sábado, 23 de julho de 2011

CAIXÃO



CAIXÃO

Há momentos na vida em que é necessário dizer-se adeus. Assim como nossos corpos físicos, os relacionamentos, os sentimentos, os objetos materiais também têm um tempo próprio de vida que, normalmente, não é para sempre.

Desfazer-se da mobília e dos objetos que foram, durante muitos e muitos anos, o referencial de amor, proteção, de raízes, não é fácil. Ver ser levado, por mãos alheias, aquele vaso que a mãe adorava e que havia ganho em seu casamento, que mantinha sempre cheio de flores; olhar a velha poltrona de couro, já tão gasto, onde o peso e as formas do corpo do pai se deixaram ficar em baixos-relevos gravados nas longas horas de leitura; embalar a porcelana, herança dos avós, e que foram testemunhas das refeições que celebraram momentos inesquecíveis de uma família que tanto se amou. Abrir os roupeiros, ainda cheirando a alfazema, para que as pilhas de alvos lençóis com elaborados bordados encontrem novos donos; olhar as pilhas de simples caixas de papelão abrigando coleções e mais coleções de livros que ainda conservam observações feitas com uma caligrafia miúda e rebuscada...

Vou-me despedindo, agradecido, de cada peça, olhando-as pela última vez. Mas o que se vai, deixando a casa vazia aos poucos, são registros materiais de vidas plenas, vividas em intensidade. Sobram as memórias, mais vivas do que nunca, que não necessitam do objeto para existirem, pois estão impregnadas na mente e eternizadas na alma deste escrevinhador.

Alex Tarólogo
www.elementosdotarot.com.br

Um comentário:

  1. Quando a gente se identifica com um texto, da forma como me identifiquei com o seu, fica difícil fazer outro comentário além de: te entendo. Perfeitamente.

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