terça-feira, 1 de junho de 2010

Carta do Dia: 6 DE OUROS

Minor-Discs-06Vaudeville      Levantou-se, sem ter dormido por um minuto, quando ouviu a tia caminhando pela casa. Logo o despertador faria com que as primas também acordassem. A tia ficou preocupada com a sua aparência abatida e procurou, uma vez mais, tranquilizá-la, dando-lhe, inclusive dinheiro suficiente para que ela pudesse ir e vir do trabalho por uma semana. Em princípio recusou a oferta, dizendo que já estava dando trabalho e despesas demais para os parentes, mas a tia, mais velha, mais paciente, mais sábia e experiente insistia: “Deixe disso, minha filha! Pra que esse orgulho besta? Você acha que se eu não pudesse, eu estaria oferecendo? Além do mais, é você quem está me ajudando, ocupando o meu lugar naquela cozinha, fazendo uma comida gostosa para a família dos meus patrões. Pegue o dinheiro, querida. Não se sinta humilhada por isso, pois você bem sabe que não é, e nem nunca foi, essa a minha intenção. Vamos lá! Pegue! E agora vá tomar um  banho bem gostoso antes das suas primas ficarem brigando pelo uso do banheiro. Passe um batonzinho e arrume-se porque tem muito trabalho pra você fazer naquela casa. Vai, minha filha, ande logo. E ânimo, minha querida, ânimo. Lembre-se que mais tem Deus para dar do que o Diabo para tirar. Ouviu? E agora, venha cá me dar um abraço e… corra pro chuveiro!”

     Chegaram mais cedo ao trabalho e aproveitou para preparar um bolo de fubá com pedacinhos de goiabada cascão e lascas de queijo coalho,  para o café da manhã da família. Era um dos seus prediletos e lembrava-se de como a mãe o fazia, sem seguir medidas ou receitas, apenas juntando instintivamente os ingredientes, nas manhãs do sítio, enquanto era pequena. Conseguia sentir o cheiro dele assado, saindo do forno à lenha e a delícia que era vê-lo, ainda fumegante, sendo cortado em fatias grossas e distribuídas, primeiro para o pai, e depois para todos os filhos. Ela, a caçula, ganhava um pedaço sempre maior, o que sempre era motivo de uns resmungos dos outros irmãos. A mãe dizia: “Parem com isso, crianças. Comam o seu pedaço e não fiquem reclamando. Sou eu quem decide quem vai ganhar uma fatia maior hoje. Sua irmã me ajuda sempre na cozinha, enxugando a louça enquanto vocês vão trabalhar na roça. Deixa ela comer em paz.” Sentiu uma profunda saudade da mãe que falecera quando ela ainda era pequena. Amorosa, sempre estava lá para protege-la dos maiores.

     A patroa mandou chama-la  à sala de refeições. Queria cumprimenta-la pela delícia de bolo. O patrão e os filhos também fizeram grande elogios e pediram a ela que fizesse um igual todas as manhãs. Até o rapaz, que era sempre muito calado, tímido até, sorriu-lhe como que agradecendo pela delícia que havia saboreado. Por um momento ela sentiu-se novamente feliz, alegre, realizada. Aquele elogio compensava grande parte da decepção e sofrimento que estava vivendo desde a noite anterior. A dona da casa disse-lhe que iria a um chá, naquela tarde, em casa de uma amiga muito querida e famosa jornalista que escrevia algumas colunas sobre comida e restaurantes para jornais e revistas, além de publicar uma espécie de guia onde citava grande culinaristas, fornecedores de produtos raros ou especiais, locais pouco conhecidos onde a comida era especialíssima. Era uma mulher de extremo bom gosto e de grande conhecimento sobre assuntos gastronômicos. Queria levar-lhe, como presente, um bolo, exatamente igual àquele que ela havia preparado. Ela se importaria em fazer mais um, até a tarde?

     Ela voltou exultante para a cozinha e a sua alegria despertou a curiosidade de todos os demais empregados da casa, que estavam almoçando. A prima, que havia participado de todo o seu calvário no dia anterior e a sabia deprimidíssima, ficou espantada ao ver que ela recuperara, em instantes, o bom humor, o sorriso largo e franco. “Ganhou na loteria, prima?”, e todos riram. “Mais ou menos.”, respondeu enquanto via as claras dos ovos se transformarem em grandes flocos de neve. Pensou nas palavras ditas pela tia naquela manhã. Eram verdadeiramente sábias. Não era humilhante aceitar ajuda, quando necessária, assim como o dinheiro não era a única coisa que importava ou que trazia felicidade. Havia um valor, num cumprimento como o que a patroa fizera ao seu talento, que superava muito do que o dinheiro pudesse representar.

     Voltou toda a sua atenção para aquele bolo que haveria de ser degustado e julgado por alguém que entendia do assunto. Faze-lo era mais do que um trabalho. Era o seu vestibular. Quem sabe um dia ela também teria um diploma para olhar e exibir…

     Quando o 6 de Ouros aparece numa leitura de tarot, dependendo sempre da sua posição na jogada, das demais cartas que o acompanham e da questão proposta pelo Consultante, pode simbolizar generosidade, amor incondicional; sucesso, ainda que de curta duração. Pode representar o fato do Consultante estar caminhando, passo a passo, em direção à realização dos seus desejos. Simboliza, também, o fato de que é sempre necessário vermos os aspectos verdadeiros, reais que existem por traz de cada conquista pessoal. Alegria. Um momento na vida da pessoa em que ela olha para dentro de si e busca por sonhos já esquecidos. O elemento espiritual que acompanha e justifica o sucesso está presente, mas necessita ser nutrido, estimulado, reforçado. Estar aberto para aceitar o que a Vida tem a nos oferecer. A necessidade de agir de tal forma que faça com que a “esperança” torne-se realidade. Saber usar o sucesso como meio de obter sabedoria.

     Negativamente o 6 de Ouros pode significar um momento na vida do Consultante em que as coisas parecem perder a intensidade, diminuírem sua força ou importância. É um aviso de que o dinheiro deve ser cuidadosamente investido e aplicado, para que não existam perdas consideráveis. Pode simbolizar que o Consultante esteja muito apegado aos valores materiais e tenha perdido de vista os aspectos espirituais embutidos em todas as coisas, pessoas, relacionamentos, ações e situações. É um indicativo de buscar-se valores mais importantes que o sucesso exterior e, também, uma abordagem mais modesta em relação aos semelhantes e à vida, em geral.

     Quando dinheiro é gasto para satisfazer necessidades reais, ambas as partes envolvidas lucram, tanto a que gasta, quanto a que receber. Apelar para a caridade alheira ou dar esmolas não é, necessariamente o que se deve fazer. Todas as vezes que o processo de dar e receber torna-se unificado, transforma-se numa só coisa, todas as vezes que força e fraqueza, abundância e necessidade se reconciliam, uma verdadeira benção divina pode ser sentida e vivenciada. A carta do 6 de Ouros é um dos símbolos cristãos da Transmutação, onde o pão e o vinho proporcionam o sustento físico e espiritual. Todas as vezes que utilizamos nossos talentos para satisfazer as nossas necessidades e usamos as necessidades para estimularmos os nossos talentos, ganhamos algo. Crescemos um pouco mais.

     Nesta terça-feira, dia da semana regido pelo enérgico, vigoroso e assertivo Marte, é o momento de pensarmos em autopreservação, ou seja, não empregarmos uma energia positiva tentando solucionar, ou por em andamento, algo que não faz sentido e nem representa nada na nossa evolução. É puro desperdício. É necessário que aprendamos quais são nossas necessidades reais e de termos a consciência de que o valor daquilo que possuímos só é grande quando muitas pessoas podem beneficiarem-se dele. Podemos aproveitar este início de semana (com um feriado no meio) para meditarmos no fato de que, muito melhor do que ficar gerindo o que nos falta, é empregar  tempo e  esforço buscando obter algo que beneficie, igualmente, todas as partes envolvidas.

      Tenham todos um dia pleno de atitudes generosas!

Imagem: VAUDEVILLE TAROT, de F.J. Campos

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