sexta-feira, 14 de maio de 2010

Carta do Dia: 2 DE ESPADAS

                                                      ÉDIPO
     “Ó meus filhos, tão dignos de piedade! Eu sei, sei muito bem o que viestes pedir-me. Não desconheço vossos sofrimentos; mas na verdade, de todos nós, quem mais se aflige sou eu. Cada um de vós tem a sua queixa; mas eu padeço as dores de toda a cidade, e as minhas próprias.Vossa súplica não me encontra descuidado; sabei que tenho já derramado abundantes lágrimas, e que meu espírito inquieto já tem procurado remédio que nos salve. E a única providência que consegui encontrar, ao cabo de longo esforço, eu a executei imediatamente. Creonte, meu cunhado, filho de Meneceu, foi por mim enviado ao templo de Apolo, para consultar o oráculo sobre o que nos cumpre fazer para salvar a cidade.”…

                                         ………………………………….

                                                    CREONTE
     “Tendo sido morto o rei Laio, o deus agora exige que seja punido 0 seu assassino, seja quem for.”
                                                        ÉDIPO
     “Mas onde se encontra ele? Como descobrir o culpado de um crime tão antigo?”
                                                    CREONTE
     “Aqui mesmo, na cidade, afirmou o oráculo. Tudo o que se procura, será descoberto; e aquilo de que descuramos, nos escapa.”

                      ÉDIPO fica pensativo por um momento
                                                       ÉDIPO
     “Foi na cidade, no campo, ou em terra estranha que se cometeu o homicídio de Laio?”


“Oedipus Rex” _ Sófocles, Séc. V a.C.

  Swords02 (5)    Tebas perece assolada por uma praga que mata os animais, não permite que as mulheres engravidem, e deixa o solo estéril. A cidade definha. Enquanto aguarda o retorno de Creonte, trazendo uma mensagem da pitonisa do Templo de Apolo, Édipo recebe, nas escadarias de seu palácio, a população que, através do sumo-sacerdote, implora-lhe uma solução para o mal que os aflige. A chegada de Creonte, com a resposta do oráculo dizendo que a causa dos infortúnios é o fato de Tebas abrigar entre seus muros a presença do assassino de Laio, ex-Rei, traz um fator de agravamento da angústia vivida por Édipo. Quem é esse assassino que se esconde entre eles? Como encontra-lo e, eliminando-o, erradicar a maldição que sacrifica o seu reino?

     O 2 de Espadas é uma carta que nos mostra que estamos lidando com o isolamento. O intelecto, sozinho, pode nos conduzir a uma forma obsessiva de pensar. Nós analisamos e analisamos, uma, duas, três, muitas vezes, e não chegamos a lugar algum. Nada concluímos. Isso implica pensar que deveríamos descartar  nosso lado racional? Não. Isso significa que devemos equilibrar e integrar esse nosso lado lógico, intelectual com outras funções da consciência. Assim como precisamos de emoções para vitalizar os nossos pensamentos, nós precisamos da razão para controlar o nosso mergulho nessas mesmas emoções.

     O significado primário do 2 de Espadas é de que há algo que não desejamos ver, não desejamos nos conscientizar. E por que isso? Porque não queremos agir. Não queremos tomar uma atitude. Se não vemos o motivo do problema, nos consideramos isentos de nos responsabilizarmos por ele.  Ao saber do descontentamento e das dificuldades que seus súditos estão sofrendo, Édipo envia Creonte, seu cunhado, ao oráculo de Delfos em busca de respostas. Ele, que havia destruído com sua arguta inteligência a Esfinge, o terrível monstro que assolava com a sua presença a cidade-estado de Tebas, sente-se inapto para solucionar a crise pela qual o seu povo está passando, com a peste que agora os dizima e recorre às profecias dos deuses. 

     Essa carta nos fala de uma decisão, de uma escolha que necessitamos tomar e que, possivelmente, não estamos aptos a fazer. Isso frequentemente acaba nos paralisando, deixando-nos sem ação, imobilizados num rosário de dúvidas. É quando a mente nos falha, nos impedindo de fazer uma opção, escolher um caminho ou de imaginar uma solução que seja viável para uma determinada situação. Édipo, enquanto busca uma solução para o problema, começa a perceber que há algo mais profundo, algo mais tenebroso ligado a ele. O esclarecimento das razões que motivaram a ira dos deuses, castigando Tebas, seu reino, com a peste, vai revelar-se um convite para que ele retire as “vendas da ignorância” de seus próprios olhos e tome uma atitude ativa, participativa na ação. Ao invés de valer-se de emissários para obter respostas, ele mesmo conduzirá o processo, sendo o inquisidor implacável, o acusador irascível, o juiz, o carrasco e… o próprio culpado.

     Quando o 2 de Espadas surge numa leitura de tarot, sempre dependendo da sua posição no esquema escolhido e das cartas que o acompanham, além da questão proposta pelo Consultante, pode simbolizar que ele não deve se entrincheirar em incertezas e nem fingir-se de cego ou de desentendido. Deve procurar expandir sua visão, seus horizontes. É chegado o momento de questionar-se o quanto participa ativamente da sua própria vida. Será que o Consultante vê as coisas como elas realmente o são? O quanto ele está experimentando uma dicotomia, vítima de seu pensamento dualista? Representa uma ruptura na harmonia. O Consultante pode estar se sentindo em meio a dois fogos cruzados, no meio de uma batalha, pressionado por lados opostos.

     Já mais positivamente essa carta pode representar um período de tranquilidade, de serenidade para enfrentar as situações mais difíceis. Essa trégua em meio à batalha, esse tempo de paz e de harmonia pode possibilitar novas oportunidades de prosperar ou, então, do Consultante poder vivenciar um período muito propício ao crescimento pessoal. A paz é mais poderosa que a batalha, pelo menos nesse momento da sua vida, e o que é importante é que ele tome as atitudes corretas para que esse desenvolvimento continue. Talvez o Consulente não tenha todas as peças do quebra-cabeças mas, por enquanto, é preferível que ele deixe as coisas como estão.

     Nesta sexta-feira, dia regido por Vênus e com a Lua Nova em Gêmeos, é aconselhável que evitemos racionalizar os nossos sentimentos e com isso contenhamos uma certa agressividade. Há que buscar-se o equilíbrio, harmonizando os elementos em nós, ou seja, balancear a razão com a emoção, a intuição com a praticidade, a lógica com a espiritualidade. A meditação, a prática esportiva, o convívio revigorante com a família e os amigos, tudo pode contribuir para que estejamos alertas e aterrados,  e ao mesmo tempo vivenciando nossos sentimentos e nos reconectando com o Divino que nos habita.

     Tenham todos um dia bastante gratificante em termos de soluções práticas e de paz interior!

Imagem: BOSCH TAROT, por A. Atanassov

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