sábado, 16 de janeiro de 2016
Baralho Lenormand (Baralho Cigano): as Cegonhas (Snapchat: ALEXCARLOS60)
segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
Pajem de Copas (Snapchat: @TAROTEANDO)
quarta-feira, 30 de abril de 2014
O LOUCO: um mergulho no desconhecido
Leia no POLAROIDES DA ALMA a minha mais nova postagem sobre o Arcano Sem Número, O LOUCO:
http://polaroidesdaalma.blogspot.com.br/2014/04/o-louco-o-salto-no-desconhecido.html
sábado, 8 de janeiro de 2011
Viagem e Espiritualidade
Recebi, dia desses, via Formspring, uma orientação interpretativa de um leitor do Blog sobre uma jogada que havia feito com o baralho Lenormand. Essas cartas, de origem francesa, são aquelas que normalmente chamamos de Baralho Cigano.
O ELEMENTOS DO TAROT, pelo próprio título, é um blog que comenta minhas opiniões e experiências com as cartas do Tarot. Entretanto, se olharem o subtítulo desta página, ele fala de outras possibilidades, de outros interesses e assuntos que me são importantes e sobre os quais gosto de narrar minhas reflexões. O Baralho Lenormand é um deles.
A dúvida desse consulente era a seguinte: o que poderia significar a combinação do Navio com o Jardim, numa casa de Viagem e qual a relação dessa combinação com a casa da Espiritualidade, nessa mesma jogada já que a “carta oculta” remetia a essa casa onde as cartas eram a da Cegonhas e a dos Ratos.
Em primeiro lugar devo explicar que não me utilizo de “cartas ocultas” nas minhas leituras com o Lenormand. Dentro da minha experiência pessoal elas nunca foram significativas e nem ajudaram realmente numa elucidação consistente de alguma dúvida. Não posso negar que já, há tempos, eu buscava essa correlação, mas os resultados foram, na grande maioria, frustrantes. Entretanto, como meu leitor as utiliza, vou procurar estabelecer algum paralelo que possa ajudá-lo na compreensão.
A jogada por ele utilizada é a chamada “Ciclo da Vida” que é composta de 15 casas, cada uma abordando um aspecto da vida do Consulente, mais uma, a 16ª que funciona como um resumo, uma orientação final da leitura. Se a pessoa se utilizar do método de “Carta Oculta” para interligar ou correlacionar as 16 casas, ela soma as cartas obtida na casa de seu interesse e busca em que casa a carta com o mesmo valor do resultado se encontra. Estabelece-se, assim, um vínculo e deve-se considerar a leitura da casa que contém a “carta oculta” como uma informação complementar.
A carta do Navio costuma ser chamada de “carta tema”, ou seja, ela, quando surge numa jogada, significa exatamente aquilo que representa, ou seja: viagem. Oras, uma carta de viagem numa casa de Viagem nem necessita que seja considerada a necessidade de uma segunda carta, no caso em questão o Jardim. A carta do Navio diz que o Consulente viajará, e pronto! Para onde é essa viagem, com qual meio de transporte, quanto tempo vai levar, quando exatamente irá acontecer, isso cabe ao Cartomante buscar, através de novas pequenas jogadas ou das regras pré-combinadas antes da leitura.
De qualquer forma a consulta que recebi pedia estabelecesse o porque de uma ligação “espiritual” dessa viagem, pois a dita “carta oculta” estava localizada na casa da espiritualidade desse esquema de jogo.
Vamos lembrar que Navio é a carta nº3 e que Jardim, a de nº20. A somatória de ambas é 5 + 20 = 23, ou seja, a “carta oculta” é Ratos (nº23). Analisemos, então, um pouco melhor se e como funciona, ou não funciona, a obtenção e uso da dita “carta oculta” com esse oráculo.
Vamos pensar nas múltiplas e quase sempre muito positivas possibilidades combinatórias de Navio e Jardim: viagem com muita gente; viagem alegre e divertida; viagem de restabelecimento de saúde; viagem para o campo ou contato íntimo com a natureza; viagem de estudo ou pesquisa botânica; viagem com grande diversidade de interesses entre os seus participantes; excursão, viagem para lugares distantes, inclusive exterior; excursão por diversos estados ou países; intercâmbio de estudantes; intercâmbio de profissionais; viagens para trabalho num ambiente muito interessante e charmoso; cruzeiro marítimo com muitas opções de diversão; etc Todas essas possibilidades, e outras mais, podem ser consideradas na combinação dessas duas cartas e, honestamente, não consigo ver nada de ruim nelas que justifique uma “sombra”, um “significado oculto em paralelo” como a carta dos Ratos.
A carta 23 quase sempre é vista e compreendida como uma carta negativa, que fala de perdas (de objetos, de energias, de saúde, de interesse, etc) e de pequenos furtos. Afinal ratos são animais associados à transmissão de doenças e todos sabemos o estrago que eles fazem nos silos e depósitos que armazenam grãos. Portanto, nos falam também de miséria, de desperdício, de desgaste, de estragos. Mas há um outro aspecto a ser considerado quando tiramos essa carta: a multiplicidade. Ratos são animais altamente reprodutores e vivem em bandos. Isso pode nos remeter à idéia de grandes famílias, de grupos com o mesmo interesse. Quem pensou em quadrilhas, em grupos mafiosos ou outras organizações criminosas e/ou clandestinas, não se enganou. Quem também pensou numa viagem com muitas oportunidades de contatos íntimos entre seus participantes ou uma grande variedade de parceiros, também não está enganado. Quem considerou a possibilidade de um enorme desgaste de energia física e espiritual, de muita farra, de uma verdadeira esbórnia, está longe de estar enganado.
Agora, o que de significativo essa informação “oculta” traz à combinação Navio + Jardim? Que será uma viagem com muitas pessoas de qualidades, comportamento e interesses altamente questionáveis? Como a “carta oculta” é sempre a mesma, devido à somatória das 2 cartas principais, isso significa que todas as vezes que obtivermos essa combinação, Navio + Jardim = Ratos, deveríamos temer pelas consequências dessa viagem? Quando uma respeitável anciã, ao se consultar, obtiver essa combinação, devemos alertá-la que aquele tão sonhado cruzeiro, planejado pelo seu grupo de senhoras da 3ª idade, devemos imediatamente alertá-la da possibilidade de ser uma grande armadilha que lhe comprometerá o moral e a alma para toda a eternidade? Creio que tenha deixado claro a minha insatisfação com a validade das “cartas ocultas” no Baralho Lenormand. No Tarot, ao contrário, delas me utilizo frequentemente e justificarei, em ocasião oportuna, a sua importância complementar numa leitura.
Porém foi utilizando a “carta oculta” que o Leitor desse blog fez sua jogada e suas interpretações e vou me ater a seu método de jogo.
Na casa da Espiritualidade saíram a Cegonha (nº17) e, naturalmente, os Ratos (nº23). Essa dupla permite as seguintes reflexões, e muitas outras mais, (quando lidas com o aspecto “Espiritualidade” em mente): mudanças de interesses espirituais ou religiosos com prejuízos; perda considerável de fé; abandono na frequência a cultos e rituais; troca desvantajosa de guias e/ou mestres espirituais; busca frustrada por novos caminhos de desenvolvimento espiritual; desencorajamento; desapontamentos. Mas se levarmos em consideração que Cegonhas, além de prenunciarem mudanças e novidades também significam fertilidade, poderíamos considerar a combinação entre duas cartas, que podem ser vistas também sob esse aspecto, como um aumento do interesse do Consulente por novas alternativas filosóficas, religiosas, espirituais. Mas, convenhamos, essa seria a melhor, entre as mais positivas, possibilidade combinatória dessas duas cartas. Confesso nunca ter me deparado, numa leitura que fizesse para um Consulente, com a possibilidade desse resultado.
Creio que o nosso amigo Consulente, ao buscar associar as cartas obtidas na casa das Viagens com as da casa da Espiritualidade (religião, filosofia, preocupações de ordem de desenvolvimento espiritual) tenha intuído que essa viagem, por mais divertida, interessante e agradável que seja, poderá trazer-lhe um grande desgaste, especialmente relacionado ao seu sistema de crença, à sua filosofia de vida, às normas éticas com que se conduz no dia a dia.
Ao explicar-lhe isso, via Formspring, ele contra-argumentou dizendo que acreditava que a viagem seria um sucesso, altamente benéfica, muito divertida, onde ele conheceria muitas pessoas interessantes. Que não seria uma viagem ao exterior, pois para ele o que determina viagem ao exterior é a combinação Navio + Estrelas (para mim essa é uma combinação que fala, quase sempre, de viagens aéreas, não necessariamente ao exterior). Mas que, ainda assim, ele não via sentido na relação com a casa da Espiritualidade. Fico muito feliz que ele tenha chegado às suas próprias interpretações e que as mesmas possam diferir das minhas. Como diz a grande mestra taróloga Rosa Silva, “tudo o que está escrito, tudo o que é opinião ou experiência alheia, é letra morta. Não serve para mais ninguém além daquele a observou, vivenciou, experimentou, deduziu e registrou. Serve como um guia de estudos, uma orientação muito básica, um comentário a ser pensado e, depois, descartado ou não.”
Eu me guio por essa mesma forma de pensar dessa taróloga brasileira. O que eu penso, opino e escrevo são considerações feitas baseadas na minha experiência com o uso das cartas. É evidente que possuo uma vasta coleção de livros sobre o tema, que participo de muitos cursos que existem na área, que leio postagens e blogs sobre o assunto, que troco informações e busco solucionar dúvidas com outros profissionais. Mas o meu único interesse com este Blog é que ele venha a estimular a divulgação e despertar o interesse pelo conhecimento e estudo dos oráculos. Como eles serão utilizados, como serão interpretados, isso é uma outra história e estou sempre curioso em saber das conclusões e das observações que os outros tem a respeito das combinações entre as cartas e dos sistemas de jogadas.
Um ótimo final de semana a todos!
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Carta do Dia: PAJEM DE ESPADAS
Título | Príncipe dos Ventos Violentos |
Elemento | Terra (Malkuth) no Ar(Espadas) |
Tetragramaton | He (final) |
Arcanjo | Sandalphon |
Nome Divino | Adonai Ha Aretz |
Mundo Cabalístico | Assiah (mundo da Matéria) |
Sephirah | Malkuth (Reino) |
Virtude | Discriminação |
Vício | Inércia |
Obrigações em cada Sephirah | Integridade |
Divindade na Árvore | Terra, Grão |
Atividade Social | Catalisador das Mudanças |
Arquétipo Social | Mensageiro, Enviado |
Planeta | Terra |
Signo | Gêmeos, Libra, Aquário |
Pedra | Cristal de Rocha |
O que é que os advogados, os soldados, os policiais, os detetives, os diplomatas, os espiões, os esportistas, pilotos de carros de corrida ou de aviões, os bombeiros, caçadores, mensageiros, designers, quiropatas, instrumentadores cirúrgicos, paramédicos, os engenheiros, os mecânicos, os eletricistas, os torneiro-mecânicos, os encanadores, os carpinteiros, só para citar alguns, têm em comum?
Resposta: são atividades típicas das pessoas que o Pajem de Espadas representa. São carreiras ou profissões que dão preferência a novas idéias e tecnologias, identificando e sabendo utilizar dos recursos, mecânicos ou não, que lhes são disponibilizados. Tornam-se alertas e defensivos quando necessário e dispostos a reagirem rapidamente a uma nova situação ou problema. São tão curiosos quanto uma criança pequena em sua descoberta do mundo que a cerca. Gostam de exercitarem suas mentes submetendo-as a desafios que requeiram talento, humor, inteligência e destreza. Sabem, muito bem, protegerem suas posições.
O Pajem de Espadas é um jovem que ainda não aprendeu a arte da esgrima. O alerta desta carta é contra os erros causados pela imprudência, pelo arrebatamento e pela irreflexão que nos faz chegar a conclusões temerárias, sabendo que idéias impulsivas podem, muitas vezes, a reagirmos de forma desajeitada e abrupta. Ainda que esse jovem Pajem represente novas idéias, opções e oportunidades, ele muitas das vezes as “poda” com a sua maneira impetuosa e obtusa de brandir a sua espada. Por esse motivo, ele, que logo estará sozinho no mundo, agindo por conta própria, poderá encontrar problemas no estabelecimento e manutenção de seus contatos e amizades
Numa tiragem de tarot, dependendo da função representativa que o Consultante tiver dado a essa carta (representa a ele ou a alguém de seu meio?), da sua posição na jogada, das demais cartas que a acompanham e da questão proposta para a leitura, o Pajem de Espadas pode simbolizar, em sua forma mais positiva, alguém espirituoso, vigilante, hábil, esperto, alerta, assertivo, ativo e audacioso. Alguém que goste de ser desafiado mentalmente, que gosta de prestar atenção em si mesmo e nos outros, coletando dados e informações. É disciplinado, dotado de um conhecimento prático, às vezes incorrendo em lugares-comuns na sua maneira de pensar. É bastante inquisitivo, astuto e perspicaz.
Negativamente, o Pajem de Espadas pode representar pessoas que vivam sempre na defensiva, paranóicas, cheias de suspeitas. Podem ser personalidades ilógicas, vingativas, cáusticas, tolas, mordazes, contundentes, rancorosas. Fala também de abuso físico ou psicológico.
De uma maneira geral esta carta representa tudo o que é novo, tudo o que é experimental, todas as novas formas de se pensar, Ela nos alerta a nos precavermos tanto da credulidade como da ignorância, que pode nos levar a protestarmos sobre algo em que não estamos bem fundamentados, a uma falta de confiabilidade generalizada e a tomadas de decisões bastante dogmáticas em sua essência. Nos lembra a permanecermos mentalmente saudáveis, a buscarmos tarefas e desafios que sejam desafiadores. Permitir-se descobrir a própria leveza de ser e de viver, usando sempre de muito humor e charme, evitando afirmações pré-determinadas, preconceituosas e tudo o que possa causar discussões. Esta carta fala-nos também para trabalharmos, de forma atenta e criativa com as imagens que surgem nas nossas mentes e também na dos outros.
Se há um conselho que o Pajem de Espadas pode nos dar é o de levarmos a vida de maneira mais leve e solta. A não delegarmos aos outros o nosso poder e capacidade de discernimento. Que o valor de uma nova idéia não deve ser julgado pelo que ela é, no momento, mas apenas pelo que ela poderá vir a ser. É ter consciência que o que o ser humano pode compreender é muito menor do que as coisas realmente são. E como um conselho final, essa carta nos lembra que faz uma enorme diferença se compreendemos, ou não, nossa contribuição individual e, também, a usarmos da melhor forma as nossas habilidades, de tal maneira que possamos fazer com que nossas vidas sejam mais fáceis, mais bem intencionadas, mais divertidas de serem vividas, tanto por nós mesmos como por todos os demais seres humanos.
Nesta quarta-feira, com Mercúrio como regente do dia e com a Lua Minguante (hoje Lua Negra) em Touro, podemos nos beneficiar para reorganizarmos os nossos projetos e percebermos que está mais fácil realizarmos nossos planos para o futuro. Além disso, Lilith (a Lua Negra) é um chamado para que nos dediquemos a explorar melhor os lados mais ocultos da nossa personalidade, procurando nos conhecermos mais e melhor, o que, certamente, só trará vantagens. Portanto… aproveite para se conhecer melhor e usar as asas de Mercúrio para voar para o seu destino!
Imagem: BOSCH TAROT, de A. Atanassov
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Carta do Dia: PAJEM DE PAUS
Título | Trono do Ás de Paus |
Elemento | Terra do Fogo |
Tetragramaton | He, final (a energia materializada de Yod) |
Nome Divino | Adonai Ha-Aretz |
Mundo Cabalístico | Assiah (mundo dos elementos, da matéria e da ação) |
Sephirah | Malkuth (reinado; universo físico) |
Correspondência Astrológica | Câncer e Leão |
Planeta / Pedra | Terra / Cristal de Rocha |
Ilustração: TAROT DE DALI
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Carta do Dia: O JULGAMENTO
A Carta do Dia hoje tem muito a ver com algo que eu próprio deverei fazer nas próximas horas. Faleceu uma grande amiga e haverá uma cerimônia antes do seu corpo ser incinerado, nesta tarde. Lá estarei, junto à família e aos demais amigos, consolando-nos pela sua ausência, rememorando seu caráter e esfuziante personalidade, possivelmente rindo e chorando ao mesmo tempo e encerrando uma etapa de nossas vidas. Vivendo, a partir de agora, a sua ausência não como uma lacuna, um tenebroso vazio, mas transmutando sua memória em algo eminentemente nosso e que nos acompanhará como uma motivação para enfrentarmos os percalços que a vida possa nos apresentar, e nos deliciarmos com as benesses que dela, a vida, também recebemos em igual proporção. Sabemos, em nossas almas, que ela evolui para um plano superior a este, reconciliada consigo mesma, redimida perante sua consciência, totalmente desperta em sua espiritualidade e pronta para iniciar um novo ciclo cósmico.
É claro que o Julgamento tem ainda um ranço muito grande, cristão (e por favor não vejam em minhas palavras nenhuma crítica a nenhum sistema religioso) de que chegará um dia em que todos os vivos e os mortos, que ressurgirão de suas tumbas, ouvindo o chamado do Anjo do Senhor (Gabriel) para serem julgados e então começar uma nova era de amor e paz celestial, livres de pecados e separados, os bons dos maus.
Penso que esse tribunal onde todos prestamos contas dos nossos atos existe dentro de nós mesmos (consciência) e que temos não uma, mais inúmeras possibilidades de “renascermos” para uma nova vida.
Mas não posso deixar de aproveitar esse momento de saudade da minha amiga para refletir sobre o nosso tempo nesta terra, e de quantas vezes “morremos” e renascemos, para novas, maiores, mais intrigantes, produtivas e mais harmoniosas oportunidades. Todos os dias temos, de alguma forma, uma chance para melhorarmos. Para abandonarmos um passado que já não mais nos interessa, que nada mais representa na ordem das coisas e, libertos, apreciarmos, com surpresa, admiração, às vezes medo ou ansiedade, mas de coração aberto, o que a vida tem a nos oferecer. Somos verdadeiras fênix que , ao sentirem sua missão cumprida, o tempo que tinham para uma determinada missão esgotado, constroem seus próprios ninhos e neles se imolam no fogo regenerador do espírito (isso sempre me lembra a simbologia de Pentecostes) e renascem ainda mais belas e fortes, preparadas para novas missões, novos embates.
Nem sempre aquilo que planejamos ou sonhamos para nós é exatamente o que alcançamos. Muitas vezes nos surpreendemos com as guinadas do destino, as mudanças absolutamente inesperadas que a vida nos propõe, mas as aceitamos sem dor, sem ressentimento, como uma novidade, algo que nunca havíamos pensado fosse nos acontecer e que acaba se provando muito mais interessante, útil e potencializador do que aquilo que queríamos ou esperávamos. É uma nova chance de começar, seja através de um novo trabalho que surge do nada, uma mudança para uma nova casa, numa nova cidade onde viveremos melhores condições de vida, um novo relacionamento muito mais completo do que os que já vivemos anteriormente.
Quando eu era criança e ficava frustrado com o resultado das coisas que não saíam como eu esperava, minha mãe sempre vinha com aquele ditado:”Deus escreve certo por linhas tortas”, e eu, na minha total falta de experiência respondia, emburrado, que então ele deveria comprar um caderno melhor. A vida me ensinou, paulatinamente, através de longos anos, que tudo o que nos acontece, ou deixa de acontecer, obedece a um padrão muito maior, que nos leva a outros patamares, nos oferece outras possibilidades, até mesmo as de revermos nossos conceitos, nossos desejos, nossas metas. É uma chance de olharmos à nossa volta e vermos o que nos cerca com outros olhos (lembram-se do Enforcado, o arcano que foi a carta de ontem?), sob uma perspectiva diferente, mas certamente muito mais iluminada.
O Julgamento não é simplesmente virar as costas para o passado ou abandonar uma idéia sem dela fazer nenhum juízo de avaliação. Ao contrário. É uma soma de vivências, de reconhecimento de nossos erros e acertos, da honesta avaliação de nossas escolhas durante a nossa jornada, de colheita dos frutos daquilo que através do nosso livre-arbítrio semeamos pelo caminho, da nossa coragem de enfrentar nossos próprios demônios e temores. O passado não é para ser escondido ou esquecido, mas encarado às claras, uma vez mais, confrontando-o e julgando-o antes de ser ultrapassado. É esse exame de consciência que dá um encerramento a um ciclo e nos permite um renascimento, livres de culpas, angústias, redimidos conosco e com o universo, prontos para aceitarmos o chamado interior para fazermos uma nova e importante mudança de vida, renascendo para um novo mundo a fim de cumprirmos um novo propósito.
Na cerimônia que faremos na tarde de hoje estaremos, ritualisticamente, encerrando um ciclo em nossas vidas. Nossa amiga não estará mais, fisicamente presente, para nos entreter com suas histórias, nos divertir com o seu jeito muito autêntico de ser, representar a âncora da qual podíamos nos valer numa miríade de situações. Deixa-nos entre as mais agradáveis memórias, a sua corajosa luta contra a doença. A sua maneira de viver anos de de sofrimento físico transmutando-os num desapego das coisas materiais e se reabilitando com sua consciência, com a sua espiritualidade, com a fé em algo maior que nunca a abandonou. Creio que Bibi (Sybil May Halter) sempre soube onde esteve, onde estava, e para onde iria, consciente de suas fraquezas e de sua força, nunca temerosa de ouvir o chamado interior, mesmo mergulhada no burburinho da vida diária ou nas longas e solitárias permanências hospitalares.
Estou certo que neste momento, em algum lugar que a minha irrisória idéia de tempo e espaço não me permite avaliar, ela regenera-se unida ao seu Criador, recuperando suas forças, construindo o seu ninho para um dia, uma vez mais, trazer a este plano o brilho da sua alegria e uma nova lição de vida.
Permitam-se, neste dia, reconciliarem-se consigo mesmos e viverem, com muita alegria, as mudanças (sejam quais forem) que a Vida lhes propõe.