domingo, 3 de janeiro de 2010

Carta do Dia: O DIABO

 devil É até bastante interessante, e porque não dizer, apropriado, o Diabo ter saído, nesta ensolarada manhã dominical, como a Carta do Dia. Sem querer ser ofensivo a ninguém e a nenhuma religião, culto ou seita, o Diabo é uma figura assaz interessante, intrigante e sedutora. Se assim não fosse, quem se deixaria levar para os seus domínios?

O cinema americano há pelo menos 2 décadas acordou para o fato de que a representação pictórica que fazia do Diabo estava errada: uma figura repugnante, irritante, antipática, feia ao extremo. OK, ele é tudo isso, mas a “embalagem” estava errada. Quem seria tão tolo de deixar-se encantar por algo tão desagradável, tão primitivo, tão sem charme ou encantos? Então, subitamente, e como todos podemos confirmar nas novas produções, o Diabo assumiu (pelo menos nas telas) a sua melhor forma: jovem, perspicaz, absolutamente sedutor, hipnoticamente belo, fascinantemente inteligente, divertido, agradável, sensual… E, dessa maneira, ele vai arrebanhando os seus seguidores, criando seus elos de dependência total, atraindo cada vez mais para um mergulho em nossa própria escuridão.

Se Deus, sob qualquer denominação ou expressão religiosa, é considerado a Luz, a Verdade absoluta, o esclarecimento total, a completa integração com o Universo (com a divindade), o Diabo é o seu contraponto: uma espiral que nos leva ao mais escondido, ao mais profundo, ao mais temeroso, mais profundo de nós mesmos. É tudo aquilo do que nos envergonhamos e que procuramos manter encoberto, escondido, temendo nos confrontarmos.

Esse arcano, quando sai numa leitura de tarot, é indicativo de diversos aspectos a serem melhor examinados por quem consulta as cartas: suas dependências, obsessões, seus segredos, sua submissão, seu abuso de poder, sua compulsividade, sua falta de prazer,  de satisfação, de entusiasmo, de alegria.

O Diabo é a carta que representa toda forma de desiquilíbrio, especialmente aquele que escolhemos fazendo uso do nosso livre-arbítrio: é trabalhar exaustivamente, sem necessidade, apenas por não conseguir viver sem o trabalho; é passar o dia todo (ou quase) a maioria dos dias da semana, numa academia, em busca de um ideal meramente estético; é o comer ou beber compulsivamente, como se houvesse uma necessidade premente e interminável de satisfazer-se; é o fazer sexo maquinalmente sem desfrutar, sem obter ou proporcionar qualquer tipo de prazer; é o apegar-se a uma idéia, de forma cega, sem raciocina-la nem discuti-la e muito menos abrir-se para outras opções; é acostumar-se a um relacionamento, ou qualquer situação, desagradável, por preguiça, comodismo.

E, como em tudo, há sempre um outro lado, um outro ponto de vista que deve ser verificado, explorado, vivenciado e o mesmo acontece com esse arcano. Não podemos viver sem ambição, diversão, prazer, individualidade, inteligência, sedução, sexo, etc O que devemos evitar é nos escravizarmos aos extremos dessas necessidades tornando-nos egoístas, perversos, abusivos, tiranos, manipuladores, egocêntricos, displicentes, insatisfeitos.

A Igreja há muito listou o que ela considerava, então, os Vícios (pecados) Capitais, ou seja, as mais evidentes formas de afastamento de Deus, de repúdio ao divino que em nós habita: avareza, gula, inveja, preguiça, ira, luxúria e soberba. Parecem poucos, não é mesmo, mas ainda hoje abrangem tudo o que soterramos (ou tentamos) dentro de nós. Aceitarmos essas características instintivas, encarando-as sem medo, dispostos a reequilibra-las, é o caminho para a nossa libertação pessoal. Aliás, de o Diabo é considerado “o rei das mentiras” (ele é o que hoje chamaríamos de “fake”) então deveríamos dar mais atenção ao princípio cristão que estabelece: “A verdade vos libertará”

Pensem a respeito e tenham um ótimo e harmonioso domingo!

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