quinta-feira, 8 de abril de 2010

Carta do Dia: O JULGAMENTO

Julgamento      Quando, pelas manhãs, ouço na TV uma determinada apresentadora dizendo  “Acorda, menina! Acorda, menino!” não consigo deixar de pensar no Arcano XX do tarot, o Julgamento. Esse “acordar para a vida”, “despertar do sono da noite” tem tudo a ver com a “chamada” para a vida, a trombeta que o Anjo faz soar anunciando um novo amanhecer.

     A alegria de viver, como uma parte integrante do simbolismo do Arcano XIX, o Sol, ancora-se firmemente na psique em forma de um encorajamento e despertar de novos sentimentos. Independente da situação na qual nos encontremos, sentimos uma profunda gratidão para com a vida e uma sensação de plenitude muito grande. Porque conseguimos entender a linguagem e fazer com que nosso inconsciente (a Lua) e o nosso consciente (o Sol) se harmonizarem, nos transformamos em algo parecido com aquele brinquedo infantil chamado “João Bobo”: um boneco inflável que, não importa quantas vezes o derrubemos, ele sempre volta à sua posição vertical original. O mesmo ocorre conosco, pois quanto mais conscientes estivermos das nossas dificuldades, dos nossos instintos, dos nossos obstáculos, das nossas escolhas inapropriadas, das nossas próprias verdades, da nossa “sombra”, mas facilmente lidamos com elas à luz da razão, do raciocínio lógico, mais rapidamente nos recompomos, restaurando, não só nosso equilíbrio emocional, mas reerguendo nossa estrutura material. 

     O sentimento de completude libera um grande potencial interno de energia fazendo com que, embora saibamos que como humanos devemos continuar a trabalhar sempre em nós mesmos, percebemos como lidar mais efetivamente com nossos complexos e problemas. Isso permite que os nos nossos talentos latentes venham à tona, cada vez menos dominados pelos complexos em nosso inconsciente. Percebemos isso, no nosso cotidiano através de mudanças positivas que podem ocorrer nas mais diversas áreas das nossas vidas, desde uma promoção no trabalho até uma mudança radical de pontos de vista político, por exemplo. Mas não é só exteriormente que essa vivência do Julgamento acontece. Dentro de nós há um processo transformador acontecendo há muito e o que vemos como mudanças exteriores já vem sendo fermentado o tempo todo, abaixo da superfície, sem que tenhamos plena consciência disso. O Julgamento representa uma ressurreição no sentido em que podemos interpretar essa fase como uma vitória sobre o sono (um ensaio da morte)  que nos impede de associarmos as recordações do passado (nossa memória)  com a nossa consciência do mundo (lógica e razão).

     Estive relendo, no site da Associação dos Alcoólicos Anônimos (A.A.) os chamados 12 Passos, um auto-de-fé, um manual de ajuda espiritual no controle dessa  doença crônica que é o alcoolismo e a reencontrar-se como pessoa, dona de sua própria vontade. Creio que, independente da doutrina que qualquer pessoa siga e pratique, esses “passos” vêm comprovar a necessidade de recorrermos à ajuda espiritual, ou seja, à união da vontade humana com a vontade do nosso Divino interior, em diversas situações da nossa vida quando precisamos de uma chance de recomeçar, de renascer. É o consciente agindo em comum acordo com o inconsciente.

     Permiti-me fazer comentários estritamente pessoais (em cor negra) correlacionando esse caminhar com a viagem do Louco, Arcano O (nós mesmos, em nosso estado mais puro, mais instintivo, mais inocente), através das cartas do tarot. Evidentemente inúmeras outras conotações com outros Arcanos podem e devem ser feitas pois um dos grande fascínios do tarot é que nele nada “é” (definitivo), mas tudo “pode ser”, dependendo das circunstâncias, das questões abordadas, das demais cartas e do tipo de jogada, além da experiência pessoal de vida de quem realiza a leitura.

OS DOZE PASSOS 

  • PRIMEIRO PASSO:
    Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.
     
    (a abdicação do controle, tornar-se dependente, prisão: Diabo, Arcano XV) 
  • SEGUNDO PASSO:
    Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.
    (libertação através do colapso de velhas estruturas favorecendo a aceitação de uma nova realidade: a Torre, Arcano XVI)
  • TERCEIRO PASSO:
    Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos.
    (renunciar ao controle e alterar as prioridades: o Pendurado, Arcano XII)
  • QUARTO PASSO:
    Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.
    (necessidade de saber a verdade a qualquer custo: o Eremita, Arcano IX)
  • QUINTO PASSO:
    Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.
    (reconciliar-se com a admissão de erros, esclarecer e aceitar a verdade: o Sol, Arcano XIX)
  • SEXTO PASSO:
    Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.
    (chegar ao ponto nevrálgico da questão e permitir o fim de um velho ciclo: a Morte, Arcano XIII)
  • SÉTIMO PASSO:
    Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
    (transmutação, cura e purificação: a Temperança, Arcano XIV) 
  • OITAVO PASSO:
    Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.
    (restabelecimento da harmonia e aceitação das responsabilidades: a Justiça, Arcano VIII)
  • NONO PASSO:
    Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem.
    (tomar o controle da situação agindo com equilíbrio, honestidade e perseverança: o Carro, Arcano VII)
  • DÉCIMO PASSO:
    Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.
    (autoconhecimento, coragem, força: a Força, Arcano XI))
  • DÉCIMO PRIMEIRO PASSO:
    Procuramos através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós e forças para realizar essa vontade.
    (inspiração, autoconfiança, fé: a Estrela, Arcano XVII)
  • DÉCIMO SEGUNDO PASSO:
    Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades.
    (abandono de velhos valores e adoção de novos princípios: Julgamento, Arcano XX)

A lista acima foi copiada (cor azul) do site dos Alcóolicos Anônimos

     Podemos observar na grande maioria de representações dessa carta do tarot que ela é “coletiva”, é uma carta que se refere a uma transformação de consciência que é, muitas vezes, interdependente de uma conscientização de um grupo e um passo em direção da percepção de que fazemos parte de um todo maior, que é a nossa natureza divina. Portanto, a carta do Julgamento diz que essa iluminação interior, esse ressurgir das cinzas não é apenas algo pessoal mas afeta a todos os demais.  Em outras palavras, a minha recuperação, minha regeneração, meu renascer também depende muito do seu, de você que está me lendo neste momento. Estamos todos juntos nisso.

     Podemos também ver nessa carta um chamado para sairmos de um estágio limitado, castrador de vida para a descoberta de um patamar mais alto. É, portanto, um toque de despertar para uma conquista espiritual. Exemplificando: considere como é difícil, para muitos, levantar-se pela manhã. Sim, claro que há milhões que levantam de suas camas de um salto, completamente despertos e já prontos para o dia. Mas estou me referindo àqueles que necessitam de algum tempo para irem de um estado de limitação de consciência (sono) a um outro, mais amplo (acordar). Todos os dias essas pessoas tem essa oportunidade, e todos os dias elas decidem por acordarem e viverem mais um dia. Numerologicamente o Julgamento, carta de número 20, pode ser reduzida a 2 (20 = 2+0 = 2), que significa escolha, dualidade, polaridade, opção. A ressurreição proposta por essa lâmina é inteiramente dependente do ressuscitado ouvir e, sobretudo, reagir (tomar uma decisão, optar), ao chamado da trombeta do Anjo, escutar a voz do Divino que habita em seu interior. Essa libertação que obtemos da prisão do nosso ego só pode ser obtida através do amor, da esperança e da fé que depositamos  ao apelo desse chamado.

     O Julgamento, numa leitura de tarot, dependendo sempre da questão proposta pelo Consulente e das demais cartas que a acompanham, além da sua posição na jogada, pode simbolizar a chegada de um tempo de colheita daquilo que foi plantado; de viver as consequências de ações, da falta de agir e das ações tomadas de maneira errada. Pode significar, em alguns casos, um despertar para a mediunidade, uma intuição bastante exaltada ou, mais comumente, uma vocação. Também telefonemas, mensagens, chamados, convites podem ser interpretados na leitura desse Arcano. Libertação de situações diversas, renascimento, reestruturação e perdão fazem parte do processo de esclarecimento e novas oportunidades simbolizados por essa carta. Como é uma carta que fala em atividades feitas em grupo, reencontros, reuniões, grupos de ajuda e família também devem ser levados em consideração.

     O aspecto negativo do Julgamento pode ser visto na posição de “obstáculo” numa jogada de tarot, referindo-se à recusa ou dificuldade de regenerar-se, recuperar-se, libertar-se. Sentimentos de culpa, estados mórbidos, incapacidade de perdoar, inclusive a si próprio, amargura, solidão, recusa ou dificuldade ao convívio social, fazem parte do lado “sombra” desse Arcano, que também pode representar estar doente, sofrer de surdez, ter dificuldade de comunicação, perda de memória, Alzheimer, estar ou sentir-se preso. Carma é um assunto relacionado com o Julgamento e que pode ser considerado numa leitura.

     Plutão é o planeta da transformação, regeneração, eliminação, transmutação assim como do renascimento. O lema desse planeta é “Fora com o velho e faça lugar para o novo”. Plutão recria e destrói. É o planeta da mente inconsciente, da nossa relação com os mistérios, com o divino, com o religioso, com os dogmas, com a fé. É o divã do analista. O seu glifo, ou representação gráfica, é o crescente da alma pairando acima da cruz da matéria, encimada pelo espírito. Simboliza a descida do espírito através da alma até alcançar a matéria, e também a mente inconsciente passando pelo fogo da transformação.

      Júpiter é o regente desta quinta-feira, como estamos em Áries, estamos sob uma grande energia no sentido de crescimento, até de maneira obstinada. Apesar das emoções ficarem bem imprevisíveis, a Lua em Aquário favorece as atividades em grupo e também a enfrentar obstáculos e encarar mudanças. quando a Lua, em seu Quarto-Minguante, está na casa de Aquário.  e a afinidade astrológica da Carta do Dia é o Julgamento. Plutão nos fala do ciclo concepção, nascimento, morte e renascimento e talvez seja a hora de nos apercebermos que somos, também, seres espirituais tendo um “sonho (Maia) que é essa nossa experiência material. De maneira muito equivocada, tememos ter que morrer fisicamente, abandonar nossos corpos, essas “caixas” onde o espírito habita, para podermos vivenciar nossos aspectos mais sutis. Temos apenas que nos permitir ouvir, sentir vibrar dentro de nós a voz que nos chama para essa elevação e nos erguermos movidos por ela, para que  integremos espírito e corpo, de maneira tal que sejamos novamente unos e possamos ressuscitar, espiritualmente, para uma vida mais plena.

     Tenham todos uma excelente e promissora quinta-feira!

Imagem: TAROT NAMUR, por Prof. Namur Gopalla e Marta Leyrós (Academia de Cultura Arcanum)

2 comentários:

  1. muito bom sua análise parabéns.

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  2. Ola, adorei sua previsoes. vc tb faz mapa astral? muita paz e luz pra ti....Rosana Soares

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