As duas primas não conseguiam esconder a excitação e entraram no circular às gargalhadas. Tinha sido um dia bastante tenso, mas cheio de grandes recompensas. Quando ela poderia ter imaginado, ainda no interior do sertão, na casa do sítio onde sempre morara, que 24 horas após ter chegado a um outro estado, a uma outra cidade, sem nenhuma referência ou formação específica, iria estar trabalhando naquilo que mais amava e, ainda por cima, ganhando “uma fortuna”! Era muita sorte, muita mesmo. Queria poder ligar para a irmã mais velha, agora tão distante, e contar tudo o que estava lhe acontecendo.
O ônibus ia desviando de carros e pedestres que, àquela hora, lotavam as ruas e todas as formas de veículo possíveis de trafegar por elas. Mas, nem o aperto, nem os esbarrões sofridos, nem o ter que fazer uma verdadeira ginástica para poder se acomodar no exíguo espaço, enquanto os outros passageiros se amontoavam sobre ela, a incomodaram. Com a prima fazia planos para o dia seguinte e pensava em levar algumas coisas, como uma especialíssima pimenta que havia trazido para a tia, para incrementar o sabor do prato que pretendia preparar. Somente quando desceram no ponto, próximo à casa da tia, é que a prima percebeu, espantada, que sua bolsa estava aberta.
Apesar das palavras consoladoras da tia e das primas, chorou muito quando voltou, tarde da noite, da delegacia onde fora fazer o Boletim de Ocorrência sobre o furto que sofrera. Além de levarem todo o seu dinheiro ganho naquele dia e as economias que havia trazido de sua terra, levaram, na carteira, seus documentos. Na delegacia, a frieza profissional da pessoa que a atendeu deixou-a ainda mais frustrada. Ainda que situações como aquela pudessem acontecer às dúzias, todos os dias, era ela quem era a vítima, não uma estatística apenas, mas um ser humano que perdera tudo o que possuía, inclusive as provas legais de sua existência. Eram dela os documentos desaparecidos e, sabe lá Deus, nas mãos de quem pudessem estar nesse momento. Nem seu nervosismo, nem suas lágrimas pareciam abalar o ar cansado e distante do atendente. Ela não podia acreditar que as pessoas não se importassem com o sofrimento das outras. Como aquele atendente podia ser tão frio, tão distante, tão mecanicamente alheio ao seu problema? E, qual a solução que ela poderia esperar? Por que ninguém lhe dizia nada de esperançoso?
Apesar do enorme cansaço físico e do esgotamento emocional, demorou muito a dormir. Pensava em tudo o que a irmã lhe dissera sobre a cidade grande, sobre os perigos, sobre os crimes, sobre a insegurança, sobre a distância entre as pessoas, todas com medo umas das outras. Lembrou-se de cenas de telejornais e de programas de TV que apresentavam e discutiam a criminalidade urbana dos grandes centros. Parece que ouvia, mais uma vez, os comentários do pessoal da vila falando de Fulano e de Beltrano que foram feridos, roubados, espancados ou desapareceram no turbilhão anônimo da metrópole. Teve pena de si mesma. As lágrimas escorriam-lhe, molhando o travesseiro, enquanto ela pensava no que fazer. Não tinha nada, nem uma moeda. Perdera todo o seu dinheiro. Não tinha nem como pagar o ônibus para, no dia seguinte, voltar ao trabalho. Pior, não tinha como ajudar a tia nas despesas. E os documentos? Precisaria de dinheiro para obter as segundas vias. Mas… que dinheiro?
Sentiu-se, pela primeira vez, culpada por não ter dado ouvidos aos apelos da irmã. Repassou, pela milionésima vez, a viagem no ônibus municipal, de volta à casa da tia, tentando lembrar-se de algum movimento, de algum esbarrão diferente, de alguma coisa à qual ela deveria ter dado mais atenção e que fora exatamente o momento em que tivera a bolsa aberta e sua carteira roubada. Culpou-se do fato de não ficar mais alerta, mais “ligada”, de prestar mais atenção ao seu entorno e, em especial, às pessoas estranhas… Não se conformava com a atitude distante, de pouco interesse com a sua má-sorte, que o atendente que registrou sua queixa demonstrou. Sentiu-se envergonhada, perante a tia e as primas, da sua “inocência”, da sua falta de cuidado com os seus pertences, que certamente iriam atribuir isso ao fato dela ser uma caipira, que sempre vivera no interior, que não tinha o preparo e a malícia necessárias para sobreviver na metrópole. Uma otária, isso sim é o que ela era.
A claridade da manhã começou a atravessar a cortina do quarto num prenúncio de mais um dia. Dentro dela, o frio da noite ainda se fazia sentir na alma. Ouviu os primeiros barulhos da rua e da casa. Levantou-se sem fazer nenhum barulho que pudesse acordar as primas.
Quando o 5 de Ouros aparece numa leitura de tarot, dependendo sempre da sua localização entre as demais cartas e da questão proposta pelo Consultante, pode significar um estado de desolação, de perda de coisas materiais. Um período de dificuldades em obter ou lidar com o dinheiro. Pode, em determinadas situações, representar uma saúde que requer cuidados. Quase sempre é o reflexo da ansiedade e preocupação do Consultante a respeito da possibilidade de empobrecimento. Preocupações extremas. Um retrocesso. Emoções negativas bloqueando a evolução do Consultante. Medo do que está por vir. Problemas no trabalho, nos negócios e perda de status. Orgulho impedindo a aceitação de ajuda. Sentir-se desprotegido, abandonado, à mercê de um destino cruel. Não conseguir abrigo, proteção ou cuidados necessários. Perder o pouco que ainda restava.
Quando o 5 de Ouros aparece bem posicionado numa jogada, a situação praticamente se inverte pois ele pode estar simbolizando que a situação começa a melhorar. Alguns progressos se fazem notar. Aquilo que foi semeado começa a brotar, a dar sinal de vida e de uma futura colheita. Algo que surge, como que por encanto, e que lhe dá possibilidades de melhorar a situação atual. O medo e o sofrimento a respeito das perdas sofridas começa a diminuir. A possibilidade de uma nova oportunidade surge no horizonte.
Nesta segunda-feira, dia regido pela Lua que se encontra em sua fase Cheia transitando por Capricórnio, podemos dispor de uma energia que nos estabiliza emocionalmente, que ajuda a que nos reequilibremos, sempre procurando o “caminho do meio”. Devemos evitar desgastarmo-nos com preocupações fantasiosas sobre o futuro e, sim, dedicarmos nosso tempo, foco, e energias na solução dos problemas do dia a dia, à medida que vão se manifestando. A ansiedade é uma péssima conselheira e precisa ser entendida e controlada, pois só assim poderemos estar aptos para as recompensas futuras.
Iniciem a semana seguros de si, vivendo o presente, no momento presente, e tenham todos um ótimo dia!
FIEL
ResponderExcluirNAMASTÊ