No táxi, voltando para casa, paramos num dos semáforos. No meio de carros de todos os tipos e cores, vejo um garotinho arrastando uma banqueta. Coloca-a no meio da avenida e, de costas para os transeuntes que aproveitam o sinal vermelho para passarem, sobe seu corpinho franzino e começa a fazer malabarismos com limões.
Impassível ao barulho do tráfego, do som vindo das lojas, da conversa das pessoas, do ranger dos freios dos ônibus, o pequeno malabarista quase passa desapercebido na correria da cidade que o cerca, não fossem pelo balé sincronizado dos seus limões, descrevendo círculos nos ar. Às vezes, não sei se por cansaço ou se ofuscado pela inclemência do sol de verão, um dos limões teimava em escapar-lhe das mãos e lá ia ele, descendo ligeiro da banqueta, a catá-lo entre as rodas dos carros, para em seguida pedir “uma moedinha” pelo seu show.
Não é a primeira e nem será a última vez que vejo alguém fazendo malabares numa esquina, mas acabo sempre associando ao 2 de Ouros (Pentáculos, Discos, Moedas, Pedras, Diamantes), aquela carta do tarot que nos fala, sobretudo, de flexibilidade na maneira de pensar e agir. No meio da cidade grande, enfrentando as dificuldades de sobrevivência, esse garoto dribla a ausência de perspectivas, o descaso de toda uma sociedade, o olhar desatento de quem ali trafega, e troca sua habilidade em fazer limões dançarem no ar por moedas.
Ter “jogo de cintura” é uma qualidade que nem todos têm. É nessa capacidade criativa de evoluir através dos obstáculos que a vida apresenta, sempre disposto a buscar novas soluções para problemas, sempre apresentando ou recorrendo a alternativas que permita seguir mais além, que reside um dos grandes valores simbolizados no 2 de Ouros. Quantas vezes na vida nos deparamos com situações que parecem desafiar o nosso próprio equilíbrio e, aparentemente do nada, damos um “jeitinho” e resolvemos a questão?
Esse arcano quando aparece numa jogada de tarot, sempre dependendo da sua localização e das cartas que o cercam, além da questão levantada pelo consulente, simboliza a necessidade de lidarmos com os problemas de maneira alegre e descontraída; inventar algo; usar uma alternativa diferente; lidar com dois ou mais assuntos ao mesmo tempo; adaptar-se facilmente à novas situações; estabelecimento de acordos ou sociedades; aprender e ensinar; que estamos aptos a conduzir nossa busca espiritual sem abandonarmos o nosso foco material; saber lidar com os dois lados da questão e ser bem humorado, entre outras coisas mais. Creio ser uma das cartas deste oráculo que mais e melhor nos fala sobre a necessidade de harmonizarmos a nós mesmos e ao ambiente que nos cerca.
Evidentemente essas qualidades contidas na simbologia da carta são equilibradas pelo seu lado sombra: ser infiel, pródigo, inseguro, teimoso, inflexível, mal humorado, desorientado e insensato. É o caso de gente que promete mais do que consegue fazer, ou que não tenha habilidade para lidar com mais de uma situação ao mesmo tempo. Pode representar uma situação que não está fluindo como deveria, que se conduz de forma instável ou mesmo inconstante.
Quando o 2 de Ouros aparece é hora de nos questionarmos como estamos conduzindo a nossa vida econômica, nosso físico, nosso contato com a Natureza. Se estamos conscientes da necessidade da nossa segurança material ou se a tratamos displicentemente (inclua aí a saúde física!). Se somos pacientes e criativos para lidarmos com diversas situações, opiniões e ofícios ao mesmo tempo, estando preparados para contornar egos, problemas, dificuldades sem nos deixarmos esmorecer. Ou seja, por quanto tempo conseguimos manter nossos limões fazendo círculos contra o céu azul?
Júpiter, regente das quintas-feiras, é o pai-de-todos, expansivo e generoso ao máximo e estará favorecendo que os nossos talentos se manifestem a fim de que vençamos as dificuldades que possam vir a surgir neste dia. Aproveite para organizar sua agenda, reequilibrar suas contas e resolver situações pendentes.
Tenham todos um excelente dia, e com muito “jogo de cintura” para não deixar “cair a peteca”!
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