terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Carta do Dia: 5 DE ESPADAS

    40-Minor-Swords-05 Nós vivemos numa sociedade em que vencer parece ser o objetivo máximo e exclusivo de todos. Passamos a vida tentando não apenas sobreviver ou vivê-la, mas vencendo metas cada vez mais inatingíveis, mas sofisticadas, mais impossíveis, como se o desafio de nos provarmos vencedores justificasse nossa passagem por este planeta.

     Vencer sempre parece vicioso: quanto mais se tem, mais se quer; quanto mais conquistamos, mais longe ficamos do nosso ideal de segurança; quanto mais bonito e cuidado o nosso gramado, mais sedutoramente verde nos parece o gramado do vizinho. E nessa nossa ânsia para satisfazermos nosso ego, para fornecermos a ele todos os subsídios que ele necessita para ficar inflado, voando mais alto que todos, acabamos por nos envolver em situações muitas vezes catastróficas.

     Lembra-se daquela vez que resolveu comprar a maior TV de plasma que havia na loja? Aquela que nem é proporcional ao tamanho da sua sala e cujo preço estava anos-luz de distância do que você poderia pensar em pagar? Mas, mesmo assim, decidiu levar porque sabia que a família iria adorar. Afinal, você trabalha tanto, se sacrifica tanto, faz tudo pelos outros, pelo menos a compensação de assistir a um futebolzinho em 50 e não sei quantas mais polegadas você merece, não é mesmo? E o prazer de ver a cara espantada da sogra? E aquele cunhado chato, que sempre está contando vantagens, finalmente iria calar a boca… por algum tempo, mas só isso já compensa. Os vizinhos iriam comentar e pedir para assistirem “só um pouquinho” tal maravilha tecnológica. E o pessoal do escritório, então? Ah, esses quando soubessem iriam ficar mortos de inveja e, no fundo, considerando-o um campeão. Você, por alguns momentos, viveria a sensação de ser o centro das atenções, o grande vitorioso, o senhor todo poderoso. Pois é. O que ninguém desconfia é o quanto você se comprometeu com cheques “voadores”, carnês intermináveis, empréstimos… Isso é o que se chama de uma “vitória de Pirro”. Pirro foi um general grego que, ao final de uma sangrenta e violentíssima batalha onde seu exército foi vencedor, mas onde ambas as partes tiveram baixas consideráveis ficando reduzidas a quase ninguém, disse o seguinte: “Mais uma vitória como esta, e eu estarei perdido”.

     Às vezes, como forma de uma gratificação emocional, para nos compensarmos de uma perda ou simplesmente para alimentarmos nossa ambição desmedida, agimos irracionalmente, não reconhecendo nossos limites, ou o dos outros, e nos envolvemos em situações que acabam tornando-se verdadeiras guerras a serem vencidas. É o caso de quem empresta dinheiro de agiotas ou de bancos, a juros extorsivos, para fazer uma viagem que poderia, por exemplo, ter sido melhor planejada. Ou realizar uma festa de casamento com os requintes, muito além do seu orçamento, como as que costuma ler nas colunas sociais ou nas revistas fartamente ilustradas que recobrem as bancas de revistas pretendendo mostrar “como vivem os ricos e famosos”. Isso sem se dar conta que esse tipo de “ricos e famosos” que se deixam fotografar em ilhas que não são suas, em festas para as quais imploraram por um convite usando contatos e mil telefonemas, que usam roupas de griffe e vão a restaurantes que não pagam a conta em troca de merchandise, também vivem uma situação de 5 de Espadas. Situação essa que reflete uma falta de aceitação da realidade e, portanto, geradora de grandes conflitos mentais e emocionais, desencadeando uma série de ansiedades, desilusões, derrotas, perda de respeito social.

     Aquele que também, considerando-se “o esperto”, procura levar vantagem em tudo, aproveitando-se das derrotas alheias, das situações de dificuldades pelas quais os outros passam, esse também terá que enfrentar-se no espelho e, ao coroar-se vencedor pelas suas conquistas sobre os despojos de vidas alheias, deverá refletir no que Montaigne, há séculos, escreveu: “Há perdas mais triunfantes que certas vitórias”. Isso, numa interpretação bem prosaica quer dizer que existem estados vitoriosos que são tão vergonhosos que só fazem realçar o valor real do perdedor.

     Numa tiragem de tarot, dependendo da sua posição e das cartas que o rodeiam, além da questão a ser respondida, o 5 de Espadas pode estar a nos alertar para situações como o consulente estar sofrendo abusos físicos ou mentais por parte de seu parceiro, ou de outrem; de estar sendo alvo de fofocas, calúnias, injúrias, maledicência; uma forte possibilidade de perder numa batalha judicial; brigas entre os membros da família; sentir-se hostilizado no trabalho ou pelas pessoas de maneira geral;  problemas de esgotamento mental; possibilidade de ser roubado. Pode também significar o fim de uma longa batalha, indicando algum alívio e descanso com o fim de tantos desgastes físicos e emocionais, porém não significa que o consulente seja o vencedor.

     Abandonar o falso orgulho, reconhecer seus próprios limites, saber até aonde está capacitado a seguir, enfrentar honestamente somente aquilo que é possível no momento, evitar confrontações desnecessárias; não insistir em idéias que são comprovadamente inúteis, defasadas, inseguras; saber retirar-se quando o momento ou a ocasião não é oportuna e aceitar aquelas restrições que são naturalmente impostas pelo destino são excelentes paliativos para as dores causadas pelas afiadas e impiedosas lâminas dessa carta. É arriscadíssimo acreditar que, exclusivamente por milagre, as coisas irão se arranjar e o dinheiro comprometido hoje, impensadamente, irá chegar amanhã através de um sorteio de loteria, uma aposta nos cavalos, uma inesperada herança de um rico e desconhecido parente, um não aguardado aumento salarial. Milagres acontecem, sim, as dependem de uma fé inabalável e de uma causa absolutamente justa, magnânima e, sobretudo, humildade por parte do querente.

     É preciso saber perder. Saber que nem sempre se pode vencer. Aprender que as lutas não são necessariamente o modo mais fácil de se resolverem as disputas, pois os custos acabam sendo muito altos para ambas as partes.  Aceitar que, às vezes, somos deixados sem nenhuma outra opção a não ser admitir a derrota e seguir em frente. E aí, sim, opera-se o milagre. Passamos a corrigir o que está errado, a consertar o que está quebrado, desvencilhados que estamos das amarras do ego, da vaidade, do orgulho, da prepotência, do barbarismo de quem só quer vencer pela exclusão do outro. Aí começa-se a reconstruir uma nova e mais sólida reputação. Inicia-se um processo de recuperação paulatina, pensada, elaborada em termos reais e concretos, dentro das nossas reais capacidades.

     Aproveite o dia de hoje para meditar sobre isso. Pense em quantas vezes nos envolvemos em situações dificílimas por teimosia, por não querermos “dar o braço a torcer”. Se você estiver vivenciando uma situação de conflito, pare tudo, isole-se por algum tempo, e pergunte-se o que é que você vai sair ganhando ou perdendo, realmente? Vai valer a pena tanto desgaste, tanta preocupação, tantas lágrimas, tantas perdas pelo caminho? O que faz dessa situação algo tão importante a tal ponto que você se desgaste tanto para provar que todos os demais envolvidos estão errados? O que é que você vai sair aprendendo dessa incômoda experiência? Responda isso com sinceridade, sem precipitação, sem deixar-se levar pela emoção incontida, sem perder a lógica, a clareza mental, a capacidade de análise fria, distanciada. E se a idéia lhe agradar, ore. Procure relaxar e meditar, religando-se ao Criador (dê-lhe o nome que melhor lhe aprouver). Milagres acontecem nesses momentos, em forma de esclarecimentos, de iluminação, de forças para reconhecer e aceitar e, sobretudo, fé para seguir em frente, ressuscitada para tempos mais brandos.

     Tenha um ótimo dia!

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