Conheço muito bem essa figurinha carimbada que saiu hoje como a Carta do Dia. Já vivi muito as suas energias, algumas vezes me saindo bem, noutras nem tanto. Sou Aquariano e meu elemento é o Ar, portanto o naipe de espadas tem muito a ver comigo e posso falar dele com certa experiência de causa.
Esse cavaleiro, como todos os cavaleiros do tarot, representa alguma forma de movimento e o de Espadas é o das tempestades cerebrais. Isto é, tudo acontece no plano da mente, do intelecto, do raciocínio analítico, quase sempre desprovido de sentimentos, mas movido por avassaladoras paixões temporárias por alguma causa, idéia, crença, fantasia.
Ele tem características muito próprias e facilmente identificáveis: sabe aquele amigo que, mesmo errado, mesmo sem grande conhecimento de causa, defende com unhas e dentes, numa verdadeira avalanche de argumentos suas opiniões a respeito de algo? Isso tudo com muita segurança, usando de todos os possíveis e improváveis argumentos, rebatendo e contra-argumentando qualquer outra proposta ou visão, de maneira apaixonada, exaltada, visionária e, na pior das hipóteses, fanática. Então, se você consegue imaginar e relacionar essa pessoa entre os seus conhecidos você tem ou já teve contato com um fiel representante da corte de Espadas e, mais precisamente, o seu mais ousado, intrépido, sagaz, destemido, valente e combativo personagem.
É aquele indivíduo que quando abraça uma causa, uma nova idéia, tem uma nova proposta ou encontra uma nova meta, nada o segura. Absolutamente nada ou ninguém o detém e nem ele mesmo pára para pensar se na sua busca, na sua batalha pessoal, está atropelando e ferindo os outros. Ele não consegue ver nada além daquilo em que, naquele momento, ocupa inteiramente a sua mente e se tornar a sua razão de existir. Para ele, muitas vezes os fins realmente justificam os meios.
Quando essa carta sai numa tiragem ela nos alerta para o fato de estarmos vivendo um momento muito propício para estabelecermos novas prioridades e objetivos, planejarmos a maneira de alcança-los e partirmos para a sua conquista ou realização. É o prenúncio de um período de novas buscas, do abandono de velhos interesses e do surgimento de motivações criativas, desafiadoras e instigantes. Pode também, é claro, estar nos alertando para a chegada em nossas vidas de uma pessoa com essa característica de uma mente brilhante, uma fascinante capacidade de comunicação, mas no fundo bastante insensível a respeito dos interesses ou sentimentos alheios. Romanticamente poderíamos exemplificar com a figura de um Don Juan: pertence apenas a si mesmo e suas paixões são avassaladoras mas verdadeiros “fogos de palha”, nada duram. Haverá, para ele, sempre algo novo e diferente a ser conhecido, aprendido, conquistado. Ele chega a galope, passa mas não apeia da sua montaria. Pelo menos não o tempo necessário para estabelecer raízes.
A psicologia costuma definir essa personalidade como puer eternum, ou seja, a eterna criança, aquela pessoa que no fundo, no fundo, teme as responsabilidades e portanto fica pulando de galho em galho: dedica-se completamente ao estudo de uma filosofia, compra todos os livros, faz contatos em todos os fóruns afins na internet, estabelece redes de amigos, abre sites a respeito, inscreve-se em cursos, seminários, viaja para congressos a respeito, é convidado para dar palestras a respeito, come e dorme vivenciando e explorando cada vez mais profundamente aquele seu interesse. Até que um dia, quando já está bastante conhecido pelos demais interessados, quando suas opiniões são respeitadas, citadas e o seu tão aguardado livro a respeito já está negociado com a editora ele simplesmente desaparece para ser encontrado queimadíssimo de sol, cabelos parafinados, pegando onda no Havaí!!!
São pessoas que precisam constantemente de novos estímulos, de sempre estar vivendo em ritmo de aventura, de não criar vínculos de responsabilidade com uma única idéia ou por uma única causa até mesmo porque os conflitos, as ambivalências, as dualidades e o constante fluxo de idéias além da necessidade de mudança e movimento lhe são vitais. Seu único compromisso real é com suas idéias, sua filosofia, seus pensamentos daquele e naquele momento e com eles criar uma estrutura na qual passa a basear as suas verdades pessoais.
Quem de nós nunca cruzou com alguém assim? Uma pessoa que no seu entusiasmo, na sua desenvoltura, na sua autoconfiança, na sua altamente flexível imaginação, na sua ansiedade e objetividade acaba nos inspirando uma profunda impressão. Mas devemos estar alertas para a sua “sombra”, aqueles aspectos da sua personalidade que não são de todo ideais, lembrando que ele é movido pelos ventos da novidade, pelo fogo da paixão, do estímulo do momento, dedicando-se de corpo e alma, mas abandonando tudo para trás, num verdadeiro caos, numa incompletude de resultados assim que seu interesse diverge para algo novo, diferente.
O Cavaleiro de Espadas representa, também, o nosso talento para acompanharmos as mudanças que a vida e os nossos interesses nos propõe. Nossa adaptabilidade e defesa das nossas crenças, dos nossos sistemas, da nossa filosofia. A maneira turbulenta, volátil e rápida com que ele “voa” pelo mundo das idéias e pela vida é a sua proteção contra a monotonia de um cotidiano sem graça, previsível, sem perspectivas, sem riscos, sem paixão e fé. Talvez nesse seu movimento, nesse seu incansável e inesgotável fluir de idéias, análises, interesses, experiências e avaliações ele acabe ampliando a própria visão do que é a existência e do quanto ela tem para nos oferecer e… pode haver experiência mais arrebatadora?
Bom dia!
show
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirIncrível, Alex seu blog é o melhor que trata do assunto.
ResponderExcluirUma descrição perfeita, em que pese lamentável (no caso da tiragem de cartas que fiz). Parabéns pelo blog!
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