sábado, 6 de fevereiro de 2010

Carta do Dia: REI DE ESPADAS

  Swords14 (2)    Recentemente, no edifício onde moro, um senhor com mais de 80 anos, sozinho, foi convidado a mudar-se pelo não pagamento de aluguéis, taxas, condomínios atrasados. Esse ser humano, que ainda hoje trabalha dignamente numa profissão que não lhe é rentável e que não lhe permite pagar um plano de saúde, sofreu, há alguns meses, um enfarto e as suas poucas economias e empréstimos feitos de financeiras e conhecidos, serviram apenas para pagar cirurgia e tratamento, deixando-o não só numa condição de saúde ainda bastante precária, mas também completamente descapitalizado para cumprir com seus compromissos financeiros. As normas da lei se fizeram sentir, através de notificações legais de despejo e de ações relativas às normas estabelecidas pelo condomínio e, por fim, o referido senhor foi colocado, literalmente, na rua. Sim, pois sem parentes, sem amigos, sem dinheiro, sem saúde para voltar ao trabalho e, inclusive sem o seu próprio material de trabalho, que foi usado por ele para quitação de algumas dívidas, para onde ir e o que fazer?

     A estória é triste e não vou pretender ignorar que ela não se repita todos os dias em algum ponto de todas as cidades do mundo. Muitas delas lemos nos jornais, assistimos em breves flashes de TV. Algumas, porém, acontecem na porta ao lado à nossa.

     Nesta manhã, quando o Rei de Espadas surgiu como a Carta do Dia, imediatamente me ocorreu o fato de que muitas das situações que nos utilizamos como salvaguardas da moral, da justiça, da ordem, da organização social e política do mundo em que vivemos, situações essas que nos garantem direitos e nos obrigam a cumprirmos com nossos deveres e darmos satisfações de nossos atos, que coíbem situações de abuso, que nos permitem a sensação de termos uma certa segurança ou, de pelo menos, termos a quem recorrer, são por vezes tão inumanas, em seu sentido mais espiritual.

     Cérebro e coração nem sempre andam juntos, no mesmo compasso e eu concordo que muitas vezes isso não pode mesmo acontecer. Usei há alguns dias uma frase do médico e guerrilheiro “Che” Guevara que dizia da necessidade de nos fortalecer, mantermos uma postura racional, um distanciamento ético e moral, uma firmeza de caráter, uma bandeira idealista,  porém sem nunca perdermos uma certa brandura, a compaixão, o respeito, a compreensão para com os nossos semelhantes ou situações. Ou seja, nunca perdermos a nossa condição de seres humanos.

     O Rei de Espadas é o arquétipo perfeito da pessoa que se orienta exclusivamente pelas sua inteligência (quase sempre brilhante), sua intensa capacidade de raciocínio e de lógica, sua maneira de guiar-se, a si mesmo e aos outros, de de parâmetros, regras, normas pré-estabelecidas. Portanto ele é visto, e muitas vezes sentido, como uma pessoa fria, calculista, distanciada, autoritária, perversa, sádica, esnobe. Alguns dos papéis que a ele atribuimos em sociedade são os de juiz, advogado, promotor, político, estrategista, militar, legislador, conselheiro, executivo, auditor, cientista, cirurgião, securitário, analista de sistemas, agente de serviços de Inteligência governamentais, contador, engenheiro, calculista, policial, segurança. Enfim, todos esses profissionais que usam da razão, do planejamento detalhado, da imparcialidade , da capacidade de julgar completamente isento de influências, de analisar, discriminar e escolher de formar clara, tática e controlada as ações, as decisões, os métodos a serem empregados, a normas a serem criadas e vivenciadas. São fiéis seguidores, cada um em seu campo de atuação, da metodologia científica, onde o objeto primeiro da investigação é a causa e o seu efeito.

     Evidentemente que todos são iguais perante a lei e que as mesmas são feitas para serem usadas e aplicadas por todo uma mesma sociedade, sem exceções. Não estou discutindo isso e nem pretenderia. O que me chocou, no exemplo acima, foi a própria maneira clara, objetiva, imparcial, rígida, impessoal, indiferente, que muitas vezes toda essa lógica justifica-se e se vale para fazer-se cumprir. Como um ser humano comum, e como tarólogo, sendo portanto um eterno aprendiz de tudo o que diz respeito ao equilíbrio de forças, de ações, de atitudes, de comportamentos, de energias, sinto a falta de um elemento, a emoção, nessa estória toda. Mas como o assunto deste blog pretende ser o tarot, e os exemplos, as citações, as referências, devem sempre ser ilustrações práticas daquilo que as cartas representam, deixe-me voltar à nossa carta que, por ser a última do seu naipe (as cartas vão de Ás, até o Rei), ela é a representação máxima do elemento Ar (Espadas = Ar = Mental), e por isso mesmo refere-se à lógica, à agilidade mental, à precisão, à responsabilidade.

     Quando, numa jogada de tarot, dependendo do lugar que ocupa, das cartas que o cercam, da maneira como será interpretado (gente, situação, consulente) e da pergunta formulada, o Rei de Espadas pode estar sugerindo que através de uma atitude bastante diplomática, usemos a nossa capacidade de expressão para defender nossos valores, nossas verdades, deixando muito clara a nossa posição a respeito de qualquer coisa ou assunto que se faça mister. Pode, também, ser um aviso para que reavaliemos as situações, identificando o que é ilógico ou inconsistente, não funcional ou ineficiente. Que a nossa mente está desconectada do coração e que devemos procurar sempre manter a harmonia, equilibrando a disciplina com a compaixão, usando para tanto a nossa experiência de vida, o nosso conhecimento técnico e a nossa determinação para tomarmos as decisões certas. Há também a possibilidade de ser um aviso de que devemos nos libertar de restrições e condicionamentos que nos mantém presos a rotinas e pontos de vista já há muito caducos e sem sentido. E, num sentido mais épico, o Rei de Espadas pode ser um sinal para que lutemos por nossas idéias, nossos ideais, objetivos e projetos, pois agora é o tempo certo.

     Ainda que a sua figura seja bastante paternalista, e de um bom marido, romanticamente o Rei de Espadas não promete muito, pois ele não se prende e nem se deixa prender a relacionamentos interpessoais, apesar de ser sexualmente bastante ativo. Ele é um paladino da justiça, da decência, de princípios rigidamente estabelecidos (ainda que possam não coincidirem com os das demais pessoas…) e seu interesse pelas pessoas está muito mais concentrado no coletivo, nas causas humanitárias. Não é um cético, mas também não é uma pessoa muito espiritualizada, sempre necessitando de comprovações concretas, de verdades insofismáveis, de resultados práticos e bastante esclarecedores para poder acreditar e, até mesmo, defender uma filosofia qualquer.

     Muitas vezes autoritário, dominador, tirânico, rude, briguento, questionador, impaciente com as falhas alheias, arrogante, sádico ou cruel, deixa-se cativar por qualquer manual de instruções, adorando ler e decifrar todas as informações neles contidas. É aquele tipo que não usa o produto antes de se tornar um expert (teoricamente falando) no mesmo. Quer agradá-lo? Elogie-o. Valorize seus conhecimentos, sua capacidade mental, seu raciocínio brilhante, seu desempenho no xadrez, seu discurso convincente, sua palestra impecável, suas aulas fascinantes e enriquecedoras, sua astúcia e seu manancial de teorias. Outra maneira de satisfazê-lo é obedecendo-o, pois a sua palavra é lei, o que ele decide não deve ser contestado e sua experiência é sempre inquestionável. A inteligência costuma ser o mais rapidamente identificável elemento da sua personalidade e o seu reino (afinal de contas, ele é um Rei, quase um Imperador!) é a mente, as teorias, a ciência. Com a fria e afiada lâmina de sua espada de aço ele constrói o seu mundo e nele desenvolve os seus padrões e adapta o seu código moral. Pena que, muitas vezes, ele acaba se esquecendo que a lógica também é como uma espada e que aqueles que exclusivamente dela vivem acabam a ela sucumbindo…

     Aproveitem para, neste ensolarado sábado, integrarem seu coração à sua mente, criando sua própria realidade através de uma mente desvencilhada de ”pré-conceitos”, assumindo plena responsabilidade pelas formas de pensamento que criarem e pelo poder mental que exercem. Expressem o que vêem e o que sentem, compartilhando suas visões, esperanças e sonhos. Saiam para dançar e deixem que também através do seu corpo se  manifestem as verdades que lhes são fundamentais.

     Um excelente sábado para todos!

Ilustração: TAROT DE DALI

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