domingo, 16 de maio de 2010

Carta do Dia: 4 DE ESPADAS

                                                        ÉDIPO
     “Ora eis aí, minha mulher! Para que, pois, dar tanta atenção ao solar de Delfos, e aos gritos das aves no ar? Conforme o oráculo, eu devia matar meu pai; ei-lo já morto, e sepultado, estando eu aqui, sem ter sequer tocado numa espada... A não ser que ele tenha morrido de desgosto, por minha ausência... caso único em que eu seria o causador de sua morte! Morrendo, levou Políbio consigo o prestígio dos oráculos; sim! os oráculos já não têm valor algum!”
                                                    JOCASTA
     “E não era isso o que eu dizia, desde muito tempo?”
                                                     ÉDIPO
     “Sim; é a verdade; mas o medo me apavorava.”
                                                   JOCASTA
     “Doravante não lhes daremos mais atenção”.
                                                     ÉDIPO
     “Mas... não deverei recear o leito de minha mãe?”
                                                   JOCASTA
     “De que serve afligir-se em meio de terrores, se o homem vive à lei do acaso, e se nada pode prever ou pressentir! O mais acertado é abandonar-se ao destino. A idéia de que profanarás o leito de tua mãe te aflige; mas tem havido quem tal faça em sonhos... O único meio de conseguir a tranqüilidade de espírito consiste em não dar importância a tais temores.”
                                                     ÉDIPO
     “Terias toda a razão se minha mãe não fosse viva; mas, visto que ela vive ainda, sou forçado a precaver-me, apesar da justiça de tuas palavras.”
                                                  JOCASTA
     “No entanto, o túmulo de teu pai já é um sossego para ti!”

Édipo e Jocasta, cena de “OEDIPUS REX” _ Sófocles, Séc. V a.C.

  Swords04 (5)    Às vezes ficamos presos aos nossos pensamento dualísticos e não conseguimos nos livrar deles. A pura, simples e rígida lógica e as limitadas e tacanhas teorias não nos conseguem livrar eles. Sentimos como se estivéssemos imersos neles, prisioneiros dessas idéias conflitantes, procurando um suporte em alguma coisa que nos ajude a vermos tudo com mais clareza. Cria-se um bloqueio em nossas mentes, uma forma fixa onde sequer percebemos um sinal de movimento, nem mesmo de esperança, fé, ou qualquer sinal de espiritualidade.  Em ocasiões como essas é comum o aparecimento, nas leituras de tarot, do 4 de Espadas, indicando, prevendo ou recomendando um tempo de descanso forçado (até mesmo provocado por uma doença qualquer) que nos permita recobrar a nossa vitalidade física e mental. Que nos force a resgatar padrões saudáveis de comportamento, de reflexão, de estados de consciência, de bem estar físico e mental.

     Um retiro, uma escapada, um recolhimento interior irá permitir que reencontremos a nossa totalidade, a nossa segurança, nossa autoconfiança, nossa disposição e acuidade mental e nos livrará da estagnação em que nos permitimos ser submetidos. Todavia, devemos deixar de nos apoiar unicamente em conceitos, em modelos, em formas de pensar já ultrapassadas, caducas, e aprender que a vida pode produzir novas estruturas nos mais inesperados, ou desesperançados, momentos. Nesse sentido, o 4 de Espadas representa a criação intencional de um espaço mental protegido, onde o Consultante possa isolar-se, recolher, retirar-se do mundo (veja bem: é um recolhimento mental, não necessariamente físico) para, ficando a sós consigo mesmo, reconsiderar os fatos, eliminar dúvidas, harmonizar-se eliminando suas tensões, sua raiva, suas angústias. Um local de recuperação das energias. Uma trégua em meio à batalha. Ainda há muito a enfrentar, a aprender, a vivenciar, mas é preciso reabastecer o corpo, a mente e o espírito, para que se possa prosseguir para o próximo round.

     Com a chegada do Mensageiro, vindo da vizinha Corinto, trazendo a notícia da morte do Rei Políbio, que o havia adotado e o criado como filho, Édipo sente um novo alento, um alívio em meio ao duelo mental que trava. O homem que acreditava ser seu pai morreu de causas naturais e não pelas suas mãos, como o Oráculo havia previsto. Ele, Édipo, não era o assassino de Políbio, portanto a profecia estava errada e não se cumprira. O rei tebano sente-se aliviado, mais tranquilo. É um momento em que sua mente procura relaxar e isso é evidente no diálogo que trava com sua esposa a Rainha Jocasta (que é, sem ele ainda saber, sua mãe biológica) sobre o assunto. O argumento da rainha reforça a idéia desse abandono à própria sorte, desse submeter-se passivamente ao próprio destino, tranquilamente, sem medir forças com ele:

                                               ÉDIPO

     “De que serve afligir-se em meio de terrores, se o homem vive à lei do acaso, e se nada pode prever ou pressentir! O mais acertado é abandonar-se ao destino.”

                                         ………………………                                            

                                               JOCASTA
     “No entanto, o túmulo de teu pai já é um sossego para ti!”

Mas ainda há uma parte da profecia que o incomoda e é o fato dela ter previsto que ele, além de assassinar o pais, casar-se-ia com a própria mãe, e geraria uma prole amaldiçoada. Édipo acredita que se voltar a Corinto, incorrerá em casar-se com a viúva, a Rainha Mérope, que ele acreditava ser sua verdadeira mãe, conforme lhe havia sido dito, há tempos, em Delfos. A idéia de incesto que repugna, entretanto, numa tentativa de acalmá-lo, ou até mesmo, já considerando que aquele Rei à sua frente é seu esposo e também seu filho, Jocasta oferece uma “chave” do que hoje chamamos de psicanálise:

        “A idéia de que profanarás o leito de tua mãe te aflige; mas tem havido quem tal faça em sonhos... O único meio de conseguir a tranqüilidade de espírito consiste em não dar importância a tais temores.”

     O surgimento dessa carta numa tiragem de tarot, sempre dependendo da sua posição entre as demais cartas que a acompanham e do assunto proposto pelo Consultante, pode simbolizar uma necessidade de recuperação, de descanso, de inatividade. Uma cura física. Um tempo de restabelecimento de uma doença. Período dedicado à uma profunda meditação.  Férias.

     Dependendo, ainda, de como a leitura das cartas se desenvolve, pode simbolizar que o Consulente já está restabelecido e pronto para reassumir o comando das suas atividades normais. Livrar-se das ansiedades. Bem-estar físico e espiritual.

     Aproveite a “folga” para tratar-se, cuidando do físico com carinho, usando cremes, banhos, perfumes, tratando-se, recuperando-se através do sono, fazendo uma alimentação leve, saudável, equilibrada e permitindo-se ser bastante indulgente. Mas não deixe de meditar, procurando descansar a mente através do silêncio, permitindo que ela também se nutra e se recupere.

     Tenham todos um tranquilo e bastante regenerador domingo!

Imagem:  BOSH TAROT, por A. Atanassov

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço o seu comentário.
Em breve ele deverá ser exibido no Blog.
Namastê!