_”Quando a gente ouviu na TV que os barracões estavam queimando, a gente nem acreditou. Não podia estar acontecendo aquilo, meu Deus! Minha comadre é que veio me dizer pra ligar a televisão. A gente ficou juntas, assistindo aquilo e sem saber nem o que pensar. A gente só chorava…O senhor pode imaginar o aperto no coração de ver que todo o nosso trabalho, todo o trabalho da comunidade estava perdido? Pode imaginar isso? Um ano inteiro trabalhando para, depois, ver o fogo acabar com tudo em poucas horas. Sabe, eu sou costureira e tenho o maior orgulho de ver as fantasias que eu faço desfilarem no carnaval. Minha vida toda eu trabalhei para a nossa escola e já fomos bi-campeões do carnaval. Tenho o maior orgulho. A gente é uma comunidade unida, de gente trabalhadora e que tem seu dia de glória na hora que pisa a avenida, moço. É tudo o que a gente tem para alegrar a vida… Quando a camera da TV mostrava aqueles rolos de fumaça saindo do barracão eu ficava pensando em toda aquela beleza que estava lá dentro… as fantasias, os adereços… os carros alegóricos quase prontinhos… Tudo virando cinzas, moço…Mas daí a gente foi se encontrar e ver o que dava para salvar. Muito pouco. Quase nada… Nosso presidente pediu nossa colaboração pra gente fazer o que podia para conseguir desfilar ainda este ano. Nós nem pensamos duas vezes, o senhor sabe. No dia seguinte já tava todo mundo junto de novo, trabalhando feito louco para poder dar conta de fazer este carnaval. Foi um tal de juntar um pedaço daqui, outra coisa dali, inventar umas modas, reformar alguma coisa que não tinha queimado tudo e… o senhor viu o resultado, não foi? A gente conseguiu entrar na avenida, mesmo com todas as dificuldades que a gente passou. Não foi mole não, moço… não foi não. Mas a gente conseguiu! Sabe, minha falecida mãe sempre dizia que a gente devia tirar uma lição de tudo que acontecia, mesmo das coisas ruins. Eu acho que, apesar da tristeza, do desgosto que tivemos com tudo o que perdemos naquele incêndio inexplicável, a gente aprendeu que consegue as coisas quando quer. Que a gente quando se une consegue fazer o impossível. O senhor não acha? Sabe, eu chorei muito quando a tragédia aconteceu, mas eu chorei também de muita alegria quando pisei na avenida e vi nossa escola inteira, unida, cantando nosso samba-enredo e a arquibancada se levantando para aplaudir. Foi muita emoção, moço, muita emoção. A gente pode ter perdido quase tudo, mas a gente não perdeu a coragem de começar tudo de novo! A escola estava linda! Não é mesmo, moço? _ entrevista concedida pela integrante de uma das escolas de samba que sofreram com o incêndio em seus barracões, poucas semanas antes do carnaval
Este texto foi criado em 2011 para ser postado durante os dias de Carnaval.
É apenas um exercício associativo entre os 22 Arcanos Maiores do Tarot e personagens fictícios, sempre relacionados à festa de Momo.
Na ocasião em que foram publicados pela primeira vez havia um subtítulo: "O que se ouviu durante o Carnaval", pois o exercício compreendia criar um "monólogo" para cada personagem de tal forma que, através da sua fala, pudesse ser identificado não apenas o Arcano Maior que havia inspirado a sua criação, mas algumas das possíveis características, ou interpretações, desse mesmo Arcano.
(As imagens utilizadas foram retiradas da internet e tem motivo unicamente ilustrativo, em nada comprometendo ou relacionando o texto com a conduta ou personalidade da pessoa retratada)
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