sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Carta do Dia: 7 DE OUROS

    minor-pentacles-7small Minha irmã recebeu de herança, quando seu marido faleceu, uma fazenda. Ela, que via naquele bonito pedaço de terra uma parte do seu amado, da vida que viveram juntos e dos sonhos que haviam construído, decidiu preservá-la e dar continuidade às intenções que ele tinha com aquele imóvel. Da noite para o dia ela passou a fazer cursos, contratou técnicos, visitou feiras agro-pecuárias pelo país inteiro, ingressou em sindicatos, recebeu convites de fabricantes de fertilizantes, de produtores de sementes, propostas de arrendamento, de parceria, trocou de administrador algumas vezes, esperou pacientemente que o filho mais velho se formasse em agronomia, viajou para a Índia para conhecer matrizes de algumas espécies de gado, frequentou leilões, aprendeu sobre novas tecnologias e equipamentos. Enfim, quando menos se esperava, ela já era considerada uma expert no assunto.

     Acompanhei de perto as suas expectativas, a cada estação, pelos resultados da colheita. A alegria dos lucros obtidos após o extenuante serviço de arar a terra, adubar, semear, irrigar, cuidar que as ervas daninhas não sufocassem o crescimento das espécies e que as condições climáticas fossem favoráveis. E depois, a chegada de caminhões carregados de mão de obra contratada especialmente para a colheita, os chamados “bóias-frias” (há dois filmes americanos sensacionais sobre esse tema: “A Leste do Éden” e “Cinzas no Paraíso”), e o trabalho sem horário para terminar, dia e noite, de colheita. E, como se não bastasse, a eterna preocupação com a flutuação dos preços desses produtos, considerados essenciais, na bolsa de mercadorias.

     Bem, isso quando tudo dava certo. Não foi nem uma, nem duas vezes que a vi chorando após uma geada ou uma seca que lhe destruia as plantações, os sonhos e desafiava as suas esperanças. Empréstimos bancários, com garantias de safras futuras, eram devidos mas… cadê a safra? O solo árido, o gado magro, os funcionários desanimados, a necessidade de novos investimentos para que, uma vez mais, se apostasse nas benesses da Natureza, na benevolência da Mãe-Terra, na cooperação da calota de ozônio, na eficácia de inseticidas que não fossem prejudiciais ao meio ambiente. Ou então, a angústia de ter de se decidir por um outro tipo de cultivo, de abandonar todo um planejamento previa e conscientemente realizado e investir em algo diferente, novo, que ainda que contivesse possibilidades e prometesse uma reversão nos revezes, não era garantia alguma de sucesso. Ou então, confrontar-se com as opiniões de familiares, amigos, conhecidos, e vender a propriedade aplicando o dinheiro neste ou naquele empreendimento, considerados sempre muito mais lucrativos e de fácil manejo. Encruzilhadas em que se via, ou era atraída pelo destino, onde tinha que assumir uma postura, defendendo uma posição ou cedendo ao que pareciam serem evidências incontestáveis e mudar.

     Todas as vezes que um 7 de Ouros (Pentáculos, Moedas, Discos, Pedras, Diamante) surge numa leitura, lembro-me dela, da fazenda, e do verdadeiro legado do meu cunhado: a descoberta de saber-se preparar para os embates da vida, utilizando para tanto todos os seus recursos pessoais, aprimorando-os, fazendo grandes investimentos materiais e emocionais, aprendendo com os ciclos da Vida, integrando-se com as estações e os tempos da Natureza, andando em conjunto e aprendendo a ouvir a terra, o som da vida germinando e nunca, nunca, desesperar-se. Nunca perder essa conexão, essa harmonia com as forças cósmicas materialmente reproduzidas naquele hectares de terra.

     Paciência foi o que eu aprendi ao observar a sua luta diária. A necessidade de compreender e aceitar que há um tempo determinado para tudo, que não adianta “colocar o carro à frente dos bois”, pois o resultado será sempre prematuro. É a paciência da mulher grávida que sente a vida se desenvolvendo dentro de si e sabe que tem que aguardar pacientemente para que aquele ciclo se complete no tempo correto. É a sensação que temos, depois de termos trabalhado muito e investido toda a nossa capacidade, chegando ao ponto que nada mais de nosso podermos acrescentar, saber que temos que, pacientemente, aguardar, pois o desenvolvimento está nas mãos dos outros ou do próprio destino.

     Às vezes o 7 de Ouros nos fala que é chegado a época da colheita e, com ele, o momento de avaliarmos os resultados. Será que o investimento em material, esforço, determinação e tempo compensaram os resultados obtidos? Será que valeu realmente a pena a nossa dedicação? É tempo de mensurar o nosso progresso. Podemos senti-lo lento e que o potencial do nosso planejamento ainda não foi totalmente desenvolvido ou explorado, porém as recompensas foram ganhas de forma honesta, ainda que não tenham sido as pretendidas. Talvez seja o momento de reavaliamos, lógica, objetiva e destemidamente o que poderemos fazer de diferente da próxima vez e implantarmos uma nova política de trabalho, de conduta, de ética, de estrutura, investindo em novos equipamentos, recursos, informações. Talvez, este pequeno quinhão que agora recebemos seja apenas o prenúncio de uma série de melhores compensações a longo prazo. É preciso manter a clareza mental, a objetividade, estar disposto a mover-se através de diferentes estágios de aprendizagem e tempos de desenvolvimento, mantendo sempre a determinação e o foco.

     Quando essa carta aparece numa leitura de tarot, dependendo de sua posição no esquema e das cartas que lhe são próximas, além da questão aventada, pode também significar estar-se desnecessariamente preocupado com dinheiro, perigo de maus investimentos, perder coisas de valor, gastos, pobreza, falência, escravidão, não emprestar e nem pedir emprestado, impaciência, estagnação, insegurança em relação aos seus talentos ou habilidades, extrema depressão, saúde ruim, enfrentar os problemas consciente de suas reais importâncias, lenta recuperação, aparecimento de novas oportunidades, conhecimentos de pessoas interessantes, optar por qual caminho seguir, ouvir conselhos de pessoas experientes, viagens, tempo de crescimento e espera.

     Não há fracasso passado que não possa ser vencido com o trabalho árduo e a vontade de superação. Lembre-se de viver, intensa e inteligentemente, um dia por vez, permitindo que os eventos se sucedam ao seu próprio tempo. E, como um tema para reflexão neste dia, o 7 de Ouros sugere que se medite sobre o fato de que a para obtermos a felicidade, e uma bela colheita, devemos semear o amor através de atos de bondade, paciência, resignação e compaixão.

     Tenham todos um excelente e produtivo dia!    

Imagem: OSHO TAROT

2 comentários:

  1. Alex, suas palavras serviram muito para mim hoje!Te agradeço, pois às vezes a gente se depara com as inconsistências e inconguências do caminho e se não tivermos uma visão superior e focarmos no que o universo espera de nos, ao invés de ouvir o que as pessoas esperam de nos, corremos o risco de sucumbir ao facil ao invés de perceber que a vida é a superação do obstaculo por excelência com o proposito de aperfeiçoarmos. Obrigada e um grande abraço.

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  2. O seu texto ficou muito muito bonito e bem escrito.

    Sugeriu uma bela reflexão, além de destrinchar a carta em vários significados, usando um exemplo claro de como o Arcano pode funcionar.

    Parabéns!

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