quinta-feira, 13 de maio de 2010

Carta do Dia: ÁS DE ESPADAS

    

     “… Hoje, de novo aqui estamos, Édipo; a ti, cujas virtudes admiramos, nós vimos suplicar que, valendo-te dos conselhos humanos, ou do patrocínio dos deuses, dês remédios aos nossos males; certamente os que possuem mais longa experiência é que podem dar os conselhos mais eficazes!

     Eia, Édipo! Tu, que és o mais sábio dos homens, reanima esta infeliz cidade, e confirma tua glória!…”

O Sacerdote, em “Oedipus Rex” _Sófocles, séc.V a.C.

 Swords01 (5)     O Ás de Espadas é um presente do Elemento Ar, a mente como intelecto e força criativa. O Cristianismo chama a isso de Logos, a Palavra de Deus, o Verbo que cria o universo.

     O intelecto, sozinho, é inútil e até perigoso. Enquanto alguma Água não se misturar a ele, em forma de vapor, o Ar permanece árido, vazio. Se os seres humanos agirem unicamente guiados pela lógica, sem estarem conectados aos seus sentimentos, intuição ou de uma consciência das verdades sagradas, ele se tornam destrutivos, utilizando as suas espadas como armas.  O tarot não menospreza o valor do intelecto, mas reconhece que a mente necessita de equilíbrio. Necessita de uma base interior que a vincule ao espírito. A inteligência humana não consegue agir sozinha, precisando receber uma centelha divina e, só então ela poderá processar a verdade para ser compreendida em termos humanos. Podemos, então, organizar o que antes era caótico e dar-lhe alguma forma ou ordem.

     O tarot utiliza-se da figura da Espada como uma representação simbólica das armas que a mente elabora e possui. Esse simbolismo remonta à Justitia, a deusa romana que representava uma das 4 Virtudes Cardeais e cujo equipamento era uma balança e uma espada. A espada não era apenas um artefato de uso do carrasco, mas um instrumento para formar-se um julgamento. A balança pesa, enquanto que a espada examina e identifica. A lâmina da espada pode ser usada para traçar uma linha delimitadora entre aquilo que é certo, do que é errado, entre o que é devido, do que não pertence.

     A fecundidade da mente é medida pela maneira refinada e satisfatória com que resolvemos nossas necessidades práticas. O Ás de Espadas simboliza a oportunidade de obter-se um melhor entendimento daqueles nossos desejos e medos que não são expressos. É também uma metáfora, pois uma espada necessita ser forjada e polida, de um processo de purificação interior onde acontece um processo semelhante de se polir o coração para que ele se transforme num espelho onde a realidade divina possa refletir-se. O polimento intenso da lâmina da espada até que ela brilhe é um símbolo da purificação progressiva da nossa consciência, para que possamos brilhar com a luz do Divino, livres das nódoas das paixões desprezíveis e do egoísmo.

     O surgimento do Ás de Espadas numa leitura de tarot pode simbolizar que é chegado o momento do Consultante elevar-se, ascender, obter a necessária força de seu próprio conhecimento. Momento de explorar o que desconhece. Inteligência. Uma fase em que a pessoa está apta a pensar com clareza, analisando os diferentes aspectos da situação. Talvez seja o momento de buscar um equilíbrio, favorecendo a razão, se o Consulente reage muito emocionalmente.

     Negativamente essa carta sugere uma falta de harmonia entre emoção e razão. Pode alertar ao Consulente o fato dele considerar ser possuidor de um raciocínio frio, porém lógico, mas que na verdade é apenas uma mente que distorce a realidade na sua ânsia de dominar os outros ou controlar uma situação. Há necessidade de um reequilibrar de forças e é sempre bom lembrar que podemos contar com os outros Elementos: o Fogo transforma idéias em ação; a Água traz consigo a necessária sensibilidade e emoção e a Terra fixa tudo na realidade exterior.

     “Édipo Rei” a tragédia criada pela genialidade de Sófocles (Séc. V a.C.), primeira novela policial que se tem notícia e base de incontáveis estudos e teses, inclusive esteio de algumas das mais importantes teorias de Sigmund Freud, narra a seguinte história, aqui completamente resumida ao seu essencial:

     Laio, casado com Jocasta, é avisado pelo oráculo de Delfos que seu filho, recém nascido, irá matá-lo. Para impedir que isso aconteça, entrega a criança a um pastor para que a mate, mas este, apiedando-se da criancinha, deixa-o entregue à própria sorte, amarrando-o pelos pés junto a uma rocha, fora dos muros da cidade.

     Um outro pastor, ouvindo o choro do bebê, desamarra-o  (Oedipus significa “pés inchados”) e o leva para Corinto onde o entrega ao Rei Polibus e à Rainha Mérope, que não tinham filhos e que o adotam com alegria. Quando jovem, pronto para explorar o mundo, Édipo vai, como era de costume nessas ocasiões, consultar o oráculo, em Delfos, que lhe diz, para seu horror, que ele matará o pai e desposará a mãe. Desesperado, e para evitar essa tragédia, ele não retorna a Corinto, mas segue numa estrada que o leva em direção a Tebas.

     Pela mesma estrada, em direção a Delfos, Laio vai em busca de uma resposta em como exterminar a Esfinge, monstro alado que, na entrada de Tebas, propõe a mesma questão aos viajantes, e não obtendo resposta, mata-os. Quando a caravana real cruza com Édipo surge um desentendimento e o jovem mata Laio (seu verdadeiro pai), cumprindo assim parte da profecia.

     Ao chegar aos muros de Tebas, confronta-se com a esfinge, respondendo acertadamente o enigma e fazendo com que o animal morra. É recebido na cidade como herói e lhe é oferecido o reino e, consequentemente, Jocasta (sua mão biológica), viúva do falecido rei. Édipo casa-se e com ela tem 3 filhos, cumprindo-se assim totalmente a profecia.

     A peça começa quando Creonte, irmão de Jocasta, volta de uma consulta feita ao oráculo e diz que Tebas só irá se livrar dos seus males quando o assassino de Laio for expulso dela. Édipo convoca, então o sábio e vidente Tirésias, que lamenta não poder ajudar pois, apesar da sua cegueira permitir-lhe saber dos fatos, a verdade só causará dor. Édipo o acusa, e ao cunhado Creonte, de um complô e exige que ambos falem, sob pena de serem mortos. Jocasta conta-lhe os detalhes da morte do ex-marido e diz que há um sobrevivente que poderá identificar o assassino. Mandam buscar esse homem que, ao ver Édipo, fica temeroso em dizer que ele, o Rei, é o assassino. Trazem, também à sua presença o pastor que o recebeu, recém-nascido, das mãos da própria Jocasta para que fosse morto. Conta o que sabe da história e a chegada de um mensageiro de Corinto dizendo que Polibus, o Rei que Édipo acredita ser seu verdadeiro pai, morreu e que ele pode voltar ao reino, sem temores.

     A situação vai-se agravando com os depoimentos de Creonte, de Tirésias, do pastor que o levou a Corinto e às suplicas insistentes de Jocasta que, já percebendo a extensão do drama, tenta demover Édipo dessa busca aterradora pela verdade. O quebra-cabeça acaba se montando e Jocasta mata-se enquanto Édipo cega-se e exige que o expulsem, com seus filhos, da cidade, o que é feito.

     Tirésias, o adivinho cego, define a falta de clareza mental daquele homem que conseguiu decifrar o enigma da monstruosa esfinge mas não conseguia resolver o seu próprio:

     “Você se recusa a ver o mal que há dentro de você!”

     Nesta quinta-feira, com o próspero, abundante, confiante e expansivo Júpiter como regente, temos a possibilidade de aproveitarmos como experiências construtivas até mesmo as situações chamadas “ruins” que vivemos, pois esse planeta é um verdadeiro “mago”. Hoje a fase de Lua Nova inicia em Touro, e colabora para que possamos nos organizar melhor, planejando com segurança e bastante realismo as nossas ações. Não devemos nos precipitar, pois tudo tem o seu tempo e segue um curso natural de ação. Basta que ouçamos a voz e o ritmo do nosso coração.

     Tenham todos um ótimo dia!

Ilustração: BOSCH TAROT, por A. Anatassov

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