sábado, 22 de maio de 2010

Carta do Dia: 10 DE ESPADAS

                                                      ÉDIPO
     “… Mas ninguém mais me arrancou os olhos; fui eu mesmo!”
      “Desgraçado de mim! Para que ver, se já não poderia ver mais nada que fosse agradável a meus olhos?”
                                                  CORIFEU
     “Realmente! É como dizes!”
                                                     ÉDIPO
     “Que mais posso eu contemplar, ou amar na vida? Que palavra
poderei ouvir com prazer? Oh! Levai-me para longe daqui, levai-me depressa para bem longe. Eu sou um réprobo, um maldito, a criatura mais odiada pelos deuses, entre os mortais!”

                                       ……………………………

     “…..por que mostraste um dia um pai irmão de seus filhos, filhos irmãos de seu pai, e uma esposa que era também mãe de seu marido?! Quanta torpeza pôde ocorrer entre criaturas humanas! Vamos! Não fica bem relembrar o que é hediondo fazer-se; apressai-vos - pelos deuses! –em esconder-me longe daqui, seja onde for! Matai-me, atirai-me ao mar, ou num abismo onde ninguém mais me veja! Aproximai-vos: não vos envergonheis de tocar num miserável; crede, e não temais; minha desgraça é tamanha, que ninguém mais, a não ser eu, pode sequer imaginá-la!”

                         ………………………………………………….

                                                    CORIFEU
     “Habitantes de Tebas, minha Pátria! Vede este Édipo, que decifrou os famosos enigmas! Deste homem, tão poderoso, quem não sentirá inveja? No entanto, em que torrente de desgraças se precipitou! Assim, não consideremos feliz nenhum ser humano, enquanto ele não tiver atingido, sem sofrer os golpes da fatalidade, o termo de sua vida.”

Édipo e Corifeu, em “Oedipus Rex” _ Sófocles, Séc. V a.C.

     Swords10 (5) Se me perguntarem qual é o lado positivo do 10 de Espadas, creio que diria ser o fato que pior do que está não pode ficar. Chegamos ao fundo do poço. Descemos ao mais profundo da miséria humana. Chegamos ao limite das nossas forças. Mais não poderemos suportar. Então, o que nos resta fazer? Eu diria que a solução viável é firmar bem os pés no chão e utilizar a realidade como mola propulsora para nos reerguermos.

     Algumas pessoas têm grande dificuldade de ultrapassarem a barreira do 9 de Espadas. Só quando reconhecemos que chegamos ao limite e aceitamos o fato, sem ficarmos inventando desculpas do gênero “eu sou assim mesmo”, “eu nunca vou conseguir”, “não posso acreditar que tenha acabado”, eu não vou deixar isso acabar assim não”, “não é tão ruim como parece”, só mesmo quando aceitarmos o fato de que não há mais nada, naquela situação, pelo que lutar, é que vamos conseguir nos libertar da âncora que nos arrasta ao fundo do oceano e tomar impulso para emergirmos novamente.

     As cartas numeradas com o valor 10 encontram-se na base da Árvore da Vida cabalística, numa Sephirah (esfera) denominada Malkuth, ou o Reino. Malkuth é o plano terreno, o planeta Terra, nosso mundo, nossa realidade. O 10 de Espadas, como as demais cartas desse valor, representa o fim de um ciclo, mas não o nosso fim. Como a seiva de uma árvore, nós continuaremos a circular, pois os caminhos da Árvore da Vida tanto são ascendentes como descendentes. A cada ciclo nós nos renovamos, acumulando experiências que nos servirão na vivência de outros, e outros, e outros ciclos mais.

     A trágica história do rei Édipo chega ao seu final. Ele, cego, pede para Creonte, seu tio e cunhado, para ser banido de Tebas. Implora para ir para o monte Citerão, local onde, ainda bebê, havia sido abandonado, pois crê que deve ser lá o local onde deverá aguardar a morte, aquela que não aconteceu quando seus pais o quiseram:

     “Quanto a mim, não queiras que a cidade de meu pai me tenha como habitante, enquanto eu vivo for; ao contrário, deixa-me ir para as montanhas, para o Citéron, minha triste pátria, que meus genitores escolheram para meu túmulo, para que eu morra por lá, como eles queriam que eu morresse. Aliás, eu bem compreendo, que não será por doença, ou coisa semelhante, que terminarei meus dias; nunca foi alguém salvo da morte, senão para que tenha qualquer fim atroz.”

     Pede que Creonte enterre Jocasta e lastima a sorte dos filhos, que sofrerão o desprezo de todos, especialmente as filhas, Antígona e Ismênia:

    “… E quando atingirdes a idade florida do casamento, quem será... sim! - quem será bastante corajoso para receber todos os insultos, que serão um eterno flagelo para vós, e para vossa prole? Que mais falta para vossa infelicidade? Vosso pai? Mas ele matou seu pai, casou-se com sua mãe, e desse consórcio é que vós nascestes. Eis as injúrias com que vos perseguirão...
Quem vos quererá por esposa? Ninguém! Ninguém, minhas filhas!
Tereis de viver na solidão e na esterilidade…”

     Pede, finalmente, que Creonte permita que ele se faça acompanhar, no exílio, pelos filhos, para que lhe sirvam de guia e de consolo, obtendo do tio e cunhado a seguinte observação:

                                                  CREONTE
     “Não queiras satisfazer todas as tuas vontades, Édipo! Bem sabes que tuas vitórias anteriores não te asseguraram a felicidade na vida!”

     Com essa frase, Sófocles, há 2.500 anos, demonstrou seu conhecimento sobre a chamada Roda do Destino, onde as posições se alternam à medida que a roda gira e onde o único lugar de estabilidade e paz (nirvana) é o centro da mesma. As vitórias anteriores (derrotar a Esfinge) não garantiram a Édipo a permanência do seu status, a continuidade da sua glória, o equilíbrio do seu raciocínio, a harmonia das suas emoções.

     O surgimento de um 10 de Espadas numa leitura de tarot, sempre levando-se em consideração a sua posição na jogada, bem como as das demais cartas, e a questão proposta pelo Consultante, pode simbolizar um momento de azar e de sofrimento. Um aviso de que a situação está para explodir sob seus pés. Medos, paranóia e pessimismo. Pesar, dor. O Consultante pode estar empregando muita energia com pensamentos destrutivos, ou mesmo, criando sua própria derrota. Reagir de maneira exagerada, extremamente dramática e muito teatral a uma situação. Um relacionamento que termina subitamente. Problemas a serem enfrentados em todas as áreas. As coisas caminham para o pior. Uma sequência de doenças inesperadas. O fim dos sonhos e das esperanças.

     Apesar de seu aspecto extremamente negativo, essa carta também pode, em determinadas situações, simbolizar o fim dos tempos difíceis, com a situação melhorando um pouco. Um sucesso temporário. Um favor recebido. O Consultante começa, vagarosamente, a sentir-se mais confiante e recomeça a sua caminhada para recuperar a força interior perdida, utilizando-se para tanto, o que aprendeu com os episódios passados. O Consultante pode ter uma pequena iluminação, uma breve revelação sobre o problema, que o ajudará a recomeçar. Pode significar uma significativa recuperação de problemas causados por terceiros. O pior já aconteceu, e para continuar o Consultante deve aceitar a sua dor, tendo o tempo como aliado em sua cura. Tal como um pássaro que sai da casca do ovo, o Consultante ainda tem que aprender (ou reaprender) a voar.

     Neste sábado, com Saturno como regente do dia e a Lua em Libra, é aconselhável que não nos envolvamos em confrontações de nenhuma espécie. Manter uma disposição mental bastante alerta e receptiva, cuidando para não cultivar pensamentos, definições ou decisões negativas, irreais ou precipitadas, conservar uma atitude equilibrada, harmoniosa, pacífica e bastante diplomática, só pode trazer benefícios, hoje e em qualquer outro dia das nossas vidas. Abra-se para o fluxo da vida e sinta a sua seiva percorrer o seu corpo!

     Um ótimo e muito esperançoso final de semana para todos!

Imagem: BOSCH TAROT, por A. Atanassov

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