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sábado, 27 de março de 2010

Carta do Dia: A JUSTIÇA

Justiça      Voltando da minha caminhada matinal e parando no jornaleiro da esquina, não pude deixar de notar, num relance, que esse caso do julgamento do pai e da madrasta da menina que, supostamente, foi torturada e jogada da janela do apartamento onde morava, em São Paulo,  cobre a capa dos nossos periódicos. O jornaleiro, que é meu conhecido há anos, pergunta, pela enésima vez, minha opinião: “Mataram a filha ou não mataram?” Como ele bem sabe que eu não estava presente no local, desconheço qualquer um dos acusados ou mesmo a vítima e que, portanto, não posso testemunhar esclarecendo nada, creio que esteja confundindo tarólogo com vidente ou adivinho. Simpaticamente esquivo-me de responder qualquer coisa, digo que estou com muita pressa para chegar em casa e redigir esta postagem, e bato em retirada, com um calhamaço de material de leitura debaixo do braço, ouvindo-o repetir a mesma pergunta para pessoas muito mais sábias, portadoras de opiniões definitivas e conclusivas e de informações amealhadas sei lá eu onde.

     Agora que o esse infeliz e terrível evento chegou a julgamento  propriamente dito, somos novamente bombardeados, por todas as emissoras de TV, em todos os programas, a qualquer hora do dia, em edições extra, que fornecem material para conversas e apostas, suposições e certezas radicais. Não houve local onde eu tivesse estado nos últimos dias em que esse assunto, num determinado momento, não viesse à toda e inflamasse os ânimos. Muito natural pois duvido que haja alguém que fique indiferente à esse tipo de situação.

     Quando pensamos em Justiça é difícil não associarmos à idéia de crime e castigo, erro e punição, causa e efeito, aqui se faz e aqui se paga. E ela é tudo isso, e muito mais. É, sobretudo, a idéia de equilibrarmos os prós e os contras; de vermos, isentos de tendências, os dois lados de uma mesma questão; de investigarmos o que há por trás das ações cometidas e que as arrazoem. A Justiça, chamada “dos homens”, essa que tem tribunais, acusadores, defensores, juízes e testemunhas, é a física. Existe uma outra, espiritual, que faz parte da nossa alma, que regula as nossas atividades psíquicas, que nos equilibra interiormente, e é essa que, mais frequentemente, o Arcano VIII do tarot, simboliza.

      Métis engravidou de Zeus, mas o Oráculo predisse que essa criança iria ser mais poderosa do que ele. Para evitar esse confronto, ele Zeus engoliu Métis, fazendo com que a gestação ocorresse dentro dele, mais especificamente em sua cabeça. Chegado o momento do parto e sentindo fortíssimas dores na fronte, ele pede a Hefestos (Vulcano), o ferreiro divino, que lhe abra a fronte com um machado. Isso feito, de dentro da cabeça de Zeus surge adulta, altiva e armada, Palas Athena (Minerva). A jovem  pede ao pai que lhe permita permanecer virgem (palas) para sempre, pois só assim, longe das paixões, não se corromperia ou deixar-se-ia seduzir e perder a sua lógica, a sua razão. Essa deusa é um símbolo do combate pelo amor à verdade.

     Athena (Minerva) era irmã do solar Apolo, deus da harmonia em cujo templo, lia-se à entrada: “Conhece-te a ti mesmo”. O que isso significa? Que é necessário que reconheçamos nossas verdades, saibamos quem somos realmente e coloquemos às claras as nossas verdadeiras intenções. Devemos nos desmascarar frente a nós mesmos, não tentando encobrir nossos erros e defeitos, ou nossa índole, sob espessa camada de desculpas e justificativas vãs. Palas Athena  fazia-se acompanhar por uma coruja, ave noturna cuja cabeça gira 360º e os olhos devassam a mais densa escuridão garantindo que todos os detalhes, não importa o quão escondidos ou remotos possam estar, serão vistos, coletados e analisados. Um escudo, com a cabeça da Medusa incrustrada, fazia parte do figurino da deusa. Aí também reside uma mensagem pois, diante da Medusa, todos ficavam petrificados. Isso significa que somente aqueles cujas verdadeiras intensões não são motivadas por paixões, tendências ou teimosia, não ficarão paralisados de medo e horror. E, como se todo esse aparato não bastasse, Niké, a deusa alada da vitória, era sua companheira constante, como forma de reafirmar que a verdade sempre triunfa.

     Quando a carta da Justiça surge numa tiragem de tarot, dependendo do local onde ela ocupa e das demais cartas que a avizinham, além da questão proposta pelo consulente, pode significar que o consulente deve parar, dar um tempo e analisar friamente a situação antes de prosseguir; situações legais (jurídicas) podem acontecer na vida do consulente; leia e estude detalhadamente documentos, propostas e compromissos que tiver que assinar, dando seu parecer; tempo de ser honesto, responsável e justo; buscar seu centro físico, emocional e espiritual; prudência; procurar trilhar o caminho do meio, afastando-se das extremidades, dos 8 ou 800, dos excessos; é chegada a hora de colher o que foi semeado; justiça divina; tomada de consciência, agir embasado pela consciência; sabedoria; fidelidade no amor e nas amizades.

     Como todas as outras cartas do tarot, se mal dignificada numa leitura, pode estar alertando para o fato de perder uma ação legal nos tribunais; complicações que surgem devido a arbitragens incorretas; abuso do sistema legal; problemas prolongados nos relacionamentos; ficar aborrecido ao sentir-se avaliado; querer mudar o curso da ação para atrasar o processo de solução dos problemas; falso testemunho; ser injusto, intolerante ou abusivo; preconceito; fanatismo; amor platônico; infidelidade; frigidez; querer ser o dono da verdade e forçá-la, despoticamente, aos demais; indecisão, perfeccionismo e inadequação; excessos; complicações de todos os gêneros; azar; abuso do poder.

     Estejamos cônscios de que, não importa quem vença a batalha, é ele quem escreverá a história. Toda luta, toda guerra, toda batalha, inclusive as legais são, ao mesmo tempo, uma vitória e um massacre, dependendo apenas do ponto de vista de quem dela participa. A Justiça pode existir à luz de diferentes pontos de vista . O que nos parece injusto num determinado momento e sob uma certa ótica, pode ser assumido como algo bastante justo, com o passar do tempo. O que a carta da Justiça, no tarot, nos pede é que nos examinemos de forma lógica e bastante objetiva, que encontremos, em nós, a verdade e nada mais que a verdade, mesmo que a isso esteja condicionado o fato de termos de reconhecer que erramos e devemos corrigir o que fizemos.

     Como hoje é sábado, dia regido pelo controlador, porém sábio, Saturno, devemos assumir as nossas responsabilidades, perdoarmos as nossas fraquezas frente ao nosso próprio tribunal, e nos disciplinarmos em busca de uma maior harmonia, uma consolidação do nosso equilíbrio mental e espiritual. Que nossas ações e julgamentos sejam sempre feitos com sabedoria e amor, visando a harmonia e a cooperação favorecidas por Libra, signo desse Arcano.

     Fica, como tema para uma possível meditação, um pequeno conto sufi:

Certo dia, um juiz perguntou ao mestre Nasrudin:- Mestre, no caso de você ter de escolher entre a justiça e o dinheiro, o que você escolheria?

- O dinheiro, é claro - respondeu Nasrudin, sem pestanejar.

- O quê! - disse o juiz. Pois eu escolheria a justiça sem pensar duas vezes, porque a justiça não é fácil de ser encontrada, enquanto o dinheiro, este não é tão raro assim. Podemos encontrá-lo por aí sem grandes dificuldades. Estou sinceramente espantado com a sua opção, Nasrudin. Não o julgava capaz de uma ambição, sendo um mestre!

- Meritíssimo, cada um deseja aquilo que mais lhe falta! - respondeu tranqüilamente o mestre Nasrudin.

Imagem: TAROT NAMUR, por Prof. Namur Gopalla e Marta Leyrós (Academia de Cultura Arcanum)

sexta-feira, 26 de março de 2010

Carta do Dia: O CARRO

Carro      Encontrava-se, um dia, Apolo, sentado em seu resplandecente trono, cercado dos Dias, dos Anos, das Estações, das Musas, em seu palácio, quando à sua frente surgiu Faetonte, seu filho com a mortal  Climene, uma ninfa. Faetonte lá se dirigira para solicitar ao seu divino pai que o ajudasse a provar ao mundo que ele era seu filho, já que as pessoas na Terra zombavam dele, dizendo que não só sua mãe, mas também seu pai eram meros mortais.

     Apolo, comovido com o sofrimento do filho e com seu pedido de ajuda, jurou-lhe que, fosse qual fosse a forma que ele gostaria de realizar o seu pedido, ele o ajudaria, dando-lhe sua palavra de deus. Faetonte, então, pede-lhe que o deixe, apenas por um dia, dirigir a sua carruagem alada do sol. A expressão de Apolo torna-se séria, angustiada e temerosa, pois bem sabe que seu filho não está capacitado para percorrer a imensidão dos céus, enfrentando a subida íngreme da Aurora, a entontecedora altura do carro quando atingia o meio do dia e, depois, a acelerada e quase incontrolável descida rumo ao Poente. Ele mesmo, o próprio deus, sentia-se abalado pelo medo pela altura e o veloz percurso do seu dourado carro. Uma vez mais, suplica bom-senso a Faetonte, dizendo-lhe que considere, também, o fato de que ainda não tem a força e a destreza necessária para, com firmeza, administrar e conduzir todas as manobras.

     Mas Faetonte estava irredutível em seu pedido e, como Apolo lhe dera sua sagrada palavra, foi conduzido pelo pai às estrebarias, onde se deslumbrou com a beleza do ouro e da prata e com o fulgor das pedras preciosas que adornavam o veículo. Como o alvorecer já se fazia notar no leste, e as Horas já haviam atrelado os cavalos, Apolo cobriu o rosto do filho com um mágico unguento e deu-lhe os derradeiros conselhos finais, suplicando-lhe que usasse apenas as rédeas para conduzir, evitando as esporas, que feriam e descontrolavam os animais. Pediu-lhe também que se mantivesse afastado dos Polos Norte e Sul, e que não queimasse a Terra, voando muito próximo a ela e nem a resfriasse, mantendo-se em grandes altitudes. Enfim, que mantivesse controle e sobriedade, percorrendo o trajeto de maneira equilibrada, segura, constante.

     Faetonte então saltou dentro do iluminado veículo e os cavalos, num salto, começaram a sua jornada diária. Como o carro estava mais leve que de costume, os animais começaram a vaguear rapidamente pelo céu, aproveitando a inexperiência de seu cocheiro. O carro afastava-se cada vez mais da terra e da rota traçada. A altura era imensa e Faetonte, enregelava-se de pavor, entorpecido com a velocidade, o frio e o ar rarefeito, para, no momento seguinte, em disparada, os cavalos se aproximarem a espantosa velocidade da Terra queimando plantas e animais, secando rios e fontes.

     Aterrorizado, Faetonte, soltou as rédeas que guiavam os animais o que fez com que os cavalos, sentindo-se livres, entrassem por regiões desconhecidas dos céus, para no instante seguinte estarem novamente sobrevoando, a grande velocidade, o fogo que queimava a terra. A fumaça e as fagulhas finalmente envolveram o brilhante veículo e começaram a queimar os cabelos do jovem, inexperiente e pretensioso cocheiro, fazendo com que que ele, desesperado, caiu do carro e foi lançado das alturas no oceano lá embaixo. Apolo, seu pai, que a tudo presenciara, entristecido, baixou sua luminosa cabeça e cobriu-a com seus lamentos. Lá embaixo, sem a presença do sol, apenas o avermelhado incêndio iluminava a escuridão.

     A lenda de Faetonte exemplifica a busca de um lugar no mundo que lhe seja próprio, onde possa ser reconhecido por si mesmo e possa exercer a sua verdadeira vocação. O que lhe falta, como falta a muitos de nós, é a paciência para aguardar o tempo certo de realizar-se, de colher os frutos e demais recompensas, sem cair no erro de a tudo atropelar por ainda desconhecer as suas reais capacidades e verdadeiras limitações.

     Apolo, que também era o deus da previsão e da profecia, bem sabia, de antemão, o final trágico que sucederia por concordar e satisfazer o pedido do precipitado filho. Mas talvez com remorso ou culpa por pensar ter sido negligente com o filho, recompensa-o concordando com seu infantil pedido. Isso acontece muitas vezes quando filhos insistem, e conseguem, “dar uma voltinha” com o carro, por exemplo, sem estarem plenamente habilitados, portando seus documento legais. Não é nem uma, nem duas vezes, que ouvi pais dizerem “Ah, coitadinho! Estuda a semana toda, quase nem se diverte. Ainda a pouco me pediu para lavar e encerar o carro… Ele dirige tão bem! Fui eu mesmo quem ensinou. O menino dirige melhor do que eu! Deixa ele dar uma voltinha, dar uma paquerada por aí, se exibir um pouquinho. A garotada precisa desse voto de confiança nosso. Eu, no tempo dele, fazia igual com o meu falecido pai. Logo, logo ele está com a carteira de habilitação nas mãos e daí então, ninguém vai segurar mais este rapaz! Deixa o garoto se divertir um pouquinho…” Normalmente esse é um caminho que conduz a momentos de muita tensão, sofrimento, arrependimento e dor. A fatalidade espera e se alimenta de oportunidades como esta. Se o pai se sentia culpado de alguma omissão em relação ao filho, agora ele viverá o dissabor de concordar e favorecer uma atitude inconsequente do mesmo.

     Os gregos tinham a palavra hybris, que significa orgulho, insolência, desejo de assemelhar-se aos deuses, para definir esse processo de aprendizado que todos temos que enfrentar na vida, que é o de assumirmos nossas capacidades, sabermos de antemão o quão distante podemos prosseguir, termos consciência das nossas aptidões e, também, daquilo para o que não temos ou estamos habilitados. Ter humildade em reconhecer suas próprias limitações não deve ser encarado como algo negativo ou um impedimento. Ao contrário, essa é uma força libertadora que nos impulsiona a nos desenvolvermos sempre e mais. Não significa ficar acomodado às suas limitações, desenvolvendo uma imagem de auto-piedade e também não deve induzir ao comodismo, de aceitar-se como é, num determinado estágio, sem esforçar-se em progredir, por pura preguiça.

     O que muitas vezes ocorre é que pretendemos viver a vida dos outros, que, frequentemente, sempre nos parece mais glamorosa, fácil e bem sucedida que a nossa. Isso é hybris. A expressão “a grama do vizinho é sempre mais verde” a isso se refere. Temos horror a nos vermos condenados a vidinhas comuns, onde nada nos parece excitante e interessante, digno da imagem que fazemos de nós ou que nos achamos merecedores. O Carro simboliza uma iniciação que devemos enfrentar, a de amadurecermos, tornando-nos adultos, encontrando o nosso lugar dentro de uma estrutura social bastante ampla. Essa nosso rito de passagem nos revela muito de nós mesmos, especialmente sobre nossos potenciais e limitações. É necessário que esse nosso desenvolvimento supere a sensação de insignificância que costumamos sentir sobre nossa pessoa e fortaleça nossa coragem e humildade para que possamos nos aperceber que a presunção, a ambição desmedida, a falta de preparo e de aptidão e, até mesmo, uma vocação definida, pode nos conduzir por caminhos bastante perigosos. Inúmeros são os exemplos de pessoas que perderam suas economias, endividaram-se única e exclusivamente para manterem a imagem de uma personalidade, uma situação ou um padrão de vida que não estavam aptos a sustentar, apenas para se sentirem importantes para si próprios e incluídos por determinados segmentos sociais ou grupos, numa imatura e suicida tentativa de assemelharem-se a eles.

     Quando bem aspectada, numa leitura de tarot, e sempre dependendo da sua relação com as cartas que se lhe avizinham, bem como da questão proposta pelo consulente, o Carro pode indicar uma boa chance, uma oportunidade que surge; movimento, destinação; viver grandes aventuras e correr riscos; um novo ciclo, uma evolução, um ponto de virada; tomar as rédeas da própria vida; destino, carma, sorte; auto-realização; auto-confiança, auto-disciplina; desenvolvimento e fortalecimentos de habilidades tendo por finalidade uma meta; força de vontade; conquista; determinação; coragem; enfrentar provas e desafios; controlar o que pensa e o que sente; manter-se no caminho certo;  viagens mentais e físicas.

   07-Major-Chariot   Ligando Geburah (a Força) a Binah (a Grande Provedora) na Árvore da Vida Cabalística, o Carro percorre o 18º caminho na busca de uma experiência introdutória (iniciação) ao Supremo Eu Espiritual. Em Alquimia, essa experiência é descrita como o processo chamado “exaltação”, onde o Alquimista se transforma na Pedra Fundamental. É o caminho pelo qual a abundância amplificada é distribuída sobre todas as criaturas. Na visão do profeta Ezequiel, é descrito uma espécie de veículo constituído por figuras com quatro faces, representando os quatro elementos, que suportavam um trono. Esse é o conceito aceito pelo pensamento judaico primitivo do Merkabah, ou seja, o Carro que transporta o Trono. O Carro se desloca entre a Luz, centrada em Tiphareth, e a Suprema Escuridão, que se situa no lado oculto de Kether.

     O Carro representa o nosso desejo, a nossa ambição e vontade direcionada de vencermos, o que se acontecerá desde que essa conquista seja realizada através de planejamento elaborado, dedicação extremada e perseverança. O Carro é o nosso veículo para evoluirmos, para nos locomovermos para patamares mais elevados.

     Nesta sexta-feira, dia da semana regido por Vênus, a Lua Crescente continua em Leão, possibilitando que nos vejamos com muita clareza e honestidade. É tempo propício para, não só reconhecermos e nos utilizarmos dos nossos potenciais e habilidades latentes, mas também humildemente reconhecermos nossos limites. Cancer, o representante astrológico do Carro, simboliza o elemento Água, sendo portanto pura emoção. É preferível ficar sozinho, ou pelo menos menos exposto, se não puder estar na companhia de amigos, para não correr riscos de sentir-se magoado ou irritado com as demais pessoas.

     Se houver tempo e possibilidade, procure meditar na frase do militar francês, herói da 1ª Grande Guerra, Marechal Ferdinand Foch: “A vitória é um produto da vontade”, e aproveite o dia!

     Um ótimo fim de semana para todos!

Imagem: TAROT NAMUR, por Prof. Namur Gopalla e Marta Leyrós (Academia de Cultura Arcanum)

sábado, 20 de março de 2010

Carta do Dia: O MAGO

   Mago   Quem não conhece alguém que parece ser múltiplo, conseguindo fazer diversas coisas ao mesmo tempo, num dia praticando parapente para no outro estar dando aulas particulares de inglês e no momento seguinte ser um requisitado ilustrador de capas de livros? Ou que consegue estar em todos os lugares, não perdendo uma festa, um show, uma estréia de teatro, um velório ou o aniversário da tia-avó? É aquele cara que organiza excursões de final de semana para fazer trilha, escalar montanhas, conhecer uma paradisíaca praia deserta. É aquele tipo de gente que consegue vender “gelo a esquimó”, tão encantadoramente persuasivo que é, conseguindo, inclusive, “melhorar” o enredo de qualquer filme, peça de teatro ou livro quando o conta a uma platéia deslumbrada. Pode morar num quarto-e-sala qualquer, mas consegue receber com charme e tanta simpatia que até nos esquecemos que a decoração é mínima e feita de peças desencontradas, que nenhum dos copos combina com ou outro e os deliciosos canapés são apenas salgadinhos vendidos a quilo na padaria da esquina. Porém tudo na sua presença e através da sua maneira de agir acaba assumindo uma outra forma, um outro colorido, um outro paladar, uma nova experiência. Conhece alguém assim? Pois se a sua resposta for afirmativa, você conhece o Mago!

     Quando transposto para a sua carta no tarot, ele representa o exercício criativo de vontade e aprendizagem. Os elementos dos quais ele se utiliza de maneira magistral são os mesmos que definem os 4 naipes dos Arcanos Menores: o Fogo (Bastão, a inspiração), a Água (Taça, a carga emocional), o Ar (Espada, poder da mente) e a Terra (Moeda, a matéria). Ele é o grande criador, a pessoa que faz acontecer, o que transforma chumbo em ouro, o grande alquimista. Originalidade, imaginação aguçadíssima, poder e criatividade, auto-determinação, conhecimento e habilidade são termos que muito bem podem definir suas melhores qualidades, além de ser um comunicador nato, muitas vezes um grande orador. Também, pudera, com Mercúrio como seu “padrinho” espiritual! Não nos esqueçamos que, de acordo com a mitologia clássica Mercúrio (ou Hermes) tendo roubado o rebanho de ovelhas de seu irmão Apolo, em vez de devolve-lo, negocia a lira (instrumento musical de cordas), invenção do próprio Apolo, em troca das ovelhas. Numa segunda menção mitológica Mercúrio troca sua flauta com Apolo sob a condição de ter o direito de ser o deus da adivinhação. Apolo concede-lhe o pedido, desde que nunca usasse palavras em suas predições. Talvez por isso muitos tarólogos o consideram o “dono” do baralho, o senhor das cartas, e a ele pedem permissão para usá-las como instrumentos de seus oráculos.

     A carta do Mago é uma carta de poder no sentido que ela significa estarmos nos sentindo fortes e no controle das nossas vidas. Isso quer dizer que estamos aptos a conduzir nossas vidas de forma bastante positiva pois o que é a verdadeira “mágica” do que a capacidade de transformarmos velhas situações e criarmos outras novas? O Mágico significa, basicamente, criatividade. Os artistas, de maneira geral, se identificam com esse “bateleur”, e muitos deles investigaram a Cabala, o Hermetismo e outras disciplinas que envolvessem magia para, finalmente, compreenderem que a arte e a mágica baseiam-se numa experiência comum que é o fluxo de uma energia espiritual que lhes percorre o corpo. Muitos escritores, músicos, pintores dizem, com frequência, que não são exatamente eles que criam suas obras de arte, mas que uma força maior age através deles, utilizando-se de suas habilidades, disposição e entrega para trazerem ao plano real o trabalho que desenvolvem.

     Mas não vamos pensar que apenas os artistas são privilegiados pelas manipulações do Mago. Todos nós podemos criar novos projetos, ou modificar outros para melhor. Todos temos a capacidade de imaginar e a habilidade de resolvermos de maneiras novas e mais criativas velhos problemas. O Arcano I do tarot é a carta da vontade direcionada. O Mago não consegue apenas vencer a resistência que possa haver nas outras pessoas a fim de concretizar os seus intentos, mas, principalmente, vencer a sua própria. Dificilmente iremos encontrar um Mago em nosso caminho que seja derrotista, inseguro, despreparado, que use frases do tipo: “Isso eu não sei fazer…”, “Isso eu não consigo…”, “Não faço a menor idéia de como fazer…”, “Não consigo imaginar nada que pudesse…”.

     Essa é uma carta que nos fala de sabedoria, da compreensão dos seres humanos e dos eventos e situações que eles criam e vivenciam. É um poder que se fortalece na medida em que é utilizado não apenas para favorecer a quem o detém, mas no benefício dos demais. Voltando aos mitos, podemos usar como um bom exemplo disso a figura do maior mago de todos, Merlin, que tanto ajudou ao Rei Arthur e aos Cavaleiros da Távola Redonda nas suas conquistas e em suas crises pessoais, mas cujo poder desapareceu quando resolveu dedicar-se exclusivamente a ensinar seus poderes à Nimue, a mulher amada.

     Quando o Mago, Arcano I surge numa tiragem de tarot, dependendo sempre da sua localização e das demais cartas que o acompanham no diagrama escolhido e da questão proposta pelo consulente, pode significar que estamos de posse de todos os instrumentos necessários para transformar possibilidades em realidade; astúcia, clareza mental; concentração, foco, objetivo; vontade, conhecimento, sabedoria e habilidade; versatilidade, capacidade de rápida adaptação e de moldar-se a novas situações; espírito de iniciativa; eloquência, facilidade de expressar e comunicar-se; ação, atividade, transformação; confiança; novos começos.

     Evidentemente, como toda outra carta do tarot, essa também tem o lado “sombra”, os aspectos que são analisados quando, numa leitura a carta aparece numa posição negativa, não privilegiada, ou respondendo a uma situação de obstáculo. Alguns desses aspectos negativos do Mago estão contidos nas seguintes expressões: bloqueio criativo; decisões e escolhas erradas; desconcentração; pessimismo; baixa auto-estima; acomodar-se a uma situação ruim sem fazer nada para mudá-la; arrogância; mau uso de suas habilidades no intuito de dominar ou prejudicar os outros; crueldade mental; charlatanismo; mentiras e engodos; desorganização; ignorância; exibicionismo; má comunicação ou inabilidade de expressar-se.

     Em termos de saúde, o surgimento do Mago pode indicar problemas de fala; rinite, sinusite, ou desordens respiratórias; distrofias neuro-musculares, paralisia; impotência masculina; depressão; esquizofrenia. É também um alerta para cuidar-se mais dos aspectos espirituais. Mas deve-se deixar muito claro que ninguém substitui um médico ou o profissional adequado e legalmente habilitado e credenciado da área de saúde para estabelecer um diagnóstico ou providenciar qualquer tipo de tratamento.

    01-Major-Magician Em termos cabalísticos, o Mago situa-se no caminho entre Binah (a Razão organizando o Pensamento em algo concreto) com Kether (o Potencial Puro), no esquema da Árvore da Vida, o que pode ser entendido como o desenvolvimento de algo imaginado em Kether no útero de Binah. Ele representa a cristalização do primeiro sopro, do primeiro movimento de criação, a formação dos elementos, as primeiras estruturas (átomos, células, DNA, etc). É a viabilização dos processos de criativos dentro das restrições do plano físico, com a compreensão de que através das nossas atitudes emocionais podemos impor nossa vontade sobre a natureza da criação. Para que o poder do Mago se manifeste é necessário que estejamos abertos, numa atitude de receptividade, vencendo todas as resistências interiores. As forças criativas sofrem com medos reprimidos, temores e sofrimentos emocionais, podendo mesmo serem bloqueadas no seu fluxo. Isso pode acabar se transformando nos problemas chamados psicossomáticos, gerando depressão, angústia, ansiedade. O surgimento do Mago numa leitura de taro antecipa um período de poder, de força, o qual deve fluir livremente para poder ser experimentado.

     No tarot de Marseille, o Mago está numa posição com um dos braços apontando para cima e o outro para baixo, simultaneamente, representando o axioma de Mercúrio “Assim como é acima, é  embaixo”. Isto pode ser interpretado que o caminho do Paraíso (ou o nome que você preferir) deve começar na Terra, ou seja, que o nosso propósito é o de completar o trabalho do Criador (ou qualquer outro nome que você prefira usar para definir o Início, a Divindade, Deus, etc) .

     Com o Mago, tudo é possível, mas não se tem garantias. Assim sendo, no amor é completamente imprevisível, sendo muitas vezes imaturo, inconsequente, não assumindo nada ou ninguém e experimentando de tudo e de todos um pouco, conseguindo, como sempre, namorar ou “ficar” com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, mas nunca se comprometendo com ninguém, pois não pode sentir-se preso ou tolhido.

     Aproveite o final de semana para estabelecer planos e metas muito bem traçados, aproveitando que hoje o Sol está entrando em Áries, marcando o equinócio do Outono. Áries é guerreiro, determinado, combativo, luta por seus ideais, enfrenta grandes adversidades em busca de um lugar ao sol. Essa energia, bem canalizada, é uma fonte de vitalidade tão necessária à criação e elaboração de novas estratégias e metas. Comunique claramente suas intenções, faça-se entender e estenda o seu conhecimento no sentido de ajudar aos demais. O Mago significa ação. Já percebeu que mágicos, quando estão trabalhando, não param sequer um segundo? Estão ativos o tempo todo, distraindo-nos com seus movimentos coreografados, com seus gestos largos, com a exuberância de seus trajes, mas tudo com a finalidade de que não percebamos toda a atividade, todo o verdadeiro trabalho de execução que existe por trás desse ritual. Portanto, é hora de arregaçar as mangas! Ao trabalho! Nós estamos no comando e as coisas só acontecerão se colocarmos as nossas energias, o nosso potencial para trabalhar. Somos os donos das nossas próprias varinhas de condão, os pilotos da nossa própria nave espacial.

     Tenham um ótimo final de semana e se tiverem tempo e quiserem entreter-se vendo um autêntico Mago em ação, revejam o filme “Guerras na Estrela” e prestem atenção no personagem de Luke Skywalker usando de seu poder (“Que a Força esteja sempre com você!”) para atingir os seus humanitários objetivos.

Imagem: TAROT NAMUR, por Prof. Namur Gopalla e Marta Leyrós (Academia de Cultura Arcanum)