Durante muitos anos me senti frustrado nas minhas tentativas de meditação, sozinho ou acompanhado de um mestre, porque nunca conseguia atingir aquilo que sempre me pareceu o propósito mais básico dessa prática: o silenciar da mente. Um estado que, para mim, era de um absoluto vazio, um não pensar total, uma total ausência de formas, cores, ausência de lembranças, paralisia completa. Quanto mais eu tentava esse vazio absoluto, mais minha mente me atormentava com verdadeiros tsunamis de pensamentos desconexos. Frustração total.
Como alguém controla a sua mente? Como alguém controla o inexorável fluxo de pensamentos? Como você decide o ritmo ou as condições do que pensar, se a simples opção por uma forma de pensamento já significa a construção mental daquela que lhe opõe?
O Ar é elemento que associado ao raciocínio, às elaborações que a nossa mente cria, surgindo do nada, impalpável, às vezes brisa suave, nos transportando a lembranças alegres, a projeções de sonhos a serem um dia realizados. Noutras, verdadeiros tornados, nos trazendo fortes e arrasadoras emoções e reações, momentos obsessivos, raiva incontida. Tudo isso criado nesses poucos centímetros cúbicos que abrigam nossa mente de dimensões universais.
O Ás de Espadas, como todos os ases, significa começo. É sempre o símbolo de uma idéia que parece surgir do nada, do Grande Vazio, e que, dada a devida atenção e circunstâncias favoráveis, poderá se desenvolver num plano completo e perfeitamente realizável. O pensamento é um poder, uma primeira elaboração de um desejo concretizável. Digamos ser ele uma maquete invisível de algo que queremos, desejamos, temos vontade ou, mesmo, tememos, venha a se realizar. Não é um fim e sim mesmo, mas o germinal de algo extremamente poderoso.
Vivemos a energia dessa carta quando temos uma boa idéia, quando idealizamos algo ou inventamos uma nova forma de lidar com alguma situação. A dona de casa que cria uma nova receita, o aluno que escreve de maneira sensível e coerente uma redação escolar, o artista que depois de horas de considerações refinando uma idéia, opta por uma combinação de cores, um tipo de técnica e executa um trabalho artístico de valor. Quando, depois de longos meses consultando diversos prospectos de viagens optamos por uma que venha a suprir ao máximo os nossos interesses, ou mesmo quando agimos com justiça, honestidade e clareza ao resolvermos uma pendência legal, na elaboração de um contrato, numa partilha de bens.
O símbolo da Carta do Dia é, hoje, a espada, com seus dois gumes, a nos lembrar que os nossos pensamentos, a nossa razão, nossa lógica, nossa inteligência pode ser usada tanto para o bem (paz) ou para o mal (sofrimento). Faltando uma dose de intuição à lógica ela pode acabar distanciando-se da realidade, e com isso nos levando pelos caminhos da pura fantasia obsessiva, das confusões mentais, da ansiedade, raiva, negatividade. Se lhe faltar compaixão, estaremos lidando com uma força altamente destrutiva, arrogante, juiz e carrasco numa só pessoa. As cartas do naipe de Espadas nos remetem, quase sempre, à idéia de conflitos, até mesmo porque nossa mente é um grande campo de batalha, um grande laboratório onde idéias são testadas, onde dúvidas, anseios, esperanças e desilusões são vividos em pé de igualdade. Onde novas idéias chocam-se com outras mais antigas e, até que essa energia transformadora se manifeste, maiores ou menores lutas são travadas.
Num sentido simplesmente de predições, o aparecimento do Ás de Espadas, dependendo de sua localização e das cartas que o acompanham, pode também significar, ferimentos, cirurgias, internações hospitalares, estados depressivos, esgotamento nervoso, autoridade, busca da verdade, facilidade de comunicação. Aliás, vemos na comunicação o uso mais concreto da energia de Espadas, especialmente quando sabemos que as palavras ferem muitas vezes mais intensamente que as ações. Fofocas, malidicências, mentiras, sugestões inapropriadas podem ser, literalmente, fatais, acabando com relacionamentos, carreiras e, até mesmo, a própria vida. Por outro lado, lembremos sempre da frase que inicia o Gênesis: “No princípio era o Verbo, e o Verbo era Deus”. Deus, o Criador, como palavra (Logos = a palavra de Deus). A palavra, expressão de uma atividade inteligente, tem o poder de criar, de dar forma e sentido. De trazer luz ao caos.
Voltando ao início deste texto, devo dizer que hoje, com muitos anos de prática continuada, eu entendo que meditar não é fechar uma torneira ou estancar um rio de pensamentos e idéias, mas deixá-los fluir livremente, sem apego, sem análise, sem utilizar aquele tempo para desenvolver novas idéias ou debater antigas. Deixar as imagens passarem, como num filme que você assiste na TV, mas sem estar prestando a mínima atenção. É manter a mente em estado de alerta, mas silenciosa, procurando nessa não-discussão, nessa aceitação, nesse desapego, procurar compreender o que eu realmente quero da vida, educando-a a ser mais receptiva, mais contemplativa, sem cair no fácil engôdo das ilusões ou alucinações.
Hoje promete ser um dia para deixarmos de lado o medo do novo, experimentando novos caminhos, outras maneiras de realizarmos determinadas funções, procurando sermos claros em nossos pensamentos, analisando ambos os lados de uma mesma situação e, melhor ainda, dividindo-a em partes para examinarmos cada aspecto com bastante lógica. Mas, tudo isso, sem perder contato com a nossa emoção, com a nossa intuição, com os nossos sentimentos. E, se uma frase bastante conhecida pode ser relida sob uma nova luz, aqui vai:
“Hay que endurecer-se pero sin perder la ternura jamas”. Ernesto “Che” Guevara
Tenham um excelente dia e início de final de semana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradeço o seu comentário.
Em breve ele deverá ser exibido no Blog.
Namastê!