sábado, 9 de janeiro de 2010

Carta do Dia: O HIEROFANTE

     05-Major-Hierophant3 Estávamos conversando, recentemente, sobre modas e modismos, tendências, novidades eletrônicas, formas de pensar e agir, autores e cantores que fizeram parte do nosso crescimento há algumas décadas. Gente de quem nem mais ouvimos falar, ou porque já morreram ou desapareceram na enxurrada de novas mídia, de novos rostos.
     Todo mundo fazia análise, todo mundo queria ir para a Índia, todos tinham lido tudo do Castañeda, alguns já frequentavam grupos místicos, outros iam para a região de Brasília fazer contato com seres de outros planetas e, sem dizer, de todos os artistas que estavam, naquela época, na mídia, e que saíam entortando garfos, facas, tampas de leite Ninho ao mero gritar de um “Rá”!
     Deixei a reunião com uma certa nostalgia por uma época que pretendíamos estar “por dentro” de tudo, absolutamente conectados com o nosso eu mais profundo, analisadíssimos, resolvidíssimos, conhecedores de todas as filosofias e praticantes da modalidade espiritual em destaque naquela semana. Um gosto de “TV Mofo” na boca.
     Passei as semanas seguintes rememorando o encontro com aqueles velhos amigos e pensando em como todos nós, a todo o momento, buscamos orientação. Pensando na nossa infindável curiosidade, na nossa angústia por nos conhecermos melhor e obtermos algum sentido para nossas vidas. Às vezes vamos a extremos, e muitos nunca voltaram dessa “viagem”. Noutras épocas parecemos meio sedados pelos acontecimentos práticos do dia a dia e nem prestamos muita atenção sobre a forma que vivenciamos o espiritual em nossas ações mais corriqueiras.
     O Hierofante, nossa Carta do Dia, nos fala dessa nossa ligação ente o divino (e inclua aqui a sua própria noção de divino, por favor) e a maneira como conduzimos nossos afazeres, agimos em sociedade, relacionamos com nosso grupo, estabelecemos vínculos, formalizamos compromissos, mantemos nossas tradições, nos comportamos nas mais diversas situações.
     O Hierofante é o nosso mestre interior. Aquele professor, ou melhor dizendo, aquele doutor em todas as ciências, que habita dentro de cada um de nós. É a voz da nossa consciência, a nos lembrar o que é certo ou errado, mesmo que nunca tenhamos tido algum tipo de educação filosófica formal. Ele existe dentro de nós, e basta. O seu nome significa “o portador dos objetos sagrados, dos objetos de culto”. Em alguns tarots é chamado de Papa, Sacerdote, Alto Sacerdote, sempre buscando relacionar o seu simbolismo com a nossa necessidade de conectarmos nosso ser terreno com o divino, com a força da nossa fé, com nossa conduta ética, com nossos aspectos de religiosidade, com nossa incessante busca pelo que é, de verdade, importante. É o procurar saber o que Deus (e aqui, também, coloque o nome ou visualize a forma que melhor traduza o seu conceito do que  as pessoas chamam por Deus) quer e espera de nós.
     Claro que nessa busca de compreensão, muitos se tornam pragmáticos, se expressando através de dogmas, completamente “cimentados” dentro de preceitos exclusivos de uma única filosofia, doutrina, religião, seita, etc. Inflexíveis, vendam-se para as possibilidades de discussão com absoluto pavor de perderem o pouco de conhecimento (ou de iluminação) que obtiveram. Tornam-se duros consigo próprios e verdadeiros juízes e carrascos com todos os demais. Mas esse é o lado “sombra” do Hierofante, o seu lado negativo, o seu oposto que, afinal de contas, acaba evidenciando suas reais qualidades: a ética, a bondade, a sabedoria associada à emoção, o conselheiro moral, o professor, o analista.
     Creio que como a maioria dos meus amigos reencontrados naquela reunião, eu ainda continuo em minha busca e sei que ela não tem fim, pois não há uma verdade única, estabelecida e imutável. Como todos sabem, “quando o aluno está pronto, o Mestre aparece”. A cada etapa da minha vida senti necessidade de esclarecer, experimentar e meditar sobre esse Deus que eu sei morar dentro de mim e de cada um de nós, e a melhor forma de reconhece-lo e a ele permanecer conectado. Vive grandes crises espirituais, senti-me perdido, sem razão de ser, mas a cada vez algo de extraordinário surgia na forma de um novo conhecido com um outro olhar, uma outra maneira de ver; uma nova leitura, um novo filme, uma palestra assistida assim, por acaso, mas que reacendia minhas fé.
    No cotidiano, esse arcano aparece, muitas vezes na figura daquele médico que nos resgata perdidas esperanças e a vontade de viver e lutar; no professor que nos amplia as possibilidades de conhecimento através de discussão e de recursos adequados; no advogado que transformar nossas justas causas em justas causas em favor de todos, onde a Justiça é obtida através de seus mais éticos preceitos e julgamento; no cartorário, que através de contratos, carimbos, selos e assinaturas formaliza no plano legal e material o primeiro documento da nossa existência terrena como cidadão, os nossos contratos, as nossas sociedades, as nossas uniões, os nossas últimas vontades, o registro do fim de nossa vida neste plano; no sacerdote, pastor, orientador espiritual, mestre, guru que pacientemente nos ouve e nos ajuda na obtenção do mais difícil dos perdões, o do nosso próprio tribunal, para que possamos prosseguir; do psicanalista que além de nos ouvir contar inúmeras vezes nossa própria história e nossas angústias, nos persuade a descobrirmos dentro delas nossa própria essência e verdades a serem enfrentadas e aceitas por nós mesmos; daqueles avós carinhosos que, através da manutenção de rituais e tradições que, algumas vezes, nos parecem tão antiquados, tão fora de moda, nos reconectam com nossas raízes estabelecendo vínculos com os aspectos culturais da sociedade em que vivemos.
     Portanto, no dia de hoje, procure estar atento às oportunidades de aprender uma nova lição, viver uma nova experiência e dela retirar algo para a sua evolução pessoal. E, por sua feita,procure transmitir algo de sua própria vivência para alguém, sem ser impositivo ou arrogante na sua possível sabedoria, mas com amor, com benevolência e paciência. Lembre-se que o Hierofante, em seu aspecto mais positivo, é aquele que nos governa pelo coração e não pela força.
     Tenham todos um ótimo final de semana!
Imagem: INSTANT IDEAS TAROT DECK

Um comentário:

  1. A carta do grande Hierofante mostra que, com sabedoria, amor, desejo de conciliar , pode-se resolver os conflitos e dificuldades entre pessoas e tudo mais. Sendo assim, ele vai tentando harmonizar, conciliar, fazer acordos e no final sempre consegue unir a todos, inclusive unir casais que estavam em conflito e afastados.
    O grande hierofante mostra as pessoas que tem conhecimento e que podem ajudar e orientar os outros, como , por exemplo, os tarólogos.

    ResponderExcluir

Agradeço o seu comentário.
Em breve ele deverá ser exibido no Blog.
Namastê!