um empecilho na sua trajetória,  decide exercer através da razão e da vontade uma alteração nos planos que supostamente o Destino lhe reservava. Dedica-se ao estudo, enfrenta pacifica e compreensivamente a rejeição dos amigos e colegas, tanto os do seu bairro de origem, como os do novo ambiente que passa a frequentar. Domina seus temores, sua impulsividade, desenvolve a temperança, reforça a sua auto-confiança e desenvolve um olhar amoroso aos outros seres humanos.

     Quando falamos do Arcano XI do tarot, a Força, estamos falando desse estado de autoconhecimento que nos permite saber quem somos, controlando nossos instintos, sem contudo ignorá-los ou desprezá-los, e extrair desse exercício de sublimação a força necessária para evoluir. Vemos um exemplo claro dessa idéia de transmutação entre o mais animal e o mais espiritual na recomendação do celibato entre sacerdotes, freiras,  místicos e outros religiosos. A idéia primordial é que a energia sexual contida possa ser utilizada para estimular e favorecer a força da intenção devocional e avançar o processo de desenvolvimento espiritual dos seus adeptos. Movendo o foco dessa energia do âmbito dos prazeres físicos para o da espiritualidade, o fluxo energético se processaria mais intensamente.

     Forte não é aquele que grita mais alto ou bate mais forte, mas sim aquele que não precisa nem gritar ou bater para fazer-se respeitado. A Força vem de dentro, de um trabalho interno de controle da raiva, do orgulho, do desejo; do desenvolvimento de padrões éticos e morais, de carisma, equilíbrio e paz interior; de planejamento, obstinação e direcionamento. Responsabilizar-se por seus atos, ter o controle de sua vida ser capaz de relevar e perdoar os erros e defeitos dos outros e uma grande dose de paciência são atributos indispensáveis para que se possa vivenciar a Força em seus aspectos mais positivos.

     Quando a carta da Força aparece numa jogada de tarot, dependendo de sua posição no esquema escolhido para a disposição e leitura, além de se levar em conta as demais cartas e a questão proposta pelo consulente, pode significar que devemos estar preparados para enfrentar, com coragem e convicção, qualquer ameaça que possamos vir a sofrer. Pode estar significando que devemos perdoar e esquecer erros cometidos por outros, e até por nós mesmos. Saber que há um limite para tudo e que nem sempre é possível ter-se tudo o que se quer, mas satisfazer-se e apreciar aquilo que conseguimos. Talvez seja hora de aplacar a própria ira ou a dos outros, utilizando-se da razão e da sensibilidade. Pode ser indicativo que estamos, no momento da leitura das cartas, de posse da coragem e da determinação para realizarmos as tarefas, por mais árduas que elas possam se apresentar. Se as pessoas com quem convive estão desarvoradas, descontroladas, lembre-se de manter-se calmo, resistindo à tendência de julgar, sendo compassivo e procurando sempre ver os dois lados da questão. Prenuncia o fato da sexualidade estar sendo vivida plenamente, da saúde física estar em ótimo estado, e que as reações emotivas estão sob controle. É também um alerta para rever como está conduzindo a sua situação financeira, não se deixando escravizar por compromissos desnecessários.

     Quando esse Arcano aparece mal aspectado, ou seja, numa posição menos favorável, daquelas que nos remetem à idéia de obstáculos, a Força pode ser indicativa de um caráter débil, de atitudes arrogantes, do mal uso a inteligência. Estar desatento dentro de uma situação e deixar-se ser pego de surpresa são alguns dos aspectos negativos desta carta, assim como a arrogância, os abusos físicos e mentais que possamos impor aos outros. Reprimir ou tentar dominar os outros ou as situações, impondo de maneira manipuladora ou tirânica a sua vontade, também é uma das facetas “sombra” desta carta.

       Na prática podemos nos utilizar de diversos instrumentos para desenvolvermos as qualidades positivas simbolizadas pela Força. A meditação, a visualização criativa, a yoga, a neurolinguística, os trabalho criativos como a pintura, a escultura, modelagem, etc. Também os exercícios físicos ajudam a descarregar as energias reprimidas e beneficiando-nos com músculos e pele mais tonificados. O boxe, por exemplo, é uma das opções. Longas caminhadas e o contato com a Natureza sempre são bem vindos, pois nos harmonizam e, o que é a Força, a não ser o controle consciente entre forças complementares e o consequente encontro com a tão almejada Paz Interior?

     Hoje, com a Lua Cheia em Libra, estaremos vivendo energias bastante re-equilibrantes, com a grande possibilidade de nos sentirmos mais flexíveis, mais maleáveis, sem contudo abandonarmos os nossos pontos de vista. Não nos é importante, sob essa influência, sermos os donos da verdade, termos a razão em tudo, mas a convivência pacífica com os que nos são caros e as demais pessoas. Com o social em alto, e conscientes da nossa Força interior, ninguém nos tira do sério, nem mesmo aquele chato, brigão, que quando bebe um pouco mais começa a medir forças com todo mundo. Estamos centrados, equilibrados, cônscios dos nossos potenciais, conhecemos nossas fraquezas e não as renegamos, mas as compensamos com o domínio sobre elas. “O verdadeiro leão é aquele que conquista a si mesmo”, escreveu Rumi, poeta, jurista e teólogo persa, por volta de 1.250 da nossa época.

     Aproveitem esta terça-feira e, se dispuserem de algum tempo, procurem meditar na força curadora e transformadora do amor incondicional.

Post Scriptum:

     Eu havia terminado de escrever a postagem de hoje quando leio que o Ricky Martin, aquele ex-Menudo que se transformou num profissional de música famoso, declarou em seu site (www.rickymartinmusic.com) que é gay. Esse tipo de declaração tem um enorme impacto na carreira de qualquer artista, e é um dos grandes motivos e justificativa para levarem vidas duplas, permanecendo, oficialmente,” no armário”.  É razão para perderem uma grande fatia do mercado que consome sua arte. Milhões de fãs do sexo feminino, mundo afora, nutrem uma paixão arrebatadora por esses personagens que vivem na mídia e, esse tipo de notícia, destrói com seus sonhos eróticos, com suas paixões platônicas e é, portanto, o grande terror das produtoras, das companhias de cinema, dos estúdios de TV, de toda a máquina que vive e se alimenta do trabalho e da persona criada por esses personagens.

     Como a carta do dia se refere à coragem em se “assumir”, aceitar-se e procurar fazer de si próprio um veículo de evolução, acho pertinente citar parte do texto escrito pelo cantor, nesse importante momento da sua vida e de sua carreira. Creio que ele, por si, traduz muito melhor e de forma muito mais experiente, humana e realista o que eu procurei explicar no meu texto acima:

“Muitas pessoas me diziam: Ricky isso não é relevante, não vale a pena, pense em todos os anos que você vem trabalhando na construção da sua carreira e como tudo isso irá entrar em colapso. Muita gente não está pronta para aceitar a sua verdade, a sua realidade, sua natureza.

Porque esses conselhos me eram dados por pessoas queridas, eu decidi seguir com a minha vida sem compartilhar com o mundo a minha verdade completa. Permiti, então, ser seduzido pelo medo e a insegurança tornou-se um instrumento de auto-sabotagem. Hoje eu tomo a inteira responsabilidade pela minha decisão e pelas minhas ações.      

Medo da minha verdade? Não mesmo! Ao contrário, me enche de força e coragem.

Isto não deveria ter acontecido a 5 ou 10 anos atrás. Era para ter acontecido agora. Hoje é o dia, este é o meu tempo e o meu momento.

Estes anos em silêncio e reflexão fizeram-me mais forte e compreender que a aceitação tem que vir de dentro e que este tipo de verdade me dá o poder de conquistar emoções que eu nunca soube existirem.

O que vai acontecer daqui para frente? Não importa. Eu só consigo me concentrar no que está acontecendo comigo neste momento. A palavra “felicidade” tem um novo significado para mim, desde agora. Foi um processo muito intenso. Cada palavra que eu escrevo nesta declaração nasceu do amor, da aceitação, do desapego e de um contentamento verdadeiro. Escrever isto é um passo firme em direção à  minha paz interior e um fator vital na minha evolução.

Eu me sinto orgulhoso em dizer que eu sou um homem gay de muita sorte. Eu sou muito abençoado por ser quem eu sou.”

Ricky Martin, 29 de Março de 2010

Imagem: TAROT NAMUR, por Prof. Namur Gopalla e Marta Leyrós (Academia de Cultura Arcanum)

segunda-feira, 29 de março de 2010

Carta do Dia: A RODA DA FORTUNA

     Peço, por favor, que comecem a leitura da postagem de hoje acionando o “play” no vídeo abaixo para poderem ter, como fundo musical da leitura, a canção “O Fortuna”, composta por Carl Orff sobre os manuscritos encontrados em 1803 na biblioteca da da antiga Abadia de Menediktbeuern, na Alta Baviera.

     Fortuna, que antigamente era chamada de Vortumna, era cultuada pelos romanos (os gregos a chamavam de Tyche) como a deusa da sorte e da esperança. Simbolizava a distribuição de tudo o que havia de bom e de ruim na face da terra, de maneira aleatória, pois tal como a figura da Justiça, era representada com os olhos vendados. Todo ser humano tinha as mesmas oportunidades de viver os ciclos de benefícios e de prejuízos que essa divindade trazia.

     Roda da Fortuna A carta da Roda da Fortuna remete-nos a um conceito filosófico medieval que discute a caprichosa natureza do Destino. A Roda pertence à deusa Fortuna, que a gira a seu bel prazer, mudando as posições daqueles que nela estão situados, permitindo que alguns experimentem grandes ganhos e venturas, enquanto que a outros está reservada uma fase muito mais cruel. O movimento perpétuo que a deusa imprime à roda traz, alternadamente, sorte e azar. Podemos ver nessa simbologia uma parábola das nossas vidas, sempre expostas às transformações. Nascemos, crescemos, aprendemos, amadurecemos, envelhecemos e morremos para novamente renascermos. Repetimos ciclos pré-estabelecidos, como as estações do ano, solstício e equinócio, as fases da lua, o movimento do sol criando o dia e a noite.

   424px-ForutuneWheel   Em muita das ilustrações feitas para as cartas de tarot, especialmente as mais antigas, vemos a Roda dividida em 4 partes, como os pontos cardeais que representam a jornada do sol, com 4 figuras humanas presas a ela, onde pode-se ler: Regnabo (eu irei reinar), Regno (eu reino), Regnavi (eu reinei) e, na base Sum Sine Regno (eu não tenho reino). Essa última afirmação referia-se à humilhação sofrida pelo Imperador Valeriano, imposta pelo rei Shapur I, da Pérsia, por volta do ano 260 D.C., que nele montou como se montasse um animal. Diga-se que Valeriano foi o único imperador a ser preso e feito cativo. As representações medievais da Roda da Fortuna sempre enfatizam a sua dualidade e instabilidade. Se bem repararmos, as cartas próximas a esse Arcano Maior reforçam essa idéia. Basta que vejamos a carta do Carro (7) como um movimento ascendente; a do Eremita (9), como o amadurecimento que nos garante uma visão mais ampla, do topo. A carta do Pendurado (12) reflete o movimento descendente, com sua posição invertida e, finalmente, a Morte (13) não possui nada.

     O número dessa carta é o 10, que simboliza o fim e o começo de uma sequência, pois de acordo com os pitagóricos, os números vão de 1 a 9. O 10 (1+0) representa, ao mesmo tempo um primeiro passo, um primeiro movimento (1) e o fim, o retorno ao potencial absoluto (0).

     Astrologicamente, este Arcano Maior é representado por Júpiter, que é considerado um planeta cuja influência pode ser medida através da expansividade, da prosperidade, da benevolência e do otimismo. Júpiter quer que prosperemos e cresçamos. Ainda que possamos ver nisso unicamente um símbolo de boa sorte, devemos refletir e compreender o valor inestimável das valiosas lições que a má-sorte nos oferece ao impelir-nos em busca de respostas, de soluções. Poderíamos dizer que o importante não é o que nos acontece, mas como lidamos com isso e o que aprendemos disso.

     O Fogo criativo, regenerador, transformador e imprevisível é o elemento da Roda da Fortuna, assim como a letra hebraica  Kaph, significando a “palma da mão” está associada a ela. A quiromancia, a crença de que as formas e as linhas das mão possam revelar a personalidade e o caráter das pessoas, bem como eventos futuros em suas vidas, sempre teve muitos seguidores, numa tentativa humana de ganhar acesso a algum conhecimento sobre o que o Destino lhes reservava. Ainda que a quiromancia e a astrologia possam sugerir alguma forma de predestinação, existe um olhar mais modernos sobre essas artes, inclusive sobre o tarot, que enfatiza considerar-se a importância do livre-arbítrio. Os eventos em potencial mostrados nos desenhos de nossas mãos ou nos traçados dos nossos mapas natais, ou ainda nas cartas dispostas aleatoriamente numa jogada de tarot, apenas se “concretizam”, se realizam em nossas vidas quando agimos ou deixamos de agir, de uma maneira específica.

     Devemos aceitar o que a vida nos oferece, mas termos em mãos as rédeas do nosso próprio destino, sem nos esquivarmos ou negarmos a vivê-lo, utilizando, para isso, a nossa experiência adquirida. As variações e mudanças que percebemos em nossas vidas podem ser atribuídas à boa ou má sorte. A Sorte (Fortuna) certamente exerce sua influência. Mas em fazendo escolhas acertadas, equilibradas, nós também podemos contribuir com os resultados e exercermos um certo grau de controle sobre os nossos destinos. O poeta Virgílio, por volta do ano 30 antes de Cristo,  já dizia: “Fortes fortuna adiuvat”, que podemos traduzir como “ a sorte favorece os bravos”.

     Quando a carta da Roda da Fortuna surge numa leitura de tarot, dependendo sempre da sua posição e das demais cartas que a acompanham, bem como do assunto proposto pelo consulente, pode significar uma mudança de sorte; mutação; a chegada de um período mais benéfico; mutação; coincidências; consequências; algo inevitável com que temos de lidar; vontade divina; reencarnação; renovação; mudanças; viagens; consequências de atos praticados; grande oportunidade que se apresenta; sorte; rotatividade; ciclo; carma.

     O lado “sombra” deste Arcano Maior se revela quando a posição da carta representa obstáculos, assumindo assim a possibilidade de simbolizar azar; fatalidade; resistência à mudanças ou adaptação; interrupções inesperadas; insegurança; estar à deriva, perder o rumo; estagnação, imobilização; atraso; situações passageiras; ter medo ou não querer aceitar o progresso; ter a vida regida e dirigida pelos outros.

     A carta da Roda da Fortuna pode, também, representar um flerte, uma paquera inconsequente, um entusiasmo amoroso passageiro, um “ficar” descompromissado, ou então, o surgimento de um novo romance, com boas possibilidades. Pode indicar o fim de um relacionamento difícil, que não seja satisfatório ou então pode estar indicando uma mudança, uma transformação para melhor numa relação já existente.

     Devemos estar cientes que não há certezas absolutas na vida, a não ser a própria incerteza. Tudo muda. Tudo tem o seu tempo. Devemos estar preparados para mudanças e termos paciência para enfrentar as transformações e esperar por novos ciclos. Se os tempos são bons, devemos nos fortalecer e preparar-nos para embates futuros, caso venham a ocorrer. Se são maus, certamente ficarão melhores no futuro. As mudanças acabam sempre trabalhando a nosso favor, pois senão ficaríamos estagnados. Portanto, podemos entender a Roda da Fortuna como um bom presságio.

     Hoje, segunda-feira, novo início de uma nova semana (ciclos…), dia regido pela Lua que estará também iniciando o seu ingresso na fase Cheia, o que significa expansividade, e também mudanças de hábitos (fim de ciclo…), favorecendo, inclusive, a mudança de residências (transformações e adaptações). A Lua em Libra nos sugere equilíbrio em nossas ações, agindo com sensatez, sem precipitações e fazendo-nos valer da paciência, inclusive como uma forma diplomática de nos relacionarmos socialmente.

     Tenham todos um ótimo começo de semana, com muita sorte e transformações que lhes tragam sempre grandes benefícios.

     E se tiverem interesse em conhecer o poema que inspirou Carl Orff a compor uma das peças musicais mais conhecidas e executadas, segue abaixo a tradução para o português. “Carmina Burana” significa literalmente “Canções de Beuern”, em alusão à Abadia de Menediktbeuern situada naquele local, ao sul de Munique, na região da Baviera.  Fatalista e dramático, como o girar da Roda da Fortuna.

 

Ó Fortuna és como a Lua, mutável,

sempre aumentas e diminuis;

a detestável vida ora escurece e ora clareia

por brincadeira a mente;

miséria, poder, ela os funde como gelo.

Sorte monstruosa e vazia,

tu – roda volúvel – és má,

vã é a felicidade sempre dissolúvel,

nebulosa e velada,

também a mim contagias;

agora por brincadeira o dorso nu

entrego à tua perversidade.

A sorte na saúde e virtude

agora me é contrária.

Dá e tira

mantendo sempre escravizado.

Nesta hora sem demora

tange a corda vibrante;

porque a sorte abate o forte,

chorais todos comigo!

……………………………………….

Choro as feridas da fortuna com os olhos rútilos;

pois que o que me deu ela perversamente me toma.

O que se lê é verdade:

esta bela cabeleira, quando se quer tomar,

calva se mostra.

No trono da Fortuna sentava-me no alto,

coroado por multicores flores da prosperidade;

mas por mais próspero que eu tenha sido,

feliz e abençoado,

do pináculo agora despenquei, privado da glória.

A roda da Fortuna girou:

desço aviltado;

um outro foi guindado ao alto;

desmesuradamente exaltado o rei senta-se no vértice –

precavenha-se contra a ruína!

Porque no eixo se lê

Rainha Hécuba.

Imagem: TAROT NAMUR, por Prof. Namur Gopalla e Marta Leyrós (Academia de Cultura Arcanum)

domingo, 28 de março de 2010

Carta do Dia: O EREMITA

     Eremita Neste domingo, enquanto fazia minha caminhada tendo o prazer de ver o sol nascer e o céu, qual caleidoscópio trocando de cores rapidamente, aproveitei, como sempre  faço, para meditar sobre o meu momento atual. Gosto de fazer esse tipo de meditação dinâmica, pois creio que a razão conduzindo meus movimentos, minha coordenação motora cuidando para que eu não tropece, não perca o ritmo da caminhada, respire fundo e coordenadamente, acaba liberando o outro hemisfério do meu cérebro para que eu possa mais facilmente permitir que as imagens venham e possam ser contempladas, sem grandes julgamentos, sem me ater muito a elas. Entre muitos e rápidos pensamentos que perpassaram me cérebro durante aquela hora do amanhecer, um deles trouxe consigo algumas respostas para questões que, ainda que eu não as tivesse formalmente formulado, precisava ouvi-las, ou melhor, senti-las neste momento da minha vida. 

     Sempre gostei de “tirar um tempo” para mim. Costumava, desde adolescente, fazer o que na época chamávamos de retiro espiritual. Não pensávamos naquilo como um mergulho em nós mesmos, mas simplesmente um tempo em que passávamos tentando nos silenciar, aparentando uma seriedade e expressões taciturnas que não combinavam com o dinamismo que a nossa idade impunha. Entretanto voltávamos desses retiros mais calmos, menos briguentos, mais atenciosos, e provavelmente um pouco mais espiritualizados.

     Com aquelas imagens brotando da memória, além da saudade daquele tempo e das amizades feitas então, fiquei pensando como isso tornou-se um hábito em minha vida. Algo que faço de maneira quase que automática, sem grandes rituais, tão costumeiro e simples quanto escovar os dentes, fazer a barba, tomar banho, cortar as unhas. Eu diria que, no meu caso, é higiênico, salutar, benéfico e imprescindível. É absolutamente prazeroso, para mim, permitir-me momentos maiores ou menores de isolamento para poder refletir nas minhas questões pessoais. Não necessariamente preciso isolar-me num local deserto, nem parar de trabalhar ou de estar com os amigos. Necessito apenas de algum tempo exclusivo para mim. Isolar-me do ritmo que eu mesmo me imponho, do nível de exposição que eu mesmo me permito, da necessidade de estar sempre produzindo para justificar não sei o que. E talvez seja esse “não sei o que” que eu vá buscar, dentro de mim, ao ficar sozinho comigo mesmo.

     Ouvi uma vez, de um cliente, que ele detestava estar só consigo mesmo. Que precisava sempre de muito movimento ao seu redor e que quando, porventura tivesse que ficar por algum tempo mais isolado, ligava a TV, falava ao telefone até com pessoas para quem nunca pensara em telefonar, tudo para preencher o tempo. Dizia ele que tinha horror a ficar entregue a si próprio. Temia descobrir-se como alguém que ele desconhecesse, que fosse totalmente diferente da imagem que ele havia construído dele para uso pessoal e como máscara para enfrentar o mundo. Lastimável, penso eu, pois ele acabou perdendo grandes oportunidades de remontar seu próprio quebra-cabeça, elucidar-se sobre si mesmo e sobre as questões que pudessem lhe ser importantes.

     O Eremita, Arcano Maior de número IX do tarot, é uma lâmina que simboliza esse intervalo de tempo que dedicamos a nós mesmos, buscando respostas para os nossos mais profundos questionamentos. É o tempo, muitas vezes necessário, que precisamos nos conceder após alguma perda. Uma morte de um ente querido ou o fim de uma grande história de amor merece considerações especiais. Há um tempo de luto, e cobrir-se de luto quer dizer abster-se  da claridade exterior e de seus apelos para encararmos aquele momento como o fim de mais um ciclo natural da vida. Compreender a aceitar. Rememorar lembranças felizes, perdoar erros cometidos e ser agradecido pela oportunidade de ter experimentado essas emoções todas, vivenciado todo o seu ciclo, sepultá-las e seguir em frente.

     Qual é o sentido da vida? Por que determinadas coisas acontecem comigo? Quem sou eu? Quando estamos vivendo o Eremita nos fazemos perguntas que não têm respostas claras, precisas ou pré-determinadas. Nós precisamos de liberdade, de espaço e independência para podermos descobrir nossas próprias respostas e termos a clareza mental necessária para nos aprofundarmos em busca das nossas próprias verdades, sejam elas espirituais, filosóficas ou de âmbito social. Essas são perguntas difíceis, especialmente por se referirem ao significado que os eventos, as casualidades, os golpes de sorte,  as coisas enfim que vivemos no dia a dia e que nos leva a crer que há uma conexão entre o nosso “eu” e aquilo que enfrentamos. Isso pode ser um processo, muitas vezes, doloroso pois somos forçados a admitir que que não podemos transferir a culpa do que nos acontece aos outros, exatamente por haver essa conexão nos ligando intimamente aos eventos. E frequentemente repetimos os mesmos padrões, fazendo com que as mesmas situações voltem a se repetir, possivelmente com pequenas variações.

     O sábio é aquele que possui uma luz própria. As figuras representativas do Eremita, em quase todos os tarots, mostra um ancião (tempo, prudência, paciência), coberto por um manto (introspecção, estado meditativo), apoiado num cajado (experiências anteriores, a maturidade) e portando uma lanterna (a luz da verdade, a luz da ração, a pesquisa em busca do auto-conhecimento), parado num local deserto (sozinho consigo mesmo e liberto das ilusões).  Em nossa vida, ele representa o nosso lado mais secreto e a nossa necessidade de procurarmos em nós mesmos as respostas que muitas vezes buscamos nos outros. É tempo de nos afastarmos um pouco da sociedade ( e isso não significa abandonar tudo e isola-se no alto de uma montanha) e interrogar a nossa alma, procurando saber o que ela precisa e o que já sabe e possui.

     Quando aparece numa jogada de tarot, dependendo da sua posição e das demais cartas à sua volta, além da questão aventada pelo consulente, o Eremita pode significar que é chegado o momento de refletirmos cuidadosamente antes de fazer uma escolha, sem precipitações e medindo as consequências dos nossos atos, inclusive como ele irá se refletir nas demais pessoas envolvidas ou não. É um aviso de que devemos parar ( o Eremita é representado por um velho, portanto é uma das cartas mais “lentas” do tarot), analisar os padrões de comportamento, as emoções e os sentimentos, desculpando-nos, e aos outros, por erros cometidos e aguardar até que a resposta surja, límpida feito um cristal, de dentro de nós. É aguardar para ver como vai ficar. Essa carta é sempre uma sugestão para que reavaliemos o passado para que possamos compreender o presente e prosseguir no futuro. Por ser uma figura de aspeto bem idoso, pode significar a possibilidade de ser ajudado, ou buscar ajuda, com pais, parentes mais velhos, amigos mais idosos, professores, juízes, psicólogos, geriatras, filósofos, conselheiros e mestres espirituais. Recomenda manter uma atitude de prudência, de cautela, de austeridade, humildade e lucidez. Pode ser indicativo da necessidade de se guardar, ou revelar, um segredo, mas isso sempre de maneira muito consciente. Lembra-nos de que é preciso ser paciente, solícito, atencioso e compreensivo para com os outros, auxiliando-os com a nossa experiência e saber.

   09-Major-Hermit   Muitos associam a figura bíblica de Moisés ao Eremita, pois guiou seu povo pelo deserto ( o deserto da vida) para a terra prometida ( o paraíso espiritual). Na Árvore da Vida cabalística o Eremita encontra-se no 20º caminho, ligando Tipharet, que significa “beleza” e representa o equilíbrio, a Chesed, que simboliza a misericórdia, o estado de graça. O Eremita volta, assim, as costas para o que muito do que o mundo tem a oferecer e parte em busca da sua integridade. Conscientizando-se do que busca, é hora de estender a mão ao próximo. É usar de sua luz, de sua lanterna, de seu conhecimento para iluminar o caminho daqueles que ainda estão escalando a montanha.

     A Lua, em sua fase crescente, no signo de Virgem, pode ser traduzida como um bom momento para nos renovarmos através de uma análise mental bem detalhada. Organizar idéias e pensamentos, refletir sobre questões e estar aberto a ouvir a sua voz interior está na pauta do dia. Procure ficar mais reservado, ou pelos menos, tire algumas horas para estar sozinho, seja no seu quarto, seja caminhando pelas ruas ou mesmo passeando por uma praça ou jardim. Reflita calma e tranquilamente sobre os seus sentimentos e só então tome atitudes, desde que ponderadas, razoáveis e sensíveis.

     Aproveitem bem o domingo e tenham todos um ótimo início de semana.

sábado, 27 de março de 2010

Carta do Dia: A JUSTIÇA

Justiça      Voltando da minha caminhada matinal e parando no jornaleiro da esquina, não pude deixar de notar, num relance, que esse caso do julgamento do pai e da madrasta da menina que, supostamente, foi torturada e jogada da janela do apartamento onde morava, em São Paulo,  cobre a capa dos nossos periódicos. O jornaleiro, que é meu conhecido há anos, pergunta, pela enésima vez, minha opinião: “Mataram a filha ou não mataram?” Como ele bem sabe que eu não estava presente no local, desconheço qualquer um dos acusados ou mesmo a vítima e que, portanto, não posso testemunhar esclarecendo nada, creio que esteja confundindo tarólogo com vidente ou adivinho. Simpaticamente esquivo-me de responder qualquer coisa, digo que estou com muita pressa para chegar em casa e redigir esta postagem, e bato em retirada, com um calhamaço de material de leitura debaixo do braço, ouvindo-o repetir a mesma pergunta para pessoas muito mais sábias, portadoras de opiniões definitivas e conclusivas e de informações amealhadas sei lá eu onde.

     Agora que o esse infeliz e terrível evento chegou a julgamento  propriamente dito, somos novamente bombardeados, por todas as emissoras de TV, em todos os programas, a qualquer hora do dia, em edições extra, que fornecem material para conversas e apostas, suposições e certezas radicais. Não houve local onde eu tivesse estado nos últimos dias em que esse assunto, num determinado momento, não viesse à toda e inflamasse os ânimos. Muito natural pois duvido que haja alguém que fique indiferente à esse tipo de situação.

     Quando pensamos em Justiça é difícil não associarmos à idéia de crime e castigo, erro e punição, causa e efeito, aqui se faz e aqui se paga. E ela é tudo isso, e muito mais. É, sobretudo, a idéia de equilibrarmos os prós e os contras; de vermos, isentos de tendências, os dois lados de uma mesma questão; de investigarmos o que há por trás das ações cometidas e que as arrazoem. A Justiça, chamada “dos homens”, essa que tem tribunais, acusadores, defensores, juízes e testemunhas, é a física. Existe uma outra, espiritual, que faz parte da nossa alma, que regula as nossas atividades psíquicas, que nos equilibra interiormente, e é essa que, mais frequentemente, o Arcano VIII do tarot, simboliza.

      Métis engravidou de Zeus, mas o Oráculo predisse que essa criança iria ser mais poderosa do que ele. Para evitar esse confronto, ele Zeus engoliu Métis, fazendo com que a gestação ocorresse dentro dele, mais especificamente em sua cabeça. Chegado o momento do parto e sentindo fortíssimas dores na fronte, ele pede a Hefestos (Vulcano), o ferreiro divino, que lhe abra a fronte com um machado. Isso feito, de dentro da cabeça de Zeus surge adulta, altiva e armada, Palas Athena (Minerva). A jovem  pede ao pai que lhe permita permanecer virgem (palas) para sempre, pois só assim, longe das paixões, não se corromperia ou deixar-se-ia seduzir e perder a sua lógica, a sua razão. Essa deusa é um símbolo do combate pelo amor à verdade.

     Athena (Minerva) era irmã do solar Apolo, deus da harmonia em cujo templo, lia-se à entrada: “Conhece-te a ti mesmo”. O que isso significa? Que é necessário que reconheçamos nossas verdades, saibamos quem somos realmente e coloquemos às claras as nossas verdadeiras intenções. Devemos nos desmascarar frente a nós mesmos, não tentando encobrir nossos erros e defeitos, ou nossa índole, sob espessa camada de desculpas e justificativas vãs. Palas Athena  fazia-se acompanhar por uma coruja, ave noturna cuja cabeça gira 360º e os olhos devassam a mais densa escuridão garantindo que todos os detalhes, não importa o quão escondidos ou remotos possam estar, serão vistos, coletados e analisados. Um escudo, com a cabeça da Medusa incrustrada, fazia parte do figurino da deusa. Aí também reside uma mensagem pois, diante da Medusa, todos ficavam petrificados. Isso significa que somente aqueles cujas verdadeiras intensões não são motivadas por paixões, tendências ou teimosia, não ficarão paralisados de medo e horror. E, como se todo esse aparato não bastasse, Niké, a deusa alada da vitória, era sua companheira constante, como forma de reafirmar que a verdade sempre triunfa.

     Quando a carta da Justiça surge numa tiragem de tarot, dependendo do local onde ela ocupa e das demais cartas que a avizinham, além da questão proposta pelo consulente, pode significar que o consulente deve parar, dar um tempo e analisar friamente a situação antes de prosseguir; situações legais (jurídicas) podem acontecer na vida do consulente; leia e estude detalhadamente documentos, propostas e compromissos que tiver que assinar, dando seu parecer; tempo de ser honesto, responsável e justo; buscar seu centro físico, emocional e espiritual; prudência; procurar trilhar o caminho do meio, afastando-se das extremidades, dos 8 ou 800, dos excessos; é chegada a hora de colher o que foi semeado; justiça divina; tomada de consciência, agir embasado pela consciência; sabedoria; fidelidade no amor e nas amizades.

     Como todas as outras cartas do tarot, se mal dignificada numa leitura, pode estar alertando para o fato de perder uma ação legal nos tribunais; complicações que surgem devido a arbitragens incorretas; abuso do sistema legal; problemas prolongados nos relacionamentos; ficar aborrecido ao sentir-se avaliado; querer mudar o curso da ação para atrasar o processo de solução dos problemas; falso testemunho; ser injusto, intolerante ou abusivo; preconceito; fanatismo; amor platônico; infidelidade; frigidez; querer ser o dono da verdade e forçá-la, despoticamente, aos demais; indecisão, perfeccionismo e inadequação; excessos; complicações de todos os gêneros; azar; abuso do poder.

     Estejamos cônscios de que, não importa quem vença a batalha, é ele quem escreverá a história. Toda luta, toda guerra, toda batalha, inclusive as legais são, ao mesmo tempo, uma vitória e um massacre, dependendo apenas do ponto de vista de quem dela participa. A Justiça pode existir à luz de diferentes pontos de vista . O que nos parece injusto num determinado momento e sob uma certa ótica, pode ser assumido como algo bastante justo, com o passar do tempo. O que a carta da Justiça, no tarot, nos pede é que nos examinemos de forma lógica e bastante objetiva, que encontremos, em nós, a verdade e nada mais que a verdade, mesmo que a isso esteja condicionado o fato de termos de reconhecer que erramos e devemos corrigir o que fizemos.

     Como hoje é sábado, dia regido pelo controlador, porém sábio, Saturno, devemos assumir as nossas responsabilidades, perdoarmos as nossas fraquezas frente ao nosso próprio tribunal, e nos disciplinarmos em busca de uma maior harmonia, uma consolidação do nosso equilíbrio mental e espiritual. Que nossas ações e julgamentos sejam sempre feitos com sabedoria e amor, visando a harmonia e a cooperação favorecidas por Libra, signo desse Arcano.

     Fica, como tema para uma possível meditação, um pequeno conto sufi:

Certo dia, um juiz perguntou ao mestre Nasrudin:- Mestre, no caso de você ter de escolher entre a justiça e o dinheiro, o que você escolheria?

- O dinheiro, é claro - respondeu Nasrudin, sem pestanejar.

- O quê! - disse o juiz. Pois eu escolheria a justiça sem pensar duas vezes, porque a justiça não é fácil de ser encontrada, enquanto o dinheiro, este não é tão raro assim. Podemos encontrá-lo por aí sem grandes dificuldades. Estou sinceramente espantado com a sua opção, Nasrudin. Não o julgava capaz de uma ambição, sendo um mestre!

- Meritíssimo, cada um deseja aquilo que mais lhe falta! - respondeu tranqüilamente o mestre Nasrudin.

Imagem: TAROT NAMUR, por Prof. Namur Gopalla e Marta Leyrós (Academia de Cultura Arcanum)

sexta-feira, 26 de março de 2010

Carta do Dia: O CARRO

Carro      Encontrava-se, um dia, Apolo, sentado em seu resplandecente trono, cercado dos Dias, dos Anos, das Estações, das Musas, em seu palácio, quando à sua frente surgiu Faetonte, seu filho com a mortal  Climene, uma ninfa. Faetonte lá se dirigira para solicitar ao seu divino pai que o ajudasse a provar ao mundo que ele era seu filho, já que as pessoas na Terra zombavam dele, dizendo que não só sua mãe, mas também seu pai eram meros mortais.

     Apolo, comovido com o sofrimento do filho e com seu pedido de ajuda, jurou-lhe que, fosse qual fosse a forma que ele gostaria de realizar o seu pedido, ele o ajudaria, dando-lhe sua palavra de deus. Faetonte, então, pede-lhe que o deixe, apenas por um dia, dirigir a sua carruagem alada do sol. A expressão de Apolo torna-se séria, angustiada e temerosa, pois bem sabe que seu filho não está capacitado para percorrer a imensidão dos céus, enfrentando a subida íngreme da Aurora, a entontecedora altura do carro quando atingia o meio do dia e, depois, a acelerada e quase incontrolável descida rumo ao Poente. Ele mesmo, o próprio deus, sentia-se abalado pelo medo pela altura e o veloz percurso do seu dourado carro. Uma vez mais, suplica bom-senso a Faetonte, dizendo-lhe que considere, também, o fato de que ainda não tem a força e a destreza necessária para, com firmeza, administrar e conduzir todas as manobras.

     Mas Faetonte estava irredutível em seu pedido e, como Apolo lhe dera sua sagrada palavra, foi conduzido pelo pai às estrebarias, onde se deslumbrou com a beleza do ouro e da prata e com o fulgor das pedras preciosas que adornavam o veículo. Como o alvorecer já se fazia notar no leste, e as Horas já haviam atrelado os cavalos, Apolo cobriu o rosto do filho com um mágico unguento e deu-lhe os derradeiros conselhos finais, suplicando-lhe que usasse apenas as rédeas para conduzir, evitando as esporas, que feriam e descontrolavam os animais. Pediu-lhe também que se mantivesse afastado dos Polos Norte e Sul, e que não queimasse a Terra, voando muito próximo a ela e nem a resfriasse, mantendo-se em grandes altitudes. Enfim, que mantivesse controle e sobriedade, percorrendo o trajeto de maneira equilibrada, segura, constante.

     Faetonte então saltou dentro do iluminado veículo e os cavalos, num salto, começaram a sua jornada diária. Como o carro estava mais leve que de costume, os animais começaram a vaguear rapidamente pelo céu, aproveitando a inexperiência de seu cocheiro. O carro afastava-se cada vez mais da terra e da rota traçada. A altura era imensa e Faetonte, enregelava-se de pavor, entorpecido com a velocidade, o frio e o ar rarefeito, para, no momento seguinte, em disparada, os cavalos se aproximarem a espantosa velocidade da Terra queimando plantas e animais, secando rios e fontes.

     Aterrorizado, Faetonte, soltou as rédeas que guiavam os animais o que fez com que os cavalos, sentindo-se livres, entrassem por regiões desconhecidas dos céus, para no instante seguinte estarem novamente sobrevoando, a grande velocidade, o fogo que queimava a terra. A fumaça e as fagulhas finalmente envolveram o brilhante veículo e começaram a queimar os cabelos do jovem, inexperiente e pretensioso cocheiro, fazendo com que que ele, desesperado, caiu do carro e foi lançado das alturas no oceano lá embaixo. Apolo, seu pai, que a tudo presenciara, entristecido, baixou sua luminosa cabeça e cobriu-a com seus lamentos. Lá embaixo, sem a presença do sol, apenas o avermelhado incêndio iluminava a escuridão.

     A lenda de Faetonte exemplifica a busca de um lugar no mundo que lhe seja próprio, onde possa ser reconhecido por si mesmo e possa exercer a sua verdadeira vocação. O que lhe falta, como falta a muitos de nós, é a paciência para aguardar o tempo certo de realizar-se, de colher os frutos e demais recompensas, sem cair no erro de a tudo atropelar por ainda desconhecer as suas reais capacidades e verdadeiras limitações.

     Apolo, que também era o deus da previsão e da profecia, bem sabia, de antemão, o final trágico que sucederia por concordar e satisfazer o pedido do precipitado filho. Mas talvez com remorso ou culpa por pensar ter sido negligente com o filho, recompensa-o concordando com seu infantil pedido. Isso acontece muitas vezes quando filhos insistem, e conseguem, “dar uma voltinha” com o carro, por exemplo, sem estarem plenamente habilitados, portando seus documento legais. Não é nem uma, nem duas vezes, que ouvi pais dizerem “Ah, coitadinho! Estuda a semana toda, quase nem se diverte. Ainda a pouco me pediu para lavar e encerar o carro… Ele dirige tão bem! Fui eu mesmo quem ensinou. O menino dirige melhor do que eu! Deixa ele dar uma voltinha, dar uma paquerada por aí, se exibir um pouquinho. A garotada precisa desse voto de confiança nosso. Eu, no tempo dele, fazia igual com o meu falecido pai. Logo, logo ele está com a carteira de habilitação nas mãos e daí então, ninguém vai segurar mais este rapaz! Deixa o garoto se divertir um pouquinho…” Normalmente esse é um caminho que conduz a momentos de muita tensão, sofrimento, arrependimento e dor. A fatalidade espera e se alimenta de oportunidades como esta. Se o pai se sentia culpado de alguma omissão em relação ao filho, agora ele viverá o dissabor de concordar e favorecer uma atitude inconsequente do mesmo.

     Os gregos tinham a palavra hybris, que significa orgulho, insolência, desejo de assemelhar-se aos deuses, para definir esse processo de aprendizado que todos temos que enfrentar na vida, que é o de assumirmos nossas capacidades, sabermos de antemão o quão distante podemos prosseguir, termos consciência das nossas aptidões e, também, daquilo para o que não temos ou estamos habilitados. Ter humildade em reconhecer suas próprias limitações não deve ser encarado como algo negativo ou um impedimento. Ao contrário, essa é uma força libertadora que nos impulsiona a nos desenvolvermos sempre e mais. Não significa ficar acomodado às suas limitações, desenvolvendo uma imagem de auto-piedade e também não deve induzir ao comodismo, de aceitar-se como é, num determinado estágio, sem esforçar-se em progredir, por pura preguiça.

     O que muitas vezes ocorre é que pretendemos viver a vida dos outros, que, frequentemente, sempre nos parece mais glamorosa, fácil e bem sucedida que a nossa. Isso é hybris. A expressão “a grama do vizinho é sempre mais verde” a isso se refere. Temos horror a nos vermos condenados a vidinhas comuns, onde nada nos parece excitante e interessante, digno da imagem que fazemos de nós ou que nos achamos merecedores. O Carro simboliza uma iniciação que devemos enfrentar, a de amadurecermos, tornando-nos adultos, encontrando o nosso lugar dentro de uma estrutura social bastante ampla. Essa nosso rito de passagem nos revela muito de nós mesmos, especialmente sobre nossos potenciais e limitações. É necessário que esse nosso desenvolvimento supere a sensação de insignificância que costumamos sentir sobre nossa pessoa e fortaleça nossa coragem e humildade para que possamos nos aperceber que a presunção, a ambição desmedida, a falta de preparo e de aptidão e, até mesmo, uma vocação definida, pode nos conduzir por caminhos bastante perigosos. Inúmeros são os exemplos de pessoas que perderam suas economias, endividaram-se única e exclusivamente para manterem a imagem de uma personalidade, uma situação ou um padrão de vida que não estavam aptos a sustentar, apenas para se sentirem importantes para si próprios e incluídos por determinados segmentos sociais ou grupos, numa imatura e suicida tentativa de assemelharem-se a eles.

     Quando bem aspectada, numa leitura de tarot, e sempre dependendo da sua relação com as cartas que se lhe avizinham, bem como da questão proposta pelo consulente, o Carro pode indicar uma boa chance, uma oportunidade que surge; movimento, destinação; viver grandes aventuras e correr riscos; um novo ciclo, uma evolução, um ponto de virada; tomar as rédeas da própria vida; destino, carma, sorte; auto-realização; auto-confiança, auto-disciplina; desenvolvimento e fortalecimentos de habilidades tendo por finalidade uma meta; força de vontade; conquista; determinação; coragem; enfrentar provas e desafios; controlar o que pensa e o que sente; manter-se no caminho certo;  viagens mentais e físicas.

   07-Major-Chariot   Ligando Geburah (a Força) a Binah (a Grande Provedora) na Árvore da Vida Cabalística, o Carro percorre o 18º caminho na busca de uma experiência introdutória (iniciação) ao Supremo Eu Espiritual. Em Alquimia, essa experiência é descrita como o processo chamado “exaltação”, onde o Alquimista se transforma na Pedra Fundamental. É o caminho pelo qual a abundância amplificada é distribuída sobre todas as criaturas. Na visão do profeta Ezequiel, é descrito uma espécie de veículo constituído por figuras com quatro faces, representando os quatro elementos, que suportavam um trono. Esse é o conceito aceito pelo pensamento judaico primitivo do Merkabah, ou seja, o Carro que transporta o Trono. O Carro se desloca entre a Luz, centrada em Tiphareth, e a Suprema Escuridão, que se situa no lado oculto de Kether.

     O Carro representa o nosso desejo, a nossa ambição e vontade direcionada de vencermos, o que se acontecerá desde que essa conquista seja realizada através de planejamento elaborado, dedicação extremada e perseverança. O Carro é o nosso veículo para evoluirmos, para nos locomovermos para patamares mais elevados.

     Nesta sexta-feira, dia da semana regido por Vênus, a Lua Crescente continua em Leão, possibilitando que nos vejamos com muita clareza e honestidade. É tempo propício para, não só reconhecermos e nos utilizarmos dos nossos potenciais e habilidades latentes, mas também humildemente reconhecermos nossos limites. Cancer, o representante astrológico do Carro, simboliza o elemento Água, sendo portanto pura emoção. É preferível ficar sozinho, ou pelo menos menos exposto, se não puder estar na companhia de amigos, para não correr riscos de sentir-se magoado ou irritado com as demais pessoas.

     Se houver tempo e possibilidade, procure meditar na frase do militar francês, herói da 1ª Grande Guerra, Marechal Ferdinand Foch: “A vitória é um produto da vontade”, e aproveite o dia!

     Um ótimo fim de semana para todos!

Imagem: TAROT NAMUR, por Prof. Namur Gopalla e Marta Leyrós (Academia de Cultura Arcanum)