Carta do Dia: 5 DE COPAS

     Ela desligou o telefone sentindo-se traída, arrasada, tristíssima. A secretária, do escritório de advocacia onde o marido trabalhava, disse-lhe que sim, que “ a Dra. e o Dr.” viajaram juntos “para fora”. Ela ainda, aproveitando a inocência e a falta de discrição da funcionária, insistira em saber se a “Dra.” estava namorando alguém, saindo com alguém. Se o “Dr.” e a “Dra.” trabalhavam sempre juntos, se saíam para almoçar… “Sim”, respondeu a garota _ “Eles trabalham muito e estão sempre em contato. Saem com frequencia para almoçarem. Sempre fizeram isso, né… “ Ela não precisava ouvir mais nada.

     Jogou-se sobre a cama e chorou. Nem mesmo a suave brisa que vinha do mar, naquela ensolarada tarde, consegui abrandar-lhe a decepção, a angústia, a raiva, o ciúme, a humilhação. Tampouco o e-mail da empresa onde trabalhara, e da qual estava em licença por tempo indeterminado, dizendo que gostariam muito de envia-la para fazer um estágio de um ano em modelagem em Paris, conseguira diminuir seu desespero. Sua vontade era de ligar o telefone para ele nesse exato momento e pedir explicações, dizer o quanto estava decepcionada, o quantos se sentia frustrada em seus sonhos, tudo o que havia abandonado por ele. Faze-lo entender o quanto ele estava perdendo com isso tudo. Que ela não iria aguentar mais nem um minuto dessa situação. Que ele nunca, nunca, nunca deveria ter feito isso com ela.

     Saiu desse estado com o telefone tocando. Do outro lado da linha ele, preocupado, queria saber se estava tudo bem, se ela estava bem, se precisava de algo pois havia ligado para o escritório e a secretária informara-lhe da ligação dela. Ela tentou ficar o mais calma possível, mas era terrível ouvir a voz do homem que amava continuar sendo tão gentil, delicado, preocupado, e ao mesmo tempo cínico, hipócrita, traidor. Ela perguntou-lhe da “outra”. O que ela estava fazendo viajando com ele? Por que ele não lhe contara? Por que eles almoçavam juntos “todos os dias” enquanto ela estava sempre sozinha? Por que? Por que?

     Sentiu o silêncio pesado atravessar rios, mares, oceano e a voz dele, triste e firme, dizer: “Que pena que você pense assim de mim. Sinto muito saber que é assim que você me vê. Você conhece muito bem o ritmo do meu trabalho e as pessoas com as quais eu divido as responsabilidades. Isto não é lazer, não é traição folhetinesca. É trabalho, entenda.” Mas ela, em sua insegurança, imersa em ciúmes, só repetia que ela também era desejada, paquerada, querida. Que um ex-namorado havia voltado do Havaí só para vê-la. Que os amigos reclamavam da sua ausência desde o casamento. Que ela havia abandonado tudo o que mais gostava, inclusive uma carreira extremamente promissora, por ele e que essa era o pagamento que recebia. Que havia acabado de receber uma proposta para mudar-se para Paris e que estava pensando muito seriamente em aceitar, principalmente agora, em vista de tudo o que estava acontecendo. Quando desligaram ela sentia-se vazia, infeliz, sem saber se agira certo ou não. Apenas a voz dele dizendo _ “Ouça, quando eu chegar, resolvemos de vez esta situação” _ continuava a ressoar em seus ouvidos.

     Deitou-se novamente. As lágrimas, quentes e pesadas não a deixaram ver as primeiras luzes acendendo na orla, nem o sol que se escondia atrás das montanhas tingindo o céu em gamas de rosa. Chorou até dormir. Lá fora, a lua sorria indiferente, prateando o mar.

     Quando um 5 de Copas aparece numa leitura de tarot, dependendo das demais cartas que o acompanham, da sua localização no esquema escolhido e na questão proposta pelo Consultante, pode simbolizar problemas de natureza emocional devido à negligência ou indevida intromissão do Consultante. Isolamento e solidão. Necessidade do Consultante começar um processo de reorganização emocional. Momento para refletir se não seria apropriado adotar-se uma nova postura, mudar a atitude e o modo de relacionar-se com as outras pessoas. Experiências emocionais que podem ocasionar uma mudança de direção, de valores, de conduta. O Consultante pode estar cercado pelos amigos, mas eles em nada podem ajudar. Estar com o “coração partido”. Achar que tudo está perdido, evitando perceber a situação de maneira mais ampla e justa. Emoções desiquilibradas. Casamento ou relações afetivas insatisfatórias. Desesperança. Preocupar-se com o futuro e arrepender-se do passado. Planos que se desfazem no último minuto. Permitir que os outros nos tratem mal e nos façam de “sacos de pancadas”. A possibilidade de uma herança ser interditada inesperadamente.

     Dependendo da leitura das demais cartas, da situação do 5 de Copas no jogo e do sentido geral da jogada, essa carta pode significar esperança no futuro. Novos acordos ou contratos trazem benefícios notáveis ao Consultante. Ainda que tenha perdido o amor, houve uma aquisição de experiência. Amigos confiáveis vêm à auxiliar o Consultante. Começar a recuperar-se da tristeza e da depressão. Ainda que não se tenha muito, as coisas parecem ser mais do que o suficiente e muito recompensadoras. Nem tudo está perdido e há bastante com o que contar. Confiar na intuição que lhe diz que as coisas estão melhorando.

     Nesta segunda-feira, com a Lua Cheia em Capricórnio, temos uma energia atuante que nos propicia sermos mais autoconfiantes e emocionalmente controlados. É, portanto, um bom momento para nos questionarmos quais são as emoções negativas que carregamos e que nos impedem de prosseguir. Identificadas, elas deveriam ser abandonadas para que possamos nos regenerar com maior facilidade e seguirmos adiante.

     Com novas e saudáveis emoções, tenham todos um ótimo início de semana!

Ilustração: TAROT OF THE RENAISSANCE, por Giorgio Trevisan

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